Fato On Line: Dilma precisa de Lula e PMDB para se salvar
Por Helena Chagas, do Fato On Line
Não existem manuais para salvar mandatos. Mas, quanto mais grave a crise, mais palpiteiros aparecem para dizer o que seus protagonistas devem fazer, como devem se comportar, o que falar e o que não falar.
Todo mundo acha que entende de comunicação, e os mais iludidos são aqueles que acham que ela resolve tudo, desconhecendo a complexidade de certas situações. A entrevista da presidente Dilma Rousseff à Folha de S.Paulo, na última segunda-feira, virou um “case”.
Dilma errou ou acertou com suas declarações na linha do “daqui-eu-não-saio-daqui-ninguém-me-tira”, e ao chamar a oposição de golpista? Só o tempo dirá.
Passou do tom, certamente, ao dizer que a crise é moleza e que só cai quem está disposto a cair – o que lhe valeu a desconfortável comparação com a bravata de Fernando Collor, que convocou a população a ir às ruas de verde e amarelo, e deu no que deu.
O erro maior de Dilma, segundo aliados, teria sido levar a discussão aberta e ostensiva do impeachment para dentro do Palácio do Planalto. É o caso de se perguntar se, ficando a presidente calada, o assunto sairia da agenda.
Mas, ao atribuir apenas à oposição o “golpismo” dos que querem afastá-la do cargo, dizendo que o PMDB é “ótimo”, Dilma mostrou que, ou está sofrendo de miopia, ou está enxergando demais.
No caso da segunda hipótese, terá percebido as articulações que correm soltas entre alguns peemedebistas favoráveis ao impeachment e trabalha para se reaproximar do parceiro e frear o movimento.
Não é de hoje que a relação de Dilma com o PMDB tem muitas pontas soltas. O vice Michel Temer se mantém leal na articulação política e trabalha pela aprovação dos projetos do governo que podem assegurar alguma estabilidade ao quadro. Mas o bloco do PMDB conspirador a cada dia aumenta mais.
Seus caciques conversam com o PSDB sobre possíveis cenários pós-impeachment, pressionam Temer a largar a articulação, impõem derrotas ao Planalto no Legislativo.
O que, a esta altura, poderia frear esse movimento? Cargos e emendas em doses cavalares, cada vez maiores? Pode ser.
Dilma sempre se recusou a fazer o jogo fisiológico do Congresso. Mas agora se trata da própria sobrevivência. Os deputados e senadores que vão julgar as contas que serão rejeitadas pelo TCU, e votar contra ou a favor de eventuais pedidos de impeachment, funcionam e sempre funcionaram assim.
Muita gente acha que não seria diferente dessa vez. A pergunta que se faz é se, depois de tantas idas e vindas, ainda haverá tempo para reconciliações, e não só com o PMDB.
Tão importante para a sobrevivência de Dilma quanto frear a conspiração dos peemedebistas é ter novamente ao seu lado o ex-presidente Lula.
Criatura e criador continuam afastados, e não se ouviu nos últimos dias, quando a situação se agravou, qualquer declaração pública de Lula em defesa do mandato da sucessora.
Em tempos normais, ideal teria sido, aliás, que a entrevista em que Dilma foi à luta tivesse sido dada por algum outro peso-pesado de seu campo político, como seu antecessor, sem que a presidente tivesse que se expor de tal maneira.
Na verdade, o que se viu nos últimos dias foi uma presidente quase sozinha na linha de defesa, convocando tropas que não apareceram ainda, e que só vão aparecer se Lula as mandar para a rua.
Além da articulação com o PMDB, o mandato de Dilma depende agora de uma forte e bem sucedida reação das forças políticas que governaram o Brasil nos últimos 12 anos e meio.
A única chance disso acontecer é via Lula – e o PT que ele controla -, arregimentando movimentos sociais, sindicatos e a militância, que anda sumida, para ir à luta.
Com a baixa popularidade do governo, os momentos difíceis na economia e a insatisfação da tropa, vai ser difícil. Fazer frente à manifestação oposicionista de 16 de agosto, mais ainda. Mas é possível dar sinal de vida. E se ainda há um sujeito que poderia fazer isso é Lula.
Claro está que o caminho da sobrevivência de Dilma passa necessariamente por duas recomposições, duas reconciliações, dois caminhos de volta. Entrevistas não salvam mandatos, mas ações e articulações sim.
Publicado no Fato On Line