Diário da Manhã: “Novo Cangaço no sertão goiano”

Operação da Polícia Militar de Goiás (PM) impediu atuação de quadrilha especializada em roubo de caixas eletrônicos na região de Monte Alegre, cidade do interior goiano, que fica a 460 quilômetros de Goiânia.

A ação conjunta reuniu equipes da região e policiais de Goiânia, do Grupamento de Rádiopatrulha Aérea, da PM (Graer) e contou com 50 integrantes. Três integrantes da quadrilha morreram em confronto com a PM.



Dois deles durante à noite, ainda, na proximidade do trevo da cidade. Outro, pela manhã, na porta de uma fazenda onde o bando, que se acredita ser de mais de 10 integrantes, buscou refúgio.

Na propriedade havia oito pessoas, que foram feitas reféns; o tenente-coronel afirma que logo ao notarem a aproximação da polícia, os marginais libertaram os reféns, não quiseram negociação, e se embrenharam em mata fechada, o que impossibilitou aos policiais de conseguir efetuar a prisão.




O tenente-coronel Anésio Barbosa conta que “foi encontrado armamento pesado, incluindo metralhadora, explosivos e dinheiro” o tenente ainda ressalta “vários veículos também foram apreendidos”.

Para o comandante a operação, o modo de atuar na região da abordagem policial e o equipamento apreendido caracterizam a ação de grupos do ‘Novo Cangaço’, sobretudo o armamento pesado e o enfrentamento à polícia, seguido de tentativa de fuga através das fazendas do entorno da cidade saqueada.


O tenente informa que a operação da PM foi planejada após o ataque da quadrilha a um caixa eletrônico em Monte Alegre.

“O grupo estimado entre seis a dez pessoas abandonou carros e fugiu para uma mata localizada nas proximidades do “povoado de abobreiras, levantando a suspeita da polícia”, comenta o tenente.




COMO CHEGARAM




O serviço reservado da polícia chegou até os suspeitos por conta de uma prisão, ocorrida no dia 8 de abril.

O advogado Marcos Antônio Jerônimo de Almeida, 39 anos, foi preso, em Anápolis, com 15 bananas de dinamite.

Durante a abordagem, a polícia encontrou dentro do carro do mesmo uma bolsa que continha além das dinamites, isqueiro, armas, munições, toucas e luvas.




Isso foi levantado pelos policiais, que descobriram, num trabalho conjunto entre Polícia Militar (PM) e Polícia Civil (PC), que investigaram e chegaram até às informações de quando o bando, que supostamente o advogado faria parte, iria agir da próxima vez. Chegaram ontem à noite.




NOVO CANGAÇO E NARCOTRÁFICO






O Ministério Público de Mato Grosso informa que quadrilhas envolvidas na rede criminosa conhecida como ‘Novo Cangaço’ deixou de atuar assaltando bancos e passou a se dedicar ao narcotráfico.

Em atuação há mais de uma década no sertão brasileiro a rede de quadrilhas tem a alcunha de ‘Novo Cangaço’ por adotar estratégias que claramente retomam os tempos dos cangaceiros, que fizeram história no Nordeste brasileiro entre meados do século XIX e início do século XX.




A deflagração de uma ampla operação no começo de 2013 revelou que as ações das quadrilhas que seguem o modelo do ‘Novo Cangaço’ foram substituídas pelo tráfico de drogas, em Mato Grosso e Estados adjacentes, incluindo Goiás.




O promotor matogrossense Marco Aurélio de Castro, do Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco), informou à imprensa de Cuiabá que operações da Polícia Militar – principalmente do Batalhão de Operações Especiais (Bope) desarticularam as quadrilhas que assaltavam bancos no interior do Estado e, portanto, as organizações passaram a operar no tráfico de drogas.




No ‘Novo Cangaço’ as quadrilhas agem de maneira organizada, utilizando armamento de guerrilha, como fuzis AR 15 e AK 47 levando vantagem sobre a polícia.

As quadrilhas invadem pequenas cidades, assaltando bancos, fazendo reféns e sempre enfrentando a polícia. Após os assaltos, os bandidos fogem para zona rural por estradas alternativas, cujo acesso é dificultado aos policiais.


O VELHO CANGAÇO




A obra “O cabeleira” do romancista Franklin Távora conta que o primeiro homem a agir como cangaceiro teria sido ‘Cabeleira’, como era chamado o pernambucano José Gomes. Nascido no ano de 1751, em Glória do Goitá, cidade da zona da mata pernambucana, Cabeleira aterrorizou sua região.




No final do século XIX que o cangaço se consolidou e obteve prestígio político, sobretudo com Antônio Silvino, Lampião e Corisco.

Entre meados do século XIX e início do século XX, o Nordeste foi aterrorizado pelos grupos de cangaceiros que viviam de saques.

Eles eram bandidos que optaram pela vida nômade e a fama de malfeitores.

Como as rivalidades políticas eram grandes, havia muitos conflitos entre as famílias poderosas. Elas viviam cercadas de jagunços para se defender, formando verdadeiros exércitos.

O cangaço caracterizou o surgimento dos primeiros bandos armados livres do controle dos coronéis.


Aponta-se Lucas da Feira, ou Lucas Evangelista, como um dos mais cruéis cangaceiros. Lucas agiu na região de Feira de Santana, na Bahia, entre 1828 e 1848. Seu bando de mais de 30 homens roubava viajantes e estuprava as mulheres por onde passava.

Lucas da Feira morreu enforcado em 1849. Januário Garcia Leal, chamado ‘Sete Orelhas’ foi um cangaceiro incomum.

Seu bando agiu no Sudeste do Brasil, no início do século XIX, considerado justiceiro e honrado e ao mesmo tempo cangaceiro.


O mais famoso cangaceiro foi Lampião. Ele e seu bando de cangaceiros conseguiram dominar o sertão durante muitos anos.

O longo domínio é atribuído à proteção de coronéis, que recorriam aos cangaceiros para cobrar dívidas e realizar outros serviços “sujos”. Era comum que os grandes proprietários do sertão de dispusessem de cangaceiros como seus ‘agentes’.

Estes coronéis tinham o poder de impedir a ação dos cangaceiros. Lampião se tornou um personagem do imaginário brasileiro, é lembrado como um Robin Hood, pois também tinha o hábito de roubar os ricos para dar aos pobres.

Politicamente, é uma figura pré-revolucionária que subvertia a ordem social de seu tempo.

Publicação original: Diário da Manhã, de Goiânia

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