Célio Turino: “Existe um Brasil escondido muito pulsante, que precisa aflorar”
- On:
- 0 comentário
Por Ana Ferrareze,
O historiador Célio Turino foi presença especial na abertura da IX Aldeia Multiétnica, no dia 18. Veio de São Paulo com a esposa, Silvana, e os netos para confraternizar com as oito etnias indígenas que participam do encontro neste ano.
Aproveitamos a pausa entre a cachoeira e o jantar para bater um papo sobre o Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros e a atual situação da cultura no Brasil.
“O Encontro já é uma referência, porque consegue integrar diversas manifestações da cultura tradicional com novos grupos a partir de vivências. Não são oficinas frias, são integrações. E essa é a melhor forma de percepção de culturas”, diz Célio.
Ele explica que no Brasil a cultura é viva. Ela se recupera e se renova a cada dia. Um exemplo é a etnia indígena Ywalapiti (Mato Grosso). Há cerca de 20 anos, sobraram apenas cinco pessoas que falavam o idioma ancestral.
Mas eles conseguiram fazer sua língua renascer, inclusive com a ajuda de um Ponto de Cultura – projeto do programa Cultura Viva, idealizado pelo historiador.
Segundo Célio, esse renascimento cultural acontece de forma natural no Encontro de Culturas Tradicionais. Aqui, a cultura se encontra com a natureza, não é seu oposto.
O historiador acredita que é preciso ajudar os brasileiros a conhecer os brasileiros que ainda não conhecem.
“Existe um Brasil escondido muito pulsante, que precisa aflorar. Escondê-lo é cultivar o que há de pior no país: intolerância e ódio”. Célio citou Sérgio Buarque de Holanda, que provocou a ira em muitos ao afirmar que o brasileiro é muito cordial. Para ele, ser cordial não é ruim.
É ser quem pensa com o coração. “O problema é que o amor e o ódio são muito próximos”.
Por falar em coração, falamos sobre a paixão com que o Encontro de Culturas é realizado. “Vejo o sacrifício que o Juliano e toda a organização estão fazendo, principalmente neste ano, em que os patrocínios diminuíram”, afirma.
Célio critica o governo tecnocrata, principalmente dos últimos quatro anos, quando, para ele, a política cultural regrediu.
“O governo precisa aprender a potencializar as iniciativas criativas do povo. Precisamos de foco na potência, não na carência. Quando isso acontece, tudo se desenvolve melhor”, encerra.
Fonte: Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros