Sem uso de máscaras, casos de Covid-19 volta a explodir em Campos Belos (GO). Hepatite misteriosa pode estar ligada à doença
Para quem estava imaginando que a pandemia da Covid-19 estava no seu fim, parece que cometeu um ledo engano.
Em Brasília, na capital federal, os casos voltaram preocupar. Há órgãos públicos que tem registrado cerca de 20 casos por dia entre seus servidores.
Nas escolas, públicas e privadas, há um número exagerado de crianças contaminadas.
Em Campos Belos (GO), nordeste do estado, o novo coronavírus voltou a mostrar as suas garras, após o relaxamento geral da comunidade, inclusive, com o uso das máscaras.
Ainda há pouco, a Secretaria de Saúde do Município soltou o Boletim Diário da doença. É um espanto. 12 novos casos só nesta segunda-feira (30).
Soma-se a isso ainda mais 14 suspeitos a espera de exames, que pode praticamente elevar os casos para 34 pessoas com a doença ativa.
Para quem estava praticamente com os casos zerado há pouco menos de um mês, é um salto de mais de 30 vezes.
Hepatite misteriosa
Como tudo pode piorar, médicos e pesquisadores estão desconfiados que uma misteriosa hepatite que tem atacado e matado crianças em várias cidades do Brasil e no mundo é uma consequência da Covid-19.
Conhecida como hepatite aguda infantil, ou hepatite misteriosa, a doença severa não tem relação direta com os vírus conhecidos da hepatite e em cerca de 10% dos casos foi necessária a cirurgia de transplante de fígado.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), até o dia 15 de maio, 429 casos prováveis foram notificados em 22 países.
As causas dos casos atuais de hepatite aguda grave permanecem desconhecidas e sob constante investigação.
De acordo com o professor e médico infectologista pediátrico, Rolando Andres Paternina De La Ossa, de Ribeirão Preto (SP), a hepatite misteriosa atinge principalmente o fígado, causando uma inflamação leve a moderada, mas que pode evoluir para um caso grave.
“Neste momento, a causa da doença ainda é desconhecida. Embora o adenovírus tenha sido detectado em 70% de estas crianças, não existem provas o suficiente para confirmar que é a causa da doença”, explica o médico.
Nesta segunda-feira, o Ministério da Saúde atualizou a situação sobre os casos suspeitos, informando mais dois casos suspeitos que estão, chegando ao total de 46 casos sob investigação. Foram recebidas 49 notificações, das quais três já foram descartadas. Até o momento, nenhum caso foi confirmado no país.
No nordeste, Pernambuco e Maranhão possuem casos em investigação, com três e um casos, respectivamente. O estado de São Paulo reúne o maior número de registros suspeitos, com 14 casos sob investigação, seguido por Minas Gerais (sete), Rio de Janeiro (seis), Mato Grosso do Sul e Santa Catarina (quatro), Rio Grande do Sul (três), Paraná (dois), Espírito Santo (um) e Goiás (um).
Desde a semana passada, o Ministério da Saúde montou uma sala de situação para monitorar as suspeitas da doença e fazer levantamento de evidências para identificar as possíveis causas.
Para as secretarias de saúde dos estados, a orientação está sendo realizada por meio de notas de risco, indicando como proceder em casos suspeitos, A pasta ressalta que todos os casos suspeitos devem ser notificados de forma imediata, assim como quaisquer alterações no cenário epidemiológico de estados e municípios.
Os primeiros relatos da hepatite misteriosa surgiram em abril, no Reino Unido. Hoje, aproximadamente 450 casos suspeitos foram relatados em todo o mundo. Já em maio, a Organização Mundial de Saúde (OMS) realizou uma reunião com representantes responsáveis pelo setor de saúde do Brasil, Reino Unido, Espanha, EUA, Canadá, França, Portugal, Colômbia e Argentina para discutir sobre o tema.
Número de casos em crianças preocupa
A preocupação com as crianças é maior por se tratarem do maior número de casos suspeitos e, algumas delas, terem evoluído para falência do fígado com necessidade, inclusive, de transplante.
“Esses tipos de hepatites que estão em investigação é o que a gente chama de hepatite fulminante. Ele de fato tem uma evolução diferente, é muito aguda. Não segue as linhas de evolução que a gente observa em alguns tipos de hepatites virais. Então, muitas vezes a gente com três, quatro semanas de evolução que para uma situação de hepatite é um tempo curto, a criança já evolui para praticamente a falência do fígado, que é um órgão extremamente importante, um órgão que tem mais de mil funções no corpo”, alertou Fernando Chagas.
A hepatite é considerada misteriosa porque ainda não se tem comprovação a respeito de qual seria causador da doença. Até o momento,uma pesquisa realizada pelo Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças mostrou que o adenovírus 41 foi identificado na maior parte das amostras de casos suspeitos na Europa e nos Estados Unidos.
O adenovírus 41, no entanto, não é conhecido por ser causador de hepatite em crianças saudáveis. No mundo existem mais de 50 tipos de adenovírus, que podem causar infecções diversas em humanos. O microorganismo do tipo 41 está, geralmente, associado com o aparecimento de vômito, febre, diarreia e sintomas respiratórios.
A OMS afirmou que a infecção pelo adenovírus tipo 41 não foi previamente associada à apresentação clínica descrita nos casos de hepatite infantil. Isto porque, em geral, os adenovírus se espalham de pessoa para pessoa e causam infecções autolimitadas, como sintomas respiratórios. Dependendo do tipo, o vírus também pode causar outras doenças, como gastroenterite (inflamação do estômago ou intestinos), conjuntivite e infecção da bexiga (cistite).
As investigações seguem e, em um artigo publicado na revista “The Lancet”, podem também estar relacionados por uma infecção prévia por coronavírus.
O estudo aponta que pessoas contaminadas podem ficar mais suscetíveis ao aparecimento da doença. Isto porque o Sars-CoV-2, causador da Covid-19, cria um ambiente favorável a longo prazo para, quando infectadas pelo adenovírus, as crianças tenham uma resposta inflamatória exacerbada.
A linha de investigação que estuda a relação entre Covid-19 e a hepatite misteriosa leva em consideração ainda, aqui no Brasil, a baixa adesão na vacinação de crianças de 5 a 11 anos, deixando-as mais suscetíveis à infecção.
Com informações de O Estado de São Paulo