Urgente: 14 cidades goianas se preparam para desastres causados por chuvas torrenciais
Ainda sob a influência do fenômeno La Niña, o Centro-Norte de Goiás se prepara para novos períodos de chuvas torrenciais, a exemplo do que ocorreu no fim de 2021 e início deste ano.
O Centro de Informações Meteorológicas e Hidrológicas de Goiás (Cimehgo), da Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), prevê mais de 500 milímetros (mm) de precipitação em 14 municípios a partir deste mês de dezembro, podendo chegar a janeiro e fevereiro de 2023.
Outros 56 municípios podem receber 250 mm de chuvas.
A Defesa Civil Estadual, que junto com o Gabinete de Políticas Sociais (GPS) do Governo de Goiás coordena a Operação Nordeste Solidário, o plano de contingência para atender as localidades que apresentam maior risco de danos, já instalou sete postos de comando em cidades que favorecem o deslocamento.
Cinco deles foram montados em quartéis do Corpo de Bombeiros Militar – Ceres, Uruaçu, Formosa, Posse e Campos Belos – e outros dois em Flores de Goiás e Teresina de Goiás.
Para esses postos já foram levados colchões, cobertores, filtros de barro, hipoclorito de sódio. Cestas básicas chegam esta semana.
Chefe do Departamento de Respostas de Dados da Defesa Civil Estadual, o capitão CB Marcelo Martins Moura explica que a Operação Nordeste Solidário prevê ações prioritárias para os 14 municípios que podem receber maiores índices de chuvas, conforme previsão do Cimehgo, mas as outras 56 localidades também estão no foco do plano.
“Temos equipes viajando, orientando prefeitos para que identifiquem populações mais vulneráveis e criem suas próprias unidades de Defesa Civil. Ela é importante para que cada município reconheça a sua vulnerabilidade e tenha competência legal para buscar recursos em âmbito federal em caso de emergência.”
O plano de contingência nasceu em meados deste ano quando o Cimehgo detectou, por meio dos modelos climatológicos, a possibilidade de repetição das fortes chuvas na região Centro-Norte.
Durante 85 dias, a partir de dezembro de 2021, 122 integrantes do CB atuaram em localidades, especialmente do Nordeste do estado, caracterizada por terrenos acidentados, estradas sem pavimentação e muitas comunidades rurais.
Em Flores de Goiás, por exemplo, os 21 assentamentos rurais sofreram muito com as enchentes que provocaram isolamento e perdas da produção.
A expectativa é que o plano de contingência, que envolve 17 pastas do governo estadual, minimize os danos e agilize as ações.
Os postos de comando para o período chuvoso estão em localidades de onde será possível deslocar com rapidez para qualquer um dos 70 municípios que estão sob alerta.
André Amorim, gerente do Cimehgo, reforça que por causa do La Niña, há uma tendência de as chuvas se concentrarem novamente nas regiões Norte e Nordeste do estado. Em novembro, as previsões se confirmaram. “Tivemos duas chuvas de mais de 100 mm em Porangatu.
Em Minaçu, em um único dia choveu mais de 150 mm. Também houve uma chuva volumosa no município de Cavalcante, atingindo regiões da comunidade calunga. As pessoas ficaram assustadas, mas a Defesa Civil está mais próxima e os bombeiros militares em alerta.”
Pelas previsões, o mesmo deve ocorrer em dezembro. “No ano passado foi muito ruim porque não havia um plano de contingência.
A diferença agora é que todos estão avisados e há uma preparação para que as ações sejam mais rápidas.” De acordo com Amorim, os modelos de previsão meteorológica apontam para chuvas intensas também em janeiro e fevereiro.
Levantamento feito pela Defesa Civil Estadual demonstra que os prejuízos nos 23 municípios, que foram afetados pelas fortes chuvas na última temporada e declararam situação de emergência, somaram a quantia de R$ 64.557 milhões.
Mas este valor pode ser ainda maior visto que algumas administrações não registraram as informações no Sistema de Informações de Desastre (SID), da Defesa Civil Nacional, como é o caso de Alto Paraíso, Posse, Colinas do Sul, Minaçu e Iaciara.
As chuvas do fim do ano passado e início deste ano afetaram 19,2 mil pessoas, segundo a Defesa Civil Estadual.
Cavalcante, que reúne uma grande comunidade quilombola, cujos integrantes vivem em localidades distantes umas das outras, foi um dos mais atingidos.
Mais de 3,8 mil pessoas sofreram consequências em razão dos temporais. Monte Alegre, que também abriga parte da comunidade calunga, teve 2,4 mil pessoas afetadas.
La Nina permanece até fevereiro
E o responsável por toda essa dor de cabeça, o fenômeno climático La Niña, deve continuar afetando os padrões de temperatura e precipitação até fevereiro ou março de 2023.
É o que prevê a Organização Meteorológica Mundial (OMM), o braço meteorológico da Organização das Nações Unidas. É a primeira vez neste século que o La Nina dura três verões consecutivos no hemisfério sul.
O La Niña é caracterizado pelo resfriamento anormal das águas do oceano Pacífico Equatorial, que ficam em torno de 2 °C e 4 °C durante a sua vigência.
Seus efeitos são variados, podendo produzir secas no sul do Brasil, na Argentina e no Uruguai e, principalmente na África Oriental; e chuvas torrenciais no Nordeste brasileiro, no norte da Austrália e no sudeste da Ásia.
Alguns países como China, Índia, Japão e Canadá são afetados por temperaturas mais baixas do que o esperado.
O fenômeno, segundo a OMM, ocorre de tempos em tempos, podendo se dar em intervalos variáveis que vão de dois a sete anos.
O evento, que em espanhol significa A Menina, recebeu a denominação numa alusão contrária ao fenômeno El Niño, que provoca o aquecimento anormal das águas do Pacífico.
O oceano Pacífico tropical está sob influência do La Niña, com curtas interrupções, desde setembro de 2020, mas isso teve apenas um efeito de resfriamento limitado nas temperaturas globais.
Para a OMM, esse fenômeno ocorre em um contexto de mudança climática causada pela ação humana, o que aumenta as temperaturas globais, tornando nosso clima mais extremo e afetando os padrões sazonais de precipitação, aumentando secas e inundações.
Com texto do Jornal O Popular