Cidades do Nordeste de Goiás ainda têm problemas para enfrentar chuvas

Os municípios do Nordeste de Goiás, que foram duramente castigados pelos efeitos das chuvas no ano passado, ainda não tiveram todos os serviços necessários executados para evitar os transtornos por que passaram no fim de 2021 e início de 2022.

Prefeitos das localidades ouvidos afirmaram que houve trabalhos importantes na infraestrutura, mas ainda aquém do necessário. Eles informam que estradas foram recuperadas, assim como pontes e bueiros. Também foram erguidas novas estruturas do tipo com materiais de maior durabilidade.

Ao mesmo tempo, os gestores locais relatam que os municípios são grandes e possuem muitas GOs e estradas não pavimentadas, o que aumenta o risco de degradação destas estruturas, mesmo onde trabalhos de recuperação foram executados.

A situação preocupa, pois o Centro de Informações Meteorológicas e Hidrológicas do Estado de Goiás (Cimehgo) prevê que volumes acumulados de chuvas em dezembro possam alcançar até 500 milímetros (mm). Para ter uma ideia do que isto significa basta comparar com a média do último mês do ano em Posse, cidade da região, onde o acumulado histórico (1981-2010) fica nos 278,4 mm.

O que foi sinalizado como uma preocupação pelo governo estadual como uma preocupação no último dia 31, quando foi anunciado o programa Nordeste Solidário, infelizmente, já começou a se materializar.

Após uma chuva de 75 mm na última quarta-feira (2), em Niquelândia, a cerca de 300 km de Goiânia, houve relatos de moradores isolados por dificuldades na travessia de rios. Os mananciais apresentaram expressiva elevação do nível.

Prefeita de São João D’Aliança, Debora Domingues Carvalhêdo Barros (PL) afirma que o governo estadual realizou importantes trabalhos no município. Ela exemplifica que na GO-116, via não pavimentada, foram construídas 12 pontes, mas ainda aquém do necessário para resolver o problema de maneira mais consistente. “Não deu para contemplar o trecho todo. Então, tem local que a gente chega e não consegue passar”, completa a prefeita.

Os problemas são esperados novamente. “Tudo indica que vai acontecer atoleiro. Nós já distribuímos kits de higiene, de gêneros alimentícios, filtros de água potável, remédios, para se acontecer o isolamento, as pessoas terem o mínimo necessário”, explica Debora.

As características dos municípios do Nordeste de Goiás ajudam a entender a realidade local. São territórios grandes, com relevo acidentado, muitas vias não pavimentadas, grande número de pontes de madeira e bueiros que não comportam a vazão a que estão submetidos.

São João D’Aliança exemplifica bem isto. A área territorial é de 3.334,45 km², o equivalente a quatro vezes e meia o tamanho de Goiânia. A densidade demográfica é baixa. Lá são 3,08 habitantes por quilômetro quadrado (hab/km²), enquanto que a média nacional é de 22,43 hab/km², com bases nos dados do Censo de 2010. Naquela época, a população da cidade era de 10,2 mil pessoas. Hoje é estimada em 14,43 mil habitantes, o que deve elevar o índice.

Economicamente, as localidades têm o Produto Interno Bruto (PIB) per capita considerado baixo. Além disto, os recursos públicos são majoritariamente oriundos de fontes externas, ou seja, não produzidos na localidade.

A densidade demográfica de Cavalcante é ainda menor que a de São João D’Aliança: 1,35 hab/km². São 6.948,78 km². O local abriga, segundo o prefeito Vilmar Kalunga (PSB), mais de 2 mil km de estradas vicinais não pavimentadas.

Apesar disto, ele mostra otimismo por considerar que os trabalhos realizados alcançaram boa parte dos locais, mas ressalva: “as pontes não foram feitas todas, principalmente aquelas mais necessárias. Temos quatro que são urgentes nas comunidades. 90% acredito que foi feito, mas ainda falta muito”, diz Kalunga.

O prefeito diz que constituiu a Defesa Civil e recebeu do governo federal R$ 86 mil, mas que há 32 pontes que precisam ser feitas e que a solução envolvendo outras questões carece investir cerca de R$ 14 milhões.

Prefeito de Flores de Goiás, Altran Lopes Avelar Nery (União Brasil) diz que houve trabalhos que reconstruíram rodovias e estradas e lembra que o último período chuvoso foi crítico. “Enfrentamos problemas na infraestrutura. Tivemos estradas danificadas e pontes que rodaram e impediram o acesso a comunidades. Mas melhoramos estradas e reconstruímos pontes desde então. Nós ainda temos problemas na infraestrutura. Há pontes que impedem o acesso”, afirma ele.

Assim como nas demais localidades, Alto Paraíso teve a zona rural mais afetada. O meio urbano chegou a ficar isolado com queda de um trecho da GO-118.

O prefeito Marcus Adilson Rinco (União Brasil) diz ter movido esforços para minimizar possíveis danos futuros. “Acredito que nós fizemos tudo que podíamos ter feito. Nossa situação é tranquila, dependendo da chuva. Acreditamos até que não tenhamos problema este ano.”

Probabilidade

Gerente do Cimehgo, André Amorim foi perguntado pela reportagem sobre a real probabilidade de se confirmarem os grandes volumes de chuvas previstos para a região em dezembro e início de 2023. “De acordo com nos nossos prognósticos, a possibilidade é alta, já que estamos em ano de La Ninã e os corredores de umidade vão se posicionar mais ao centro norte do Estado”, explica.

Investimentos na região

O Governo de Goiás afirma já ter investido R$ 113 milhões em obras as quais considera estratégicas para região Nordeste.

Os recursos, afirmou a Agência Goiana de Infraestrutura e Transportes (Goinfra), em nota, foram aplicados desde 2020.

As dificuldades de enfrentamento do período chuvoso 2021/2022 tem volume de aplicação de recursos com valor de R$ 36 milhões. Um dos pontos onde houve a aplicação de recursos foi a GO-118, entre Alto Paraíso e Teresina de Goiás. A via foi interrompida por causa de uma queda.

As ações de infraestrutura englobam: serviços de levantamento de greide (nível da via), cascalhamento, terraplenagem. Também houve a recuperação de pontes e a construção de pontes e bueiros.

O valor específico para o enfrentamento do período chuvoso 2021/2022 é de R$ 36 milhões.
“Entre 2021 e 2022, foram executadas obras nas rodovias GO-114, GO-108, GO-241, GO-118, GO-575, GO-576, GO-110, GO-464, GO-593, GO-236, GO-116, GO-237, GO-239, GO-452, GO-132, GO-112, GO-446, GO-549 e GO-447”, cita a Goinfra.
O número de pontes informado é de 34.

Sobre pavimentação, a Goinfra cita a conclusão de um trecho de 20 quilômetros na GO-132, entre Minaçu e Colinas do Sul. A via ainda tem 23 km com serviços em andamento ao custo de R$ 32 milhões.

Também estão em andamento a construção de sete pontes, pavimentação da GO-110, de Iaciara ao distrito de Estiva, com 50 km. “Mais sete pontes já estão em construção, entre elas, a ponte sobre o Riacho Seco (GO-447, Divinópolis/Monte Alegre – 44 metros).” Há outros pontos que estão em processo de licitação.

Com texto e reportagem do Jornal O Popular

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