Famosos furam isolamento e aproveitam Chapada dos Veadeiros durante pandemia
Para preservar a saúde da população das cidades que compreendem a Chapada do coronavírus, atrativos naturais, hotéis, pousadas, áreas de camping e restaurantes estão proibidos de funcionar.
Todos relatam tempos difíceis, de empresários a guias autônomos e agricultores familiares, que fornecem alimento para restaurantes e pousadas.
Portas fechadas
No Bar do Pelé, um dos principais pontos de encontro em São Jorge, o pátio antes disputado por dezenas de mesas e cadeiras segue vazio há dois meses.
“Não sabemos o que fazer”, desabafa a viúva.
O empresário explica que as características climáticas do cerrado tornaram o problema ainda mais crítico.
No município de Cavalcante, guias turísticos também sofrem com o cenário de incertezas.
Medidas ignoradas
O momento exige sacrifícios da população e bom senso dos turistas. No entanto, muitos dos que deveriam dar exemplo – e, por vezes, usam as redes sociais para exaltar a cultura e o modo de vida da região – têm ignorado as medidas de proteção e colocado as comunidades locais em risco.
É o caso do ator Henri Castelli, flagrado na semana passada em uma barreira sanitária em São João d’Aliança, no portal da Chapada dos Veadeiros.
Procurada, a assessoria de imprensa do ator informou que Castelli “estava em Goiânia fazendo um trabalho social’. Depois, “ele foi a Cavalcante, para a fazenda de um amigo que está vazia, fechada, fotografar para essa ação”.
Moradores também relataram ter visto o cantor Mateus, da dupla com Jorge, na região. O sertanejo até postou um clique em uma famosa casa de vidro, disponível para aluguel na internet.
Já a esposa de Mateus, a médica Marcella Barra, publicou o registro de uma visita a uma cachoeira, localizada próxima à propriedade. Vale lembrar que tanto os atrativos naturais quanto as pousadas e casas de temporada estão proibidos de funcionar.
A reportagem procurou a assessoria de imprensa da dupla para questionar quando as fotos foram tiradas e qual o motivo da visita do casal, mas não obteve retorno até o fechamento da matéria.“Não acho perigoso a hospedagem.
Ela não concorda com esse tipo de postura, por ser desigual e estimular a vinda de mais turistas.
Brasilienses
Além de famosos e influenciadores, a insistência dos brasilienses também preocupa as autoridades locais.
Planos de reabertura
Apesar de reconhecerem que não há como suportar a situação por muito tempo do ponto de vista econômico, a prefeitura e o governo estadual alegam não ter como reverter a limitação causada pela estrutura hospitalar.
“Compreendo a situação dos empresários, muitos negócios afundando, mas o que nos preocupa é que não temos nenhuma estrutura na área da saúde para pleitearmos a abertura local agora, apesar de o atendimento pelo SUS continuar acontecendo.
Nos próximos dias, haverá uma consulta junto à população de Alto Paraíso para recolher sugestões que constarão em um plano de reabertura gradativa. As estratégias, no entanto, dependerão de aprovação do Ministério Público.
“O melhor seria fechar a Chapada, mas as pessoas não vão aguentar. Todo mundo depende do turismo para sobreviver.
Solidariedade
Diante da situação, a sociedade civil se mobilizou e lançou a campanha Chapada Solidária, formada por diversas organizações e colaboradores. A rede concentra seus trabalhos na arrecadação de fundos para viabilizar a alimentação de famílias mais vulneráveis.
Com uma campanha iniciada em abril, o grupo arrecadou R$ 44 mil para 350 cestas básicas em apenas quatro dias. A próxima meta, de R$ 152 mil, deverá garantir mais 900 cestas para famílias que estão passando por dificuldades para obter itens básicos de sobrevivência.
Além de garantir a segurança alimentar dos moradores, a iniciativa apoia a economia local, incluindo nas cestas básicas produtos dos agricultores de alimentos orgânicos da região.
“Estamos construindo o diálogo para que o socorro alcance também outras localidades da Chapada dos Veadeiros. São operações complexas, que exigem um fluxograma de acompanhamento logístico, financeiro e de mão de obra voluntária”, explica Amilton Sá, um dos voluntários do projeto.
Interessados em ajudar podem entrar em contato pelo perfil no Instagram da Chapada Solidária. Além de ajuda financeira, eles procuram profissionais e voluntários dispostos a trabalhar. O principal objetivo é fazer esse lugar tão importante para os viajantes sobreviver à crise.