Jovem quilombola Kalunga conquista bolsa de estudos de R$ 2 milhões em universidade dos EUA
Jean Pereira dos Santos, de 19 anos, morador da comunidade quilombola Kalunga Engenho II, em Cavalcante, no Nordeste Goiano, alcançou um feito extraordinário: uma bolsa de estudos integral, avaliada em mais de R$ 2 milhões, em uma renomada universidade dos Estados Unidos. Ele iniciará o curso de Educação e Política Social em agosto deste ano.
Ao receber a notícia da aprovação, Jean não conteve a emoção: “Mentira! Meu Deus! Mãe, eu passei para a faculdade! Estou muito feliz”, comemorou.
Jean é conhecido por seu trabalho na área da educação dentro da comunidade. Ele lidera um projeto que já impactou mais de 11 mil crianças em todo o Brasil, abordando o chamado “vácuo inspiracional”, que descreve a distância entre jovens talentos do interior e as oportunidades de desenvolvimento.
“Quando vi o resultado, fiquei em choque. Tirei um ano sabático para me dedicar a esse objetivo, mas, ao mesmo tempo, parecia algo distante da minha realidade. Ainda assim, mantive o foco e, hoje, estou colhendo os frutos desse esforço”, relatou o jovem.
A trajetória de Jean inclui a participação em um programa de intercâmbio em 2023, que selecionou 50 jovens brasileiros de escolas públicas para vivenciar três semanas nos EUA. Ele destacou que essa experiência foi transformadora: “Eu sempre digo que essa conquista é coletiva, pois carrega um pouco de todos que passaram pela minha vida e me moldaram. Agradeço muito aos meus ancestrais, porque muito sangue preto foi derramado para que eu pudesse estar aqui hoje. Essa vitória é nossa.”
Filho de uma cozinheira e de um guia turístico da comunidade, Jean enfrentou desafios financeiros e emocionais para alcançar seu objetivo. “Eu não conseguia me imaginar no exterior. Quando vi o resultado, foi difícil acreditar. Enfrentei muita auto-sabotagem, aquela sensação de que eu não era capaz, de que ninguém dos meus tinha conseguido algo assim. Mas persisti”, disse.
Com todas as despesas cobertas pela universidade, Jean embarca para os EUA em agosto. O curso terá duração de quatro anos, e ele já tem planos para o futuro: “Quero construir uma ponte entre a minha faculdade e a minha comunidade, levando cursos, workshops e outras oportunidades. Meu objetivo é trabalhar em políticas públicas que realmente impactem comunidades marginalizadas, começando pelo meu quilombo.”