Complexo do Alemão: Tropa de Elite influencia, espiral do silêncio é quebrado, mídia muda de lado

 
“Vítimas do Sistema”


Capitão Nascimento, um novo heroi nacional
Policiais civis no Tropa de Elite real


















Por Dinomar Miranda 

A invasão do Morro do Alemão, no último fim de semana, pode ser considerada uma continuação do filme Tropa de Elite, uma nova versão do cineasta  José Padilha e do competente ator Wagner Moura.

Os ingredientes estavam todos lá: BOPE, Caveirões, favelas, defensores dos direitos humanos, traficantes e mídia ao vivo 24 horas.

Apesar da realidade ser bem mais complexa e mesmo que alguns torçam o nariz, a verdade é que o filme Tropa de Elite contribuiu sobremaneira para a tomada do Complexo do Alemão.

O filme foi um divisor de águas.

Quando a primeira versão de tropa de elite surgiu, com os berros ensurdecedores do Capitão Nascimento,  logo uma gritaria pipocou em jornais, televisão e na mídia em geral.

Eram os patrulheiros ideológicos de plantão.  Sim, eles existem.

Tacharam o filme de fascista, de fazer propaganda da polícia violenta e dos métodos de tortura usados pelos policiais.

Os patrulheiros ideológicos dominaram a cena ao longo de décadas. 

No cinema brasileiro, os bandidos sempre foram os mocinhos e a polícia sempre o lado mal que deveria ser derrotado.

 “Pixote” , “Carandiru”, “Cangaceiros” e “Bandido da Luz Vermelha” são quatro bons exemplos.

Com o sucesso estrondoso do filme, com mais de 20 milhões de assistência (Tropa 1 e 2), a sociedade civil  e até mesmo as autoridades mudaram o modo de como viam as coisas.

Com Tropa de Elite, bandido se tornou bandido e polícia, polícia.

Houve uma inversão de papéis, antes arraigado no cinema.

A chiadeira dos ideológicos foi suplantada pela multidão, que parou e foi ao cinema assistir aos filmes.

Mas, a mais espetacular mudança  de paradigma ocorreu  na cobertura jornalística. 

É verdade.

Tropa de Elite contaminou a mídia.

No estudo da comunicação, há uma teoria denominada “espiral do silêncio”, proposta pela pesquisadora  alemã Elisabeth Noelle-Neumann, na década de 60.

Resumidamente, no quesito opinião pública, as pessoas tendem a não revelar a sua opinião  quando verifica que a grande massa de opiniões no ambiente em que ela vive é divergente.  

“Penso de uma maneira, mas não exponho o que penso, simplesmente para mão ser recriminado ou discriminado”.


Assim parece ser nas redações da grande mídia. 

A cobertura jornalística, nas questões policiais, sempre foi com o enfoque dos filmes.

A polícia era o  aparelho repressor do estado e os  bandidos as vítimas do sistema.

E isso acontecia porque reinava nas redações a opinião daqueles velhos “líderes de opinião” que representavam os patrulheiros ideológicos, de todas as matizes, inspirados  quase sempre no pensamento marxista da escola de Frankfurt.

Quem pensava de maneira diferente não ousava expor as suas convicções.

Tinha medo. Eis o efeito do espiral do silêncio.

Veja  o que ocorreu neste fim de semana.

Passei o tempo todo ligado nas emissoras abertas e na Globo News, que transmitiu o tempo todo  “o filme do Alemão”.

Das dezenas de pessoas entrevistadas, não vi uma única voz dos direitos humanos ou daquelas pessoas que aparecem nessas horas para defender  as “vítimas do sistema”.

Mas eles estavam presentes.

O deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL-RJ) ,  que inspirou o personagem Diogo Fraga, de Tropa de Elite 2, um deputado que consegue êxito nas urnas por causa da militância em defesa dos direitos humanos, estava no contexto das operações no morro do Alemão.

Como no filme, ele estava atuante e  participou no sábado das negociações na tentativa de conseguir a rendição dos traficantes isolados no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro.

Para evitar um banho de sangue, o deputado Marcelo Freixo conversou com o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, com lideranças das favelas do Alemão e com o coordenador do AfroReggae, José Júnior, que esteve com traficantes para que os criminosos se entregassem.

“Como Fraga, Freixo é professor de história, militante dos direitos humanos, conquistou mandato de deputado do Rio em razão dessa militância, comandou uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigou as milícias no estado e, ao longo do tempo, passou da condição de “defensor de bandido” – pecha que sempre recai sobre quem defende os direitos humanos – para ser uma referência no trato com a violência carioca”, assinala o jornal o Estado de Minas. 

O deputado foi o segundo mais votado na disputa pelo Legislativo do Rio. Conquistou a reeleição com 177 mil votos

Desta vez as vozes dele e de outros ideológicos foram caladas.  

A grande imprensa e, por fim,  a “ opinião pública” estavam do lado do aparato do estado, que neste fim de semana era o libertador.

E mais, a grande operação só se realizou porque os dirigentes políticos sentiram o clima político propício, logo na quarta-feira. 

Com a mídia a favor, todos quiseram tirar proveito.

As autoridades viram que o risco era pequeno, que não seriam acusados de torturadores ou detratores dos direitos humanos.

Ao contrário, virão que seriam tratados como herois.

Logo, o impossível  aconteceu.

Forças Armadas, Polícia Federal e, imagine, Polícia Civil e Polícia Militar cariocas, eternas rivais, se juntaram numa grande coesão para o bem.

Assim, o filme de José Padilha pode ser considerado como uma das grandes causas da mudança de comportamento da mídia, das autoridades, das forças de segurança e da opinião pública.

Não foi a única, mas a principal.

Contribui para a mudança de atitude.

Bastou a mudança de comportamento, do romantismo exacerbado que protegia os reais bandidos para um pensamento realista e prático.

Nas palavras da Globo, o Rio Contra o Crime, o bem contra o mal. 

Neste filme, ao menos nesta batalha,  venceu o bem. 

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