O paradoxo dos tons de cinza nos morros de Campos Belos (GO)



Por Marconi M. L. Burum*


Estava aqui angustiado olhando o quanto é feio, de estética e de sentimento, os morros de Campos Belos praticamente todos feitos em cobertura de cinzas devido as queimadas, principalmente por causa dos incêndios criminosos, ateado fogo por pessoas criminosas que não têm qualquer carinho ou respeito à fauna e à flora do Cerrado, à vida que o Ser Superior concedeu a fim de manter a nossa própria vida nutrida de água e alimentos. 


Portanto, ao colocar fogo no mato, o cidadão comete, ao mesmo tempo, suicídio e assassinato: mata as fontes da Natureza que deveriam retornar para todos nós como energia vital, para nossos filhos, para todas as gerações que virão após nossa passagem por este Planeta.


Pois bem! Ao observar essas cinzas recobrindo os morros (antes, doeu), lembrei-me de quando para cá me mudei, ainda este ano de 2017. 


Era o período das brisas e das chuvas. De tal encanto que ficara com a Natureza que cerca Campos Belos, resolvi compor um poema na manhã do dia 10 de fevereiro. 


E agora sofro com o paradoxo da tipologia (tons) de cinza que nestes montes existem. 


Se antes o aspecto cinzento era sensibilidade poética produzida pela simbiose da brisa leve e generosa, hoje, o tom cinzento é desalento, morte (aos bichos e nascentes), e feiura.


Segue o poema para sua análise comparada e, quem sabe, para tocar àquele que toca fogo no mato a fim de se sentir bem com a Natureza, ou, por vergonhar na cara, tocar-se daqui para longe, onde seu deserto não seja nosso deserto. Espero que gostem dos singelos versos abaixo:


As montanhas neblinadas de Campos Belos


Como sou egoísta!
Enquanto chora a Serra
          [ camposbelense,
Suas lágrimas neblinadas
          [ em dor que assenta,
Que senta sobre as árvores do alto,
Minha alma se jubila
Na contemplação de sua manta cinzenta.


É um pranto tão sereno.
E uma dor tão silenciosa.
             [ Apesar disso,
Os montes límpidos e amenos
Fazem Campos Belos,
Uma cidade majestosa.
Cercada por Natureza;
Protegida por montanhas esplendorosas.


[E a chuva que não cessa,
Traz mais encanto ao topo
Da serra sem pressa…
Vivamos…]


Retomando o discreto languir 
                [ dos campos altos:
Tenho gratidão e deleite
De a vida me viver aqui;
De poder à vida,
               [ buscar novos saltos.


Quanto à dor:
Esqueci-me de lhe indagar,
Antes de a lágrima secar,
Se era a saudade dos seus filhos
                [ ausentes,
Ou a alegria de seus tesouros
                [ nascentes.


Campos Belos,
Minha pequena:
Teus montes têm lágrimas
               [ que a dor da alma açucena…
………………..


Para concluir a reflexão, espero que um dia o ser humano seja mais bondoso com o Meio Ambiente – que somente lhe serve e não pede nada em troca, a não ser respeito. 


Espero ainda que um tal Promotor de Justiça que me falaram ser bem rígido, que a qualquer sinal de labaredas em quintais e nos pés dos morros, corria a tomar as providências, e até ameaçava (no bom sentido) com a aplicação destemida da Lei a quem mal fizesse ao Meio Ambiente, espero que ele volte um dia para a nossa Comarca, ou que seu sucessor tenha o mesmo sangue nas veias para lutar e evite que morramos, sem água, sem alimento daqui um tempo contabilizado e contabilizando-se rapidamente.
…………………


*  Marconi M. L. Burum. Escritor e professor. Formado em Letras pela Universidade de Brasília (UnB), Pós-graduado em Direito Público pela Faculdade de Direito Damásio de Jesus. 


Foi Secretário de Educação de Cidade Ocidental (Entorno de Brasília). Atualmente é servidor público efetivo pela Universidade Estadual de Goiás (UEG), em Campos Belos.

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