Conheça Domingos Antônio Cardoso, colonizador português que ajudou a fundar Arraias (TO), Cavalcante (GO) e Monte Alegre (GO)

Vila Boa, hoje cidade de Goiás, antiga capital do estado.

Domingos Antônio Cardoso foi uma figura histórica significativa na colonização e administração da região de Goiás, no Brasil, durante o final do século XVIII.

Enviado pelo reino de Portugal, o capitão-mor Domingos Antônio Cardoso desempenhou um papel crucial no estabelecimento e desenvolvimento das atividades econômicas e administrativas da região norte e nordeste da província.

Ele é ancestral deste jornalista, pai do Brigadeiro Felipe Antônio Cardoso, notável morador de Arraias e dono da Fazenda Sumidouro ( que reunia 13 fazendas), hoje em Monte Alegre de Goiás.

O brigadeiro Felipe Cardoso é avô do meu bisavô paterno, Felipe Nery dos Santos.

Histórico

Domingos Antônio Cardoso veio de Portugal, mais especificamente da região de Lamego, no norte do país.

A região é conhecida por sua rica história e cultura, e muitos de seus habitantes emigraram para o Brasil durante o período colonial em busca de novas oportunidades e riquezas, especialmente durante o ciclo do ouro.

Ele foi enviado a Goiás durante o reinado de D. Maria I, em um período marcado pela busca de maior controle e organização das regiões coloniais do Brasil.

No tempo em que Portugal ainda era uma das maiores potências europeias, e dona de várias colônias, inclusive o Brasil, D. Maria I se tornou a primeira rainha de Portugal e Algarves de 1777 até 1815, e posteriormente, Rainha do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves a partir de 1815 até sua morte, em 1816.

A data provável da chegada do capitão-mor no Brasil é 1763, cerca de 30 anos depois que acharam ouro e diamante em Niquelândia, Arraias e Cavalcante.

O jovem português desempenhou um papel significativo logo após a fundação de Niquelândia (São José do Tocantins), em 1735, e estava envolvido na exploração mineral e na administração colonial em Goiás durante o século XVIII.

Ganhou da rainha Dona Maria I uma terra na região com cerca de 10 léguas por 6 léguas de área (uma légua é cerca de 5 km), onde fundou e passou a mora no Engenho Sumidouro, que hoje fica no município Monte Alegre de Goiás, há poucos quilômetros da cidade de Campos Belos (GO), nas imediações do Rio Montes Claros.

Contribuições e Atividades:

  1. Administração e Organização:
    • Cardoso foi responsável por implementar medidas administrativas que ajudaram a organizar a exploração mineral e a arrecadação de impostos. Sua atuação foi fundamental para estabelecer uma estrutura administrativa que permitisse um controle mais eficaz sobre a produção de ouro.
  2. Desenvolvimento da Infraestrutura:
    • Sob sua liderança, foram realizados esforços para melhorar a infraestrutura local, incluindo a construção de estradas e a criação de sistemas de abastecimento que facilitassem o transporte e a comunicação entre as regiões mineradoras e os centros administrativos.
  3. Relações com a População Local:
    • Domingos Antônio Cardoso também teve que lidar com questões relacionadas aos direitos e à convivência com os indígenas e os colonos portugueses. Seu papel envolvia mediar conflitos e garantir a implementação das políticas da Coroa Portuguesa na região.

Legado:

Domingos Antônio Cardoso é lembrado como um administrador eficiente que contribuiu significativamente para a consolidação da presença portuguesa em Goiás.

Embora não haja uma abundância de detalhes biográficos sobre sua vida pessoal, sua atuação na administração colonial de Goiás é reconhecida como parte importante da história da região.

Ele representa os esforços da Coroa Portuguesa em maximizar a exploração dos recursos do Brasil, enquanto tentava manter a ordem e o controle em suas colônias distantes.

Arraias, Niquelândia e Cavalcante

Domingos Antônio Cardoso é reconhecido por ter chegado no início da vida de Niquelândia (GO), originalmente chamada de São José do Tocantins, em 1735.

Ele foi um dos pioneiros na exploração das minas de ouro na região e teve um papel fundamental na criação e desenvolvimento da cidade, que mais tarde se tornaria uma das mais importantes no estado de Goiás devido à mineração.

A fundação de Niquelândia foi parte de um esforço maior para expandir a colonização e a exploração dos recursos naturais no interior do Brasil.

A cidade de Niquelândia se destacou não só pela mineração de ouro, mas também pela produção de níquel, que se tornou uma atividade econômica importante na região.

Cavalcante

Cavalcante foi fundada em 1740 e, assim como outras regiões de Goiás, foi significativamente influenciada pela corrida do ouro.

Domingos Antônio Cardoso esteve envolvido na exploração das minas de ouro na região, contribuindo para o desenvolvimento e a consolidação da localidade como um centro de mineração.

A presença e a administração de figuras como Cardoso ajudaram a estabelecer a infraestrutura necessária para a extração do ouro e a organização das comunidades locais.

Arraias

Arraias, fundada em 1736, também foi uma região de destaque durante o ciclo do ouro.

Domingos Antônio Cardoso também desempenhou um papel semelhante em Arraias, promovendo a exploração mineral e a organização administrativa. Lá tinha um sobrado, onde mais tarde foi residência de Felipe Cardoso, que entrou para o quartel na cidade como cabo do Regimento Real.

Sua atuação ajudou a estruturar a produção de ouro e a garantir que os interesses da Coroa Portuguesa fossem atendidos na região.

Morreu em 1819, aos 85 anos, no Engenho Sumidouro. Estava aos cuidados dos filhos Brigadeiro Felipe e Honorata Maria.

Foi nessa mesma fazenda, na então Arraias, que nasceu toda a linhagem do Brigadeiro Felipe com Joana Crisóstomo Amado da Silva.

Descobriu a navegação de Goiás até o Grão-Pará

O capitão-mor Domingos Antônio Cardoso também foi muito importante ao Governo de Portugal no quesito navegação, porque foi ele quem descobriu os caminhos fluviais de Goiás para a província do Grão-Pará, que dava acesso ao mar e ao oceano.

Em 15 de outubro de 1802, por exemplo, ofício do governador e capitão-general do Estado do Pará e Rio Negro, D. Francisco de Sousa Coutinho mandou uma carta à rainha, por intermédio do secretário de estado da Marinha e Ultramar, o Visconde de Anadia, o D. João Rodrigues de Sá e Melo, cópia do capitão Domingos António Cardoso, sobre a navegação e comércio da capitania do Pará com a capitania de Goiás.

Veja a primeira carta original

Veja a segunda carta original

Leia a íntegra das correspondências das províncias com a Corte, em Portugal, traduzida por Deusdedith Rocha. Foi mantida a grafia do português original da época.

“Copia da Carta que neste Porto atingio o Cap.m Domingos Cardozo, do Arrayal de Cavalcante. Sobre a descoberta da navegação do Rio Paraná (Paranã).

Il.mo e Ex.mo Snr. Tenho a honra de pôr na Respeitavel Presença de V. Ex. a ter conseguido pôr em pratica a nunca pensada navegação do Rio Paraná, fazendo em principio de Outubro passado Subir dois Botes do Porto do Pontal no Rio Tocantins, ou Maranhaõ com a equipaçaõ de trinta Indios, e moradores daquele Porto, debaixo da direção do Sargento das Milicias Joaquim d’Oliveira Sanches, pratico na navegaçaõ para essa Cidade, estas as primeiras em barcaçoens que do Rio Maranhaõ passaraõ para cima da Barra do de Manuel Al.z, e com doze dias entraraõ na do Paraná, pelo qual subindo chegaraõ com vinte e trez de viagem a do Rio das Almas, distante deste Arrayal oito légoas em altura de treze graos e meio, encontrando muitas cachoeiras, e correntezas.

A esta altura tinha mandado aprotar [sic] huma Canoa, e o ffeitas com que a carregar, e aos Botes na intensaõ de que logo descessem, o que se me dificultou por ser atacada toda esquipaçaõ de rigorozas Sezoens, que até o prezente tem grassado; e como vejo deminuirem as agoas, as faço sahir com a Carga de pelles de Veado, Sola, Algodaõ, Toucinhos, Carnes Secas, e outros Mais effeiros do Paiz.

Nesta tentativa me animou a esperança de conseguir a benefica proteção de V. Ex.a pois naõ tendo nessa Cidade conhecimentos, dificultados pella Longitude, seraõ frustrados os meos esforços, se V. Ex.a se naõ dignar atendelos: eles poderaõ animar aos meos vizinhos a cultura de generos, que exportados venhaõ a ser o remedio das suas neçessidades.

O Conductor he o mesmo Joaquim d’Oliveira, e em auzencia Jozé Bezerra debaixo do Despacho do meu Exmo. General. Felicito o çeo a Pessoa de V. Ex.a por tantos annos, quantos dezejaõ os que tem conhecimento dos interessantes merecimentos de V. Ex.a = Arrayal Minas de Cavalcante 6 d’Abril de 1802 = Ilmo. e Exmo. Senhor Governador e Capitam General, Dom Francisco de Souza Coutinho = Humilde Servo, e muito obediente = Domingos Antonio Cardozo

Portaria deste Governo

O Secretario do Governo chame á Secretaria dele os Individuos incumbidos da Expediçaõ Mercantil de que se trata, haja delles informaçaõ exacta sobre as circumstançias desta navegaçaõ tanto ao subir, como ao descer, e da importançia dos effeitos que por meio dellas se podem extrahir: Chamando outro sim, Jozé Correia, e outros que estejaõ na Cidade moradores de Goyazes para verificar a exaçaõ do que se referir, e depois de tudo me aprezente informaçaõ sua individual sobre tudo quanto respeite a taõ importante objeto, naõ omitindo examinar e declarar as circunstançias de quem me dirigio esta Carta. Pará 21 de Agosto de 1802 = /.

Estava a Rubrica de S. Ex.a.  /. InformaçaõExaminando os tres Sujeitos imcumbidos da Expediçaõ Mercantil, que ultimamẽte chegou da Capitania de Goyazes a esta Capital sobre o que S. Ex.a me ordena em Portaria de 21 do corrente, disseraõ que havendo soliçitado o Capitaõ de Caval- laria de Milicias Domingos Antonio Cardozo o mais bem estabelecido e acreditado Lavrador no Arrayal do Cavalcante, que actualmente Comanda, a hum delles o Pratico Joaquim d’Oliveira Sanches para subir com dois Botes do Porto do Pontal pellos rios Tocantins e Paranà até á barra do das Almas, que dista 8 legoas do mencionado Arrayal, assim o praticará em o mez de Outubro do anno proximo passado, gastando na viagem 35 dias; a saber, 4 ao Rio de Manoel Al.z, cuja navegação hé conhecida, 8 deste ao Paranà distançia, porque só desçeraõ as Canoas de Felix de Moura, e da expediçaõ da Re[cluta?], de que foi Pratico Thomaz de Souza Villa Real, este sahindo de Capim puba no Rio [Ohurú {Uru?}], e aquelle de S. Felix, em que apenas ha huma Cachoeira de bom Canal denominada o Tropeço, que fica hum dia abaixo ao dito Paranà, e 23 da foz deste nunca dantes navegado ao Porto das Almas, appareçendo em toda a sua extensaõ somente alguns Secos por terem diminuido as agoas, e voltando com os dois Botes, e huma Igarité que alli havia mandado construir o sobredito Capitaõ, o 1º de 500, o 2º de 200,e a ultima de 150 arrobas carregados por conta do mesmo de Carne Seca, Touçinho, Guajos {perus}, Sola, Peles de Viado, Pano de Algodaõ e Rolos de Tabaco, no mez de Abril do corrente anno por cauza das Sezoens, que attacaraõ as Equipagens, a insufficiencia destas e das agoas fez que pusessem 37 dias a chegar ao Pontal, dos quaes dispenderaõ 32 no sobredito Rio Paranà pelo já referido motivo dos Secos sem outra novidade.

Das averiguaçoens que fiz pelos mesmos e por differentes Pessoas, que estiveraõ naquella Capitania, soube que alem dos Effeitos accuzados podem ser objeto de exportação Assucar, a Aguardente de Cana, o Algodaõ, em rama, e o Café, e ter-se transferido de S. Felix a Caza de Fundiçaõ para Cavalcante por este Arrayal ser equidistante a outros muitos que o çercaõ, vãtagem esta que necessariamente ha de influir muito no Comerçio, e na Lavoura, sahindo da inação em que por falta de transportes se achaõ presentemente, alem de que a prosperidade e opulençia em que vai acentar este Arrayal debaixo dos indefectiveis auspicios de V. Ex.a naõ poderá deixar de despertar os outros, que ficaõ quazi sobre a marge do Rio Tocantins ou Maranhaõ, dele[?] largo em que existem, aproveitando a mais façil commoda e saudavel Navegaçaõ, que este Rio lhes offereçe, e com ella os meios de intimidarem e pôrem de páz o Gentio Canoeiro, que cruelmente tem infestado as suas margens, restabelescẽdo-se, e mesmo aumentando-se considravelmente as Fazendas de Gado e Engenhos por ele destruidos. Estas saõ as notiçias que pude alcançar, e com que tenho a honra de informar a V. Ex.a, que sabiamente providençiará promovendo a feliçidade dos atenuados Habitantes da Repartiçaõ do Norte da mencionada Capitania sem detrimento antes com utilidade deste Estado, e Gloria de V. Ex.a. Pará 26 de Agosto de 1802 = Valentim Antonio Oliveira e Silva -/. Resposta deste Governo á Carta Súpra. Reçebi a Carta de S. M.ce de 6 de Abril e com muita satisfaçaõ a Noticia que me comunica da importante disoberta que procurou, e conseguio para vantagem sua, e desses Póvos. A Real Prezença de Sua Alteza o Principe Regente Nosso Senhor fico deremeter Copia de sua dita Carta para lhe ser prezente, taõ importante Serviço, e se dignar remunerar a V. M.ce como for Servido. Espero que S. M.ce naõ só haverá de fazer continuar esta prinçipiada navegaçaõ e comerçio mas que fará quanto fôr possivel porque de semelhante benefiçio partecipem os Povos desse Destrito. Deus G.de a S. M.ce m.os an.s. Pará 27 d’Agosto de 1802 = Dom Frãcisco de Souza Coutinho = Snr. Domingos Antonio Cardozo =/. Valentim Antonio de Oliveira e Silva (sinal).”