Crônica: O ócio intelectual das autoridades
Sempre me inquietou o programa “Voz do Brasil”. Não só pelas informações que são noticiadas, mas pela abertura que Eugenio Bucci fazia: “Em Brasília, 19 horas”.
Essas suas palavras têm grande significado. Um significado que a nossa sociedade está perdendo: o marco das coisas. É isso mesmo! Quando se ouve esta voz, sabemos que algo novo irá acontecer.
Nossa vida precisa ser pontuada. Não se pode viver sem uma pausa. A correria do dia a dia necessita ser freada com os descansos. O homem precisa ter lazer. Não é humano ficar o tempo todo sem um descanso, sem marcar o tempo.
As coisas precisam ter um marco, um meio e um fim. É justo fazer aniversário de 15 anos, comemorar aniversário, fazer festa de casamento, casar-se…
Desonesto com os outros e consigo mesma a pessoa que não dá a possibilidade de alguém ter uma data de casamento. Viver deste modo ou de outros tantos deixa a pessoa inflexível diante de várias situações.
O especialista em desenvolvimento pessoal, Allan Percy, chama estes marcos de “ritos de passagem” e completa: “um momento que nossa civilização vem abandonando”. O antropólogo catalão J. M. Fericgla comenta o assunto: “a primeira comunhão era tradicionalmente um rito de iniciação: uma porta simbólica que conduzia da infância à puberdade”.
Marcar o tempo é necessário. Seja com o que for? O melhor mesmo é marcar o tempo com coisas boas. Porém, a voz do Brasil parece nada falar, alunos não produzem inteligência, ao contrário, reproduzem o ócio intelectual dos nossos representantes; as coisas parecem nada mudar. Estão bem próximos os barulhos para as eleições.
O difícil é não encontrar “voz” para poder representar aqueles que querem mudanças, marcos históricos. Deste modo, marcar o tempo tem um viés que esquenta o debate.
Olhar este tema sem debater filosoficamente o que está marcando as pessoas seria, inconscientemente, restringir o problema que atinge não um ou dois cidadãos, mas uma massa que não disputa seu marco, apenas funcionalmente, quer evitar todo tipo de permanência.
Pois, como é notório, o permanente marca, cria história.
Padre Joacir d’Abadia, filósofo e autor de 17 livros
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