Cada vez mais a Covid tem vitimado pessoas que moram juntas e despedaçado famílias. Somente neste mês, pelo menos cinco casais morreram em Goiânia
Cada vez mais o coronavírus (Sars-CoV-2) tem vitimado pessoas que moram juntas e despedaçado famílias. Nesta sexta-feira (28), a advogada Vânia Lúcia Gonçalves Hummel, de 73 anos, morreu devido a complicações da Covid-19.
Um deles foi o ginecologista e obstetra Altamiro Araújo Campos, de 71 anos. Ele foi um dos fundadores da Ela Maternidade, em Goiânia, e era professor do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás (UFG).
O médico epidemiologista e membro do Centro de Operações de Emergências em Saúde Pública para o Novo Coronavírus (COE), João Bosco Siqueira, explica que o aumento da transmissão domiciliar da doença e consequentemente dos óbitos de pessoas que moram na mesma casa ou são da mesma família, é uma realidade.
O epidemiologista explica que nos dois inquéritos epidemiológicos feitos em Goiânia, se constatou que cerca de 50% das pessoas que moravam na mesma casa de uma pessoa que infectada, apresentavam anticorpos para a doença. “Isso mostra que a transmissão dentro de casa é um risco grande”, aponta.
Siqueira relembra ainda que muitas pessoas, principalmente as mais jovens, permanecem assintomáticas quando estão infectadas. “Isso pode gerar uma grande cadeia de transmissão dentro de casa e fora dela também”, pontua. O especialista diz ainda que o aumento da transmissão familiar da doença se dá também pelo fato de que grande parte da população está desacreditada dos efeitos devastadores da pandemia.
Caso a pessoa já esteja infectada, Siqueira explica que o ideal é que ela se isole dentro da própria casa. “Pode ser que as pessoas que moram com ela ainda não tenham contraído a doença. Na dúvida, o ideal é ficar isolado”, esclarece.
Fora de casa
Siqueira explica que a única maneira para quem precisa sair de casa reduzir o risco de levar o vírus para os familiares na voltar é tomar todos os cuidados. O uso de máscara o tempo todo e a lavagem das mãos aliada ao álcool em gel são essenciais.
O médico alerta ainda que quem mora ou convive com outras pessoas que fazem parte do grupo de risco da doença, em especial idosos e quem tem comorbidades, precisa ter ainda mais cuidado.
O casal mais amado de Ipameri
Quando o militar aposentado e engenheiro eletrônico Nelson Teixeira Duarte, de 82 anos, ficou noivo da dona de casa Heddy Jacob Duarte, de 85, há 60 anos, ele escreveu uma carta com a seguinte frase: ‘Serei fiel a ti, assim como a morte é fiel a mim’.
O filho conta que o pai era apaixonado pelo Exército Brasileiro e conservava as tradições da época que estava em atividade “Ele era rigoroso com a alimentação. Tudo para ele tinha a hora certa. Ele amava frequentar os eventos militares”, diz. A outra paixão do idoso, que não possuía nenhum problema de saúde, era a eletrônica.
Já Heddy, antes de ser acometida pelo alzheimer, era apaixonada pelo tricô.
“Durante um tempo, ela chegou a dar aulas para algumas amigas. “Ela tinha muito talento e tricotava sem ver”, diz o filho do casal. Heddy também era uma mulher dedicada a família. Até depois de ficar doente, nunca se esqueceu de nenhum dos filhos.
Entretanto, a memória mais forte que o filho do casal tem dos pais é o amor e o cuidado que um tinha com o outro. “Minha mãe, mesmo depois de idosa, era ciumenta. Não gostava que ele andasse sem aliança de jeito nenhum e queria estar sempre com ele”, conta.
O filho mais velho do casal, Renê Duarte, de 58 anos, também frisa que o amor dos pais é a maior memória que tem deles. “Meus pais eram um casal incrível e um exemplo para mim e meus irmãos.
Juntos até o último dia de vida
No último sábado (23), com uma diferença de cinco horas, o casal José Basílio de Freitas, de 83 anos, e Custódia Laureana de Freitas, de 79, morreu devido a complicações causadas pelo novo coronavírus (Sars-CoV-2). Ele, por volta das 3 horas. Ela, por volta das 8 horas.
Os idosos, que tinham 62 anos de casados, deixaram quatro filhos, oito netos e quatro bisnetos. José, que já era aposentado, trabalhou como agricultor e era um homem tímido. “Ele gostava de acordar cedo, comprar o pão e cuidar da hortinha. Amava plantar pimenta e ervas.
Mesmo depois de 62 anos de casados, eles dormiam abraçados todos os dias. “Era incrível ver os dois juntos. Eles se entendiam sem se olhar e eram muito amorosos com a família toda.
O casal também era muito carinhoso com os netos e filhos, que sempre frequentavam a casa deles. Carolina, que morou grande parte da vida com os avós, conta que os dois faziam tudo por ela e pelos primos. “Meu avô acordava cedinho e fazia café para mim.
Sempre digo que quero encontrar um marido como meu avô e saber que ele não estará presente no meu casamento dói muito”, emociona-se. Entretanto, a jovem afirma que acredita que a história dos avós não poderia ter um final diferente. “Eles se tinham uma conexão muito profunda para ficarem separados. Tinham que estar para sempre juntos”, acredita.