Estudante da UFT de Arraias (TO) pode desistir de estudar por falta de apoio do Estado
Há situações em nosso país que beiram o absurdo.
Uma jovem mãe de dois filhos pequenos, moradora da zona rural de Arraias (TO), falou com o Blog que está para desistir do curso de Pedagogia da Universidade Federal do Tocantins (UFT) devido à burocracia escandalosa do Estado brasileiro.
No caso, do Governo do Estado do Tocantins e da Prefeitura de Arraias (TO).
A jovem, após muito custo, foi aprovada no Enem e convocada para a UFT pelo Sisu.
Porém, enfrenta grandes dificuldades para se deslocar todos os dias os treze quilômetros da Chácara Recanto das Palmeiras, onde mora, até a sede do município.
Ela não possui carro nem outro meio de locomoção.
Entretanto, uma solução surgiu. Um transporte escolar vai à chácara diariamente para levar seus filhos até uma creche da cidade. Assim, ela poderia pegar uma “carona” também para a universidade.
Porém, o que seria uma dádiva, virou pesadelo. Os gestores da prefeitura e do estado, segundo a estudante, proibiram-na de utilizar o ônibus para ir para a UFT.
“A prefeitura não permite minha ida e nem o estado. Não sei mais o que fazer. Do jeito que está, vou desistir do meu sonho universitário”, disse ela.
Este Blog apela aos gestores da educação em Arraias (TO) para que encontrem uma solução legal para que essa estudante não desista de seus sonhos.
Sabemos que a obrigação do transporte escolar é para os alunos do ensino fundamental e médio. No entanto, é necessário ter bom senso, uma brecha legal, para que o transporte escolar também possa levar essa jovem universitária até a UFT.
É dever do Estado preservar a família e proporcionar educação para todos. Essa educação também significa dar oportunidades para chegar ao local de aprendizado.
Por outro lado, está muito claro que neste caso há uma questão de interseccionalidade.
O que é interseccionalidade? É a interação ou sobreposição de fatores sociais que definem a identidade de uma pessoa e a forma como isso impactará sua relação com a sociedade e seu acesso a direitos.
Identidade de gênero, raça, etnia, idade, orientação sexual, condição de pessoa com deficiência, classe social e localização geográfica são alguns desses fatores que se combinam para determinar os alvos de opressões e como essas desigualdades operarão.
Imagine uma mulher negra em nossa sociedade. Agora, imagine essa mesma mulher negra, pobre e mãe solteira. Agora, essa mesma mulher, negra, pobre, mãe solteira, ex-presidiária e desempregada.
Então, são essas somas de fatores, essa sobreposição numa mesma pessoa, que a impede de progredir e de lutar por seus sonhos. Isso é interseccionalidade.
No caso da universitária, há diversos fatores de interseccionalidade que nós, como sociedade organizada, temos a obrigação de assistir e ajudar a ultrapassar uma fronteira que, sozinha, ela nunca conseguirá.
Aos gestores da educação de Arraias, peço que considerem com carinho essa situação e ajudem essa jovem a se formar e a criar seus filhos com o amor e a segurança devida.