Como interpretar a inédita correção do Globo na 1ª página?



Por Paulo Nogueira, 


Um mês depois de entrar com fanfarra no Globo, Lauro Jardim levou a maior bofetada de sua carreira neste domingo.


Com atraso, é verdade.


Numa inédita correção de primeira página, como se fosse um jornal escandinavo, o Globo desmentiu que Lulinha foi citado na delação premiada de Fernando Baiano.


Foi a primeira nota de Lauro no Globo, e ele avisou que ela ia provocar estrondo.


Provocou, mas não exatamente da maneira que ele imaginava. No curto espaço em que a informação sobreviveu, o colunista do Globo Jorge Bastos Moreno, um jornalista de bom coração que crê nos bons propósitos das empresas de mídia, saudou a estreia de Lauro como “triunfal”.


Talvez agora Moreno pudesse voltar ao assunto.


É uma errata histórica sob vários aspectos, não apenas para a reputação de Lauro.


Demonstra o acerto de Lula ao decidir, subitamente, processar jornalistas que publicam barbaridades sem prova contra ele.


Provavelmente o Globo quis dar uma advertência a Lauro, e aos demais jornalistas: prestem mais atenção ou vão terminar na primeira página, sob esculhambação.


Mas é também provável que os Marinhos tenham reagido à intensa reação de Lula na Justiça.


O episódio joga luzes também na ida de Lauro Jardim para o Globo.


O Globo, como todas as empresas, tem demitido levas de jornalistas, sob a pressão do avanço da mídia digital.


Por que contratar Lauro neste momento?


Há sempre a hipótese do antigo complexo de inferioridade da Globo em relação à Abril, mas não parece uma explicação forte o suficiente.


Existe também uma coisa prática: Lauro tem boas fontes no Ibope, e em seus últimos tempo na Veja vinha dando, com frequência, as estrepitosas quedas de audiência da Globo em tudo, das novelas ao Jornal Nacional.


É uma tradição da Globo comprar gente que a exponha. Paulo Francis foi um caso clássico. Contratado ele, cessaram suas críticas ferozes a Roberto Marinho, as quais começaram no Pasquim e se transferiram para a Folha depois.


Lauro, no seu novo endereço, parou de falar no Ibope da Globo, naturalmente. Suas fontes no Ibope não devem ter ficado exatamente felizes.


E fez o básico, no universo jornalístico destes dias: pôs foco em Lula. Nada agrada mais aos donos das corporações jornalísticas que ataques a Lula.


Na Veja, os donos não se importam sequer em saber se as denúncias são verdadeiras.


Mas o Globo ainda não chegou a este estágio de antijornalismo, pelo que se viu na inédita correção de primeira página.


O gesto do Globo pode antecipar também o direito de resposta, aprovado pelo Senado e na dependência de aprovação de Dilma.


Toda sociedade avançada, no mundo, tem vigorosos sistemas de resposta para erros da mídia.


A imprensa não está acima da sociedade, por mais que no Brasil ela se comporte como se estivesse.


Os cidadãos têm que estar protegidos de abusos. E não estão.


A proteção – o direito de resposta é um dos pilares dela, mas não o único – tem efeitos positivos até para jornais e revistas. Força-os a ser melhores, mais responsáveis, mais cuidadosos na hora de fazer uma denúncia.


Em pequena escala, é o que certamente acontecerá com Lauro Jardim no Globo depois da correção na primeira página.


Ele vai ser mais cuidadoso daqui por diante, mesmo quando se tratar de ataques à vítima prioritária da mídia, Lula


Fonte e texto: Diário do Centro do Mundo


Sobre o Autor


O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.

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