Lula concede entrevista exclusiva a blogueiros
Texto do “O Escrevinhador”, da Revista Carta Capital, que participou da entrevista.
A dinâmica da entrevista não foi a ideal, certamente.
Mas era a única possível: só uma pergunta por entrevistado, sem possibilidade de réplica, para que os outros blogueiros pudessem perguntar também (em coletivas “convencionais”, repórteres brigam pelas perguntas, atropelam uns aos outros muitas vezes; os blogueiros combinaram de agir de outra forma).
Além disso, faltaram as mulheres (só Conceição Oliveira entrou, via twitcam).
Fizeram muita falta.
Mas o importante é registrar o fato histórico: blogs sem ligação com nenhum portal da internet foram recebidos pelo Presidente da República numa coletiva hoje cedo, no Palácio do Planalto.
E os portais tradicionais (quase todos) abriram janelas na capa para transmitir a entrevista – ao vivo.
Não sei se os leitores têm dimensão do que isso significa: quebrou-se o monopólio.
Internautas puderam perguntar, via twitter.
O mundo da comunicação se moveu. Foi simbólico o que vimos hoje.
A velha mídia vai seguir existindo.
Ninguém quer acabar com ela. Mas já não fala sozinha.
Ao contrário: Estadão, UOL e outros ficaram ligados na entrevista com o presidente.
Entrevista feita por blogueiros que Serra, recentemente, chamou de “sujos”.
Os sujinhos entraram no jogo…
Foi só o primeiro passo. Caminhamos para a diversidade.
O que é muito bom.
Quanto ao conteúdo, importante registrar que Lula anunciou: quando “desencarnar” da presidência (expressão repetida várias vezes durante a coletiva), vai entrar na internet. “Serei blogueiro, serei tuiteiro”.
O presidente deixou algumas questões sem resposta.
Não explicou de forma convincente dois pontos: por que Brasil não abre arquivos da ditadura? E porque Paulo Lacerda foi afastado da PF e da ABIN depois da Satiagraha?
Sobre esse último ponto, Lula chegou a dizer: “Tem coisas que não posso dizer como presidente da República.“
Hum… Frustrante. O mistério ficou. Paulo Lacerda contrariou quais interesses?
Os blogueiros não perguntaram sobre Reforma Agrária.
Falha grave.
Nem sobre saúde.
E sobre política externa ninguém falou; felizmente, Lula desembestou a falar sobre o tema (mesmo sem ser perguntado), contando um ótimo (e divertido) bastidor sobre as conversas dele com o líder iraniano.
Natural que muitas perguntas tenham se concentrado na questão das comunicações.
É essa a batalha que move os blogueiros.
Mas ainda bem que surgiram também outros temas, como Direitos Humanos, jornada de trabalho, fator previdenciário, Judiciário, composição do Supremo.
Numa coletiva para a velha mídia, a pauta certamente seria diferente. Haveria mais perguntas sobre a composição do ministério de Dilma, sobre guerra cambial.
Mas aí seria uma coletiva da velha mídia.
Papel dos blogueiros foi trazer outros temas ao debate.
Poderíamos ter feito melhor, sem dúvida.
Da próxima vez, deveríamos debater melhor a composição da bancada de entrevistadores.
Fiquei um pouco frustrado, também, porque havia a promessa de uma segunda rodada de perguntas. Mas não houve tempo.
Parte do jogo.
Importante é que esse canal está aberto.
Tentei, durante a entrevista, resumir o que Lula ia falando. Um resumo falho em vários pontos. Mas serve como uma primeira leitura.
Assista ao vídeo da entrevista
Texto do “O Escrevinhador”, da Revista Carta Capital, que participou da entrevista.