Viajando ao passado: o Campos Belos que eu vi há 50 anos

Por Jefferson Victor,

Há alguns anos atrás, bem ali sentados em um banco da Praça da Matriz, estavam Tico e Domingos Cardoso lembrando os anos 50 e 60, mostrando com riqueza de detalhes e conhecimento, os primeiros moradores da cidade.

Aquele encontro foi presenciado por mim e por muitos espectadores atentos à aquela aula que nos deram. Eles já não estão mais entre nós, mas deixaram saudades, representaram muito para nossa comunidade e que Deus os tenha ao seu lado.

Diante daquele fato, pensei um dia escrever o que presenciei e vivenciei, para que sirva de informação aos mais novos e recordação aos mais velhos.

Então hoje foi o dia “D”, amanheci com uma pitada de saudosismo, e resolvi relatar nossa cidade há 50 anos atrás quando pra aqui mudei junto com o Crisa.

O ano era 1973, mês de junho eu tinha 12 anos, chegamos em cima de um caminhão aberto, tipo pau de arara vindo de São Domingos, muita poeira e desconforto, mas sobrevivemos bem a tudo e estamos aqui para contar a história.

O prefeito era Jesus Cortes de Brito, o qual nos recebeu muito bem, pois era de grande relevância ter o Consórcio em seu município, foi um marco histórico, era o progresso chegando, a certeza de melhorias das rodovias para se transitar.

Alugamos uma casa em frente ao hoje, comercial 2000 e, por sorte, a torneira coletiva de água ficava em frente a nossa casa, isto era um ponto positivo, a cidade inteira bebia dali.

Só fazendo uma resalva, isto pouco mudou devido a salinidade da água fornecida, as pessoas fazem filas em busca de água doce até hoje.

O comércio era ainda muito precário, porém era o mais desenvolvido da região.
Que eu me lembro tinha armazém de Natan, em frente a hoje Dog & Cia, Juarez ao lado da Dog & Cia, Avelino Gomes proximo à casa de dona Odiva.

Casa das Verduras onde hoje é Casa Costa, armazém Gontijo, hoje Armazém Goiás, Ivan Murta na rua do Comércio. Armazém de Agripino Xavier, onde hoje é a Contabilidade Canaã do ex prefeito Sardinha.
Seu Nôzinho, lote vago próximo à casa de dona Maria Miranda, bisavô de Dinomar Miranda.

Armazém de Zé Batista, o qual comercializava leite, onde hoje é o armazém de dona Nicinha.
Todo comércio tinha um balcão, o consumidor não tinha acesso à mercadoria, a gente pedia e o atendente pegava.

Farmácia só existia a do senhor Bruno Schultz e dona Benedita, ali onde hoje é a Drogaria Dom Alano.
A rua do Banco do Brasil não existia, era uma roça do senhor Mariano, mais tarde desapropriada para abertura da avenida, era um brejo que minava água.

Café de Dona Messias, extensão da CMC, Café de Dona Fia, em frente ao Itaú, bolos gostosos, precinho bom vivia sempre lotado.

Seu Diel, vendia bananas, na rua do comércio, eram vendidas por dúzias, tinha de todas qualidades e em quantidades.

Tinha padaria de Manelão, onde era a Agrocamp, padaria de Anjinho na rua 7 de Setembro próximo casa de Bidó.

O pão era vendido também na porta das casas ainda escuro, uma comodidade.
Lojas de roupas era monopólio dos irmãos Brasil Martins, Edmar Martins, Ibanês Martins Casa Esperança, e Apollo 11 de Joaquim Martins.

Dona Cotinha, hoje Padaria do Valdir, loja do senhor Ostevenco, onde hoje é o Compre Bem do Centro.
Bar de Tico, hoje Farmacia N.S. Conceição, bar de Zé Machado, próximo à casa de Homero.

Bar de Salviano e de Jairo com mesas de bilhar, o segundo ainda hoje funciona no mesmo estilo.
Sorveteria de Mestre Zê, hoje Infotec, era protagonista do pau de sêbo no São João, era um mastro alto descascado, lá em cima petas, balões e dinheiro, quem conseguice pegar era dono, alguns meninos conseguiam.

Bar do Dino, cerveja gelada e mesas de sinucas, mesmo local que hoje continua sendo morada de Maria Miranda, mãe de Dinomar.

Açougues de Edison Araújo, hoje Dog & Cia, açougue de Biapino, hoje Bradesco, acougue Betinho, hoje lanchonete da Tacila, açougue de Juá, mesmo lugar ainda hoje mesmo estilo, sempre a melhor carne de sol da região.

Curral da matança onde hoje é o Compre Bem 2 ali eram abatidas vacas durante a madrugada, as sete horas já tinha carne pendurada.

Pra comprar pão tinha que levar vasilha, leite também, a carne era pendurada por um cordão, todo mundo sabia a quantidade de carne que a pessoa comprava e, além de ter cuidado pra cachorro não tomar, ainda tinha aqueles que zombavam perguntando se a pessoa ia pescar, uma referência ao famoso meio quilo ou libra como se costumava falar.

O sinal que o açougue tinha matado era a cabeça da vaca pendurada no secador de carne.
A porta dos açougues eram cheias de cachorros que disputavam as peles jogadas pelos acougueiros, era uma verdadeira rinha.

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Também tinhamos o Cine Reges, Kampuba que eram as melhores opções para os casais de namorados.
O serviço de auto falantes do cinema anunciava filmes, os locutores eram os irmãos Nilson, Vilson e Cléia Reges , também tocavam músicas fúnebres para anúncio de falecimentos.

Hotel de Anália e Diozinho, saída para Brasilia, Hotel de dona Carmem, hoje Lojão do Braz Tecidos, Hotel e Posto HP na Vila Baiana, Hotel de Firmino onde hoje é Tonys Ótica.

O Correio era ali próximo a Ótica Brasília, tinha só uma funcionária, Zezinha, não havia carteiro, a pessoa tinha de que retirar cartas pessoalmente.

Serraria do do senhor Demerval, onde ainda hoje fabrica móveis.
Serraria de Valter Gontijo, grande exportador de madeira serrada para os grandes centros consumidores, ficava em frente à Casego, hoje Crás.

Existia também a Laminadora onde hoje é a Só Grãos, porém quando cheguei me parece já estava desativada.

Oficina de Bicicleta tinha somente uma do senhor Josino de Leonora, pouco movimento, a cidade quase não tinha esse tipo de veículos, ficava em frente a hoje Pax Vida.

A Igreja Católica era comandada pelo Bispo Dom Alano, a frente era virada pro lado da prefeitura.
Já existia também a Igreja Batista no mesmo local de hoje.

A rodoviária era em frente à Lotérica, ali funcionava lanchonete do Daniel, Salão de Chico Barbeiro, pai de Anjo Galvão.

O ônibus da Viação Paraiso fazia a linha Brasília a Dianópolis, era um veículo com cerca de 36 cadeiras mas viajava mais de 50. Os passageiros desciam em Campos Belos e o ônibus ia levar o pessoal em Arraias, voltava e seguia viagem sempre lotado.

Seu Muniz, dentista prático, cuidava dos dentes dos moradores.

Mordida de cobras eram curadas pelas raizadas do senhor Agripino de Almeida, era baiano, usava barbas longas e mantinha em segredo a receita que usava, acho só sua esposa conhecia o remédio.

Saúde só tinha o Cesp, onde hoje é a Funasa, tinha só a enfermeira Matos, mas não cheguei a conhecê-la, acho já havia falecido.

Por falta de médico, doentes eram removidos para Taguatinga, onde existia somente o Dr. Carlos, de procedência italiana.

O aeroporto era na rua Rui Barbosa, começava onde hoje é a casa do ex prefeito Avelino Mendes e terminava no boqueirão de Arraias.

Lembro também com saudades a turma que buscava sal em Barreiras, seu Joaquim, que morava próximo ao Centro de Convivência no Setor de Indústria, o tropeiro Estelino, o lendário Congo de Ouro.

Conheci também o senhor João Beltrão, era desbravador, condutor de boiadas, possuia uma tropa de animais de montaria e uma vez comandou a histórica comitiva que conduziu uma boiada de Campos Belos á Paraopebas no Pará, a viagem durou 120 dias.

Durante sua vida nunca foi a uma vaquejada, não gostava de ver animais sendo maltratados.
Chiquinho Cardoso era boiadeiro forte, e fundador do hoje Posto Cajueiro, intermediava grandes negociações de gado com Mamédio Murso e João de Mello que eram os maiores compradores e que, por falta de bancos, o pagamento costumava ser em espécie, só depois instalaram uma agência do Banco do Brasil em Arraias.

A Praça da Matriz a noite era refúgio para o gado que vivia solto e vinha dormir no gramado.
Onde hoje é a Praça da Bíblia era a única quadra de esportes da cidade, disputada pela meninada, as arquibancadas eram os postes que a Celg depositava ao lado.

Ali eram disputados torneios até com outros municípios, um verdadeiro campo de guerra, brigas eram constantes os desentendimentos eram rotina.

O campão era onde hoje é o Estádio Xeco, lá eram realizadas as partidas oficiais, os campeonatos regionais e os torcedores se amontoavam na linha do campo.

Os bandeirinhas mandavam as pessoas ficarem atrás, mas era eles passando e o pessoal voltando, invadindo novamente.

Era um campo com descaida e uma parte de cascalho, as traves eram de madeira e sem redes, o que gerava dúvida em alguns lances de gol.

Zezinho Batista, Judite, Ivanildes Madureira, Nicinha Martins e Diolino eram os responsáveis pelos Cartórios.

Os irmãos Setembrino e Chico, eram os fotógrafos da cidade, acompanhavam festas e festejos, as fotos eram reveladas fora e demoravam alguns dias para ficarem prontas, sempre em preto e branco.
Quando cheguei aqui tinhamos o Colégio Dom Alano no Setor Aeroporto e Professora Ricarda. Dona Jacira foi a minha primeira professora na quarta série primária.

A Escola Batista ficava nos fundos do atual Correio.

Próximo ao Serra Verde era o famoso poçao, principal local de banho, muito disputado pela meninada, meninos espiavam meninas e meninas espiavam meninos, coisas de crianças.

O Rio Bezerra era apenas o poço, não havia nenhuma infraestrutura, e muitos perderam a vida naquela localidade.

Também tinha uma bica nos fundos da casa de Manelão, pai de Lucinha Brito, mas logo foi desativada.
Onde é o setor Aeroporto 2 era lugar da fruta da marmelada, servia como alimento e como munição, cortava com talo longo, batia numa árvore e arremessava longe, também tinha a guerra das mamonas.

A tradicional subida no morro da cruz na sexta feira santa era marcada pela pedras roladas morro abaixo, tinha umas enormes, usando alavancas eram deslocadas e desciam derrubando tudo pela frente.
A iluminação das ruas eram precárias, lâmpadas fracas e distantes, quase não adiantava, e ainda tinha os tarados correndo atrás do povo, muita gente levou carreira deles, mas ninguém admitia que foi alcançado por eles, será?

Luz nas casas era privilégio de poucos, geladeira era artigo de luxo, digno dos magnatas.
Carros podia contar nos dedos quem tinha.

A meninada brincava de bacondé, salve cadeia, uva pera maçã.

Bricavam de cambota, infinca, pião, biloca e na enxurrada da chuva.

Conheci Papagaio, tinha o dedão do pé torto, ele furava a botina e o dedo ficava de fora, era uma fera, usava uma (funda) para atirar pedras, ele falava grosso e fino quando tava com raiva.

Manoel Moitinha usava uniformes e coturnos e se sentia militar, Jacaré, e muitos outros eram alvos da molecada.

O Circo do Peteleco era o preferido, estava sempre na cidade pra alegria de todos.
As festas eram embaladas pelo Ademar Soares com a Banda Real Som Cinco.

Algumas festas eram programadas e canceladas porque o carro atolava e o conjunto não chegava a tempo, era um sofrimento.

Viagem pra Brasília era um martírio, chegava durar dias em período de chuvas.
Apesar de tudo isto era um tempo feliz, não havia drogas e nem violência, todos andavam a qualquer hora sem temer nada.

Imagino quem ler esta matéria vai voltar no tempo, fazer um retrospecto neste conteúdo e viajar ao passado, boa viagem!