Alto Paraíso (GO): a arte de transformar as flores secas do Planalto Central
Assim como os inconfundíveis traços do arquiteto Oscar Niemeyer desenhados nos concretos de várias edificações de Brasília, as flores secas do Cerrado são uma das marcas inconfundíveis do Distrito Federal.
Trata-se da natureza local em seu estado bruto e puro. A essência da beleza rústica.
Ao todo, são dez bancas que comercializam mais de 50 tipos de espécies de cores vibrantes e díspares.
Elas podem ser encontradas no cerrado das cidades de Santa Maria, São Sebastião, Cristalina e Padre Bernardo. Também na vegetação seca de Alto Paraíso (GO).
São elas: pingo de ouro, sempre viva, papoulinha, amarelão, capim do cerrado, ourinho, folhas-moedas, capim-rabo-de-raposa, pireque-branco, muitas plumagens e pétalas, além, claro, de sementes e frutos de diversas árvores.
“Como ele gostava de mexer com flores lá não foi difícil de se adaptar aqui”, conta Pedro Fernandes, hoje beirando os 60 anos. “Só que aqui ele encontrou uma variedade rica e única”, constata.
Alquimia verde
No livro, “O Menino do Dedo Verde” (1957), do francês Maurice Druon, Tistu é um guri com dom especial para lidar com flores. Numa espécie de Rei Midas da natureza, tudo que ele toca se transforma em arranjos de beleza única, jardins ornamentais.
Impressionante a mágica que os “floristas” da Catedral Metropolitana fazem com as folhas, sementes, hastes, plumagens e flores que colhem pelo cerrado.
Verdadeiros alquimistas do verde, eles vão criando composições artesanais das mais criativas formas, combinações perfeitas que encantam turistas, influenciam designers, lojas de decorações, compartilhando um pedacinho de Brasília com o resto do país.
Banhadas com material da cor de ouro, elas brilham ao sol. Já as flores pintadas na anilina, com tinta especifica para couro, palha e flores, demoram mais a ficar pronta – cerca de seis horas. Ambas fazem os turistas suspirarem de encanto e surpresa.
“Eu nunca tinha visto esse tipo de trabalho antes. Lá em Belo Horizonte temos um mercado central que vende muito artesanato. Mas nada parecido”, comenta a designer de moda mineira Raquel Bacellar.
E ao que tudo indica muitos turistas ainda vão se deslumbrar com a beleza bucólica das flores secas do cerrado. Isso porque se trata de uma tradição que passa de pai para filho, como aconteceu com seu Pedro, perpetuada na família.