É hora de falar sobre a atuação da Polícia Militar em Goiás e em Campos Belos (GO)

Não é de hoje que a Polícia Militar do Estado de Goiás tem estampado páginas de jornais, reportagens de televisão e sites de notícias por ações marcadas pela truculência.
Casos de execuções, agressões desnecessárias — inclusive contra pessoas inocentes — vêm se acumulando, em total desacordo com a lei e os princípios que regem o uso da força por agentes públicos.
Durante o recente feriado, viajei com minha família para Campos Belos (GO), cidade onde reside minha mãe. Seguíamos tranquilamente pela GO-118, em minha caminhonete S10, com minha esposa e meu casal de filhos, quando nos deparamos com uma situação que jamais deveria ocorrer em um estado de direito.
Ao cruzarmos a placa de entrada da cidade, como de costume, fiz o sinal da cruz em agradecimento pela viagem segura. Porém, a tranquilidade terminou ali. Por volta das 17h, nas imediações do Auto Posto Asa Branca, uma blitz da Polícia Militar estava em andamento. Até então, nada fora do comum.
O problema começou quando um sargento da PM, ao nos avistar desacelerando próximo a um quebra-molas, apontou um fuzil — uma arma de grosso calibre — diretamente para nós, sem qualquer justificativa aparente. Os vidros do carro estavam fechados por conta do ar-condicionado, o que aparentemente bastou para gerar tamanha reação por parte do policial. A arma só foi abaixada quando abaixamos todos os vidros e ele percebeu de quem se tratava.
O momento foi extremamente tenso. Minha esposa e meus filhos entraram em pânico. Fico me perguntando: e se houvesse um disparo acidental? E se um gesto involuntário meu fosse interpretado como ameaça?
Sou jornalista, pai de família e ex-militar das Forças Armadas, com 20 anos de serviço, missão no Haiti e condecoração com a Medalha de Paz das Nações Unidas.
Mesmo em um cenário de guerra, como o que encontrei no Haiti em 2006, os procedimentos de abordagem eram rigorosos, técnicos e respeitosos. Imagine, então, o que se espera de uma força pública dentro de um ambiente urbano, em tempos de paz, cuja missão principal é proteger o cidadão.
Hoje, recebi o vídeo de uma nova abordagem em Campos Belos. Em plena via urbana, duas viaturas da PM cercam um veículo, retiram um homem desesperado à força, enquanto uma testemunha grava tudo de longe. A cena, mais uma vez, levanta dúvidas sobre os critérios de atuação da corporação.
Há, sim, algo de errado na formação ou na condução das ações da Polícia Militar de Goiás. E isso precisa ser urgentemente revisto.
Armas devem ser apontadas apenas em casos de ameaça real e usadas apenas como último recurso. Apontar um fuzil para um pai de família em plena luz do dia, dentro do perímetro urbano, sem qualquer sinal de perigo, é abuso, é despreparo — ou ambos.
Fica aqui meu apelo à Companhia da PM de Campos Belos: vocês estão nas ruas para proteger a população, não para ser uma ameaça a ela. Quem tem o direito legítimo de portar uma arma em nome do Estado deve estar preparado para usá-la com sabedoria e responsabilidade. Um erro pode custar a vida de um inocente.
Ser policial é uma das funções mais nobres e difíceis da sociedade. Requer equilíbrio, preparo técnico, conhecimento jurídico e, acima de tudo, a consciência de que a proteção do cidadão é a missão maior da corporação.
Poderia, sim, encaminhar uma denúncia formal ao governador Ronaldo Caiado. Mas, por ora, fico com esta publicação. Que ela sirva de alerta — e, quem sabe, de ponto de partida para uma urgente revisão dos protocolos da segurança pública no estado de Goiás e em Campos Belos (GO).