Tese de Doutorado da UNB diz que Arraias (TO) ainda está sob domínio de fazendeiros



Fazendeiros, normalmente políticos de linhagens tradicionais, dominam o município 

A cidade de Arraiais (TO), sudeste do estado a 470 km de Palmas, uma das mais antigas cidades do país, foi tese de doutorado na Universidade de Brasília (UNB). 

Com o título Poder Local em Tocantins: Domínio e Legitimidade em Arraias, a tese foi defendida pela professora doutora em sociologia Magda Suely Pereira Costa, em 2008. 

Esta tese examina o poder local em Arraias, Tocantins, e
descreve a dinâmica política e social vigente no município. 

Conforme argumenta,
trata-se de um município que, mesmo ao viver mudanças seculares, evidencia
formas análogas ao que Max Weber descreve como os domínios tradicional e
racional-legal e legitimadas pelo recurso de diferentes ordens sociais, a
saber: a religiosa, a patriarcal, a da reciprocidade, a político-partidária e a
governamental. 

A base de dados vem de informações históricas, etnográficas
e estatísticas e por um trabalho de campo que abrange a sede do município
tocantinense de Arraias, como também o distrito da Canabrava e o povoado do
Mimoso. 


A pesquisadora concluiu que em Arraias o
poder local é exercido pelos fazendeiros, normalmente políticos, oriundos de
linhagens tradicionais que utilizam as diferentes ordens sociais para legitimar
o seu domínio sobre a sociedade local. 

Também enfatiza que mesmo com o continuísmo da política de domínio e poder por uma classe social, Arraias vive um dilema de mudanças na qual a mesma sociedade que convive com a cultura da
tradicionalidade busca adequar-se à normatização imposta pelo domínio
racional-legal moderno. 

O resultado, argumenta ela, é um movimento reflexivo e
marcado por uma consciência crescente da responsabilidade individual e coletiva
em promover a autonomia, a liberdade e a democracia. 

Para
descrever e evidenciar a instrumentalização do espaço sagrado, as diferentes
trocas materiais e simbólicas e as formas pelas quais eleições e ações do
Legislativo, Executivo e Judiciário se legitimam no cotidiano do município,
também recorro a outros conceitos referentes à dádiva, ao patriarcalismo, ao
catolicismo romanizado e rústico, ao sistema eleitoral e ao sistema
governamental. 

A professora doutora examina as festas, em especial as oficiais e
religiosas nas quais diferentes trocas geram uma sacralização do político e
concomitante profanação do religioso. 

Nessa relação, diz ela, políticos,
religiosos, fazendeiros e linhagens utilizam meios modernizados de negociação e
reciprocidade para perpetuar uma tradição de exercício do poder sobre a
sociedade arraiana. 

Entretanto, foram verificadas mudanças que têm se afirmado
e fortalecido nas últimas décadas. 

“Dentre elas, a atuação mais vigorosa das
esferas legislativa e judiciária, a utilização constante das normas
constitucionais em prol da cidadania e a maior conscientização da sociedade
civil”, concluiu. 

Fui aluno e me inspirei no pensamento racional da professora 

A professora doutora Magda Suely tem uma história firme e presente na formação de cidadãos de Arraias, Campos Belos e de toda aquela região de Goiás e Tocantins.

No início dos anos 90, fui aluno da doutora Magda no Colégio Estadual Polivalente  Professora Antusa, em Campos Belos, nos três anos do ensino médio. 

Foram os posicionamentos firmes, visionários, racionais e críticos da professora que me fez enveredar pelo racionalismo, que depois culminou com a minha formação em história e, posteriormente, em jornalismo. 

E foi justamente essa base teórica da história, dos grandes pensadores sociais, como John Lock e Jean-Jacques Rosseau, que me propiciou uma visão mais crítica aplicada a essa “ciência” tão essencial  à sociedade moderna, que é o jornalismo. 

E quantos cidadãos críticos forjados pela professora Magda Suely há neste nosso grande país, que começa a se despontar entre os grandes do planeta. 

Infelizmente, este pseudo grande país ainda carece de muitas outras “Magdas”. 




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