Mortes por pressão alta e outras doenças seguem crescendo com sedentarismo
Com medo da contaminação, brasileiro aumentou o tempo em frente à TV. Enquanto isso, estima-se que mortes por problemas no sistema cardiovascular já passem de 121 mil só em 2022
O Dia Nacional de Prevenção e Enfrentamento à Hipertensão Arterial, celebrado em 26 de abril, tem um cenário ainda mais dramático em 2022.
Enquanto o lazer sedentário ganhou ainda mais espaço durante a pandemia do novo coronavírus, o risco de doenças cardiovasculares como a hipertensão arterial também cresceu.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), doenças cardiovasculares representam a principal causa de mortes no País atualmente, com o “cardiômetro” estimando mais de 121 mil mortes só nos quatro primeiros meses de 2022.
Ao mesmo tempo, a médica cardiologista Juliana Coragem, membro da Singulari Medical Team, ressalta que os casos de hipertensão vêm aumentando ano após ano.
Lazer sedentário e pandemia
De acordo com os dados mais recentes do Ministério da Saúde, os óbitos motivados por hipertensão arterial saltaram de 47.288 em 2015 para 53.022 em 2019. Além disso, no último levantamento divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 40,3% da população com mais de 18 anos de idade foi classificada como “insuficientemente ativos”.
Isso significa que toda essa parcela de brasileiros não pratica nenhuma atividade física ou fica abaixo de 2h30 semanais, incluindo lazer, trabalho e deslocamento.
Segundo a cardiologista, esse quadro se agravou ainda mais ao longo da pandemia. “As pessoas, com medo de se contaminarem com o novo coronavírus, deixaram de fazer atividades físicas e passaram mais horas em casa. Com isso, as horas de lazer sedentário aumentaram”, pontua a especialista.
Como explica a médica, estudos apontam que, no Brasil, o tempo na frente da TV aumentou de duas horas e 12 minutos para três horas e 15 minutos entre pessoas com idade 50 e 59 anos, por exemplo.
“Quanto maior o tempo de lazer sedentário, seja em frente à TV ou de qualquer outro tipo, maior também o risco para doenças cardiovasculares”, ressalta.
Com base na avaliação de registro da saúde e estilo de vida no Canadá, os pesquisadores da Universidade de Calgary descobriram que adultos com menos de 60 anos que gastam oito ou mais horas do dia em lazer sedentário têm sete vezes mais chance de sofrer um acidente vascular cerebral (AVC), por exemplo. Por aqui, ainda de acordo com os números da SBC, estima-se que mais de 11 mil dos óbitos goianos em 2020 tenham sido motivados por doenças cardiovasculares.
Antes de se mover
Tudo isso mostra um quadro ainda mais negativo diante do fato de que a adoção de hábitos saudáveis, incluindo atividades físicas regulares, é um dos principais meios de manter a hipertensão sob controle. Contudo, mesmo que sair da inércia e deixar o sedentarismo para trás seja importante, antes de começar a se mover é necessário que o paciente passe por uma avaliação médica e cardiológica.
“Às vezes, o paciente pode ter algumas comorbidades ou fatores de risco para doença cardiovascular como hipertensão e dislipidemia. Por isso, ele deve ser avaliado e fazer um tratamento adequado antes de uma rotina de exercícios regulares”, pontua Juliana.
De fato, de acordo com dados do Ministério da Saúde sobre os grupos prioritários para receber o imunizante no início da vacinação contra a COVID-19, mais de 17 milhões de brasileiros teriam algum tipo de comorbidade. Com relação ao sedentarismo aumentado, a cardiologista explica que o indivíduo se torna mais suscetível ao aumento de peso e do colesterol.
Em consequência, o ganho de peso pode levar à elevação da pressão arterial e à hipertensão, ao descontrole do diabetes e à dislipidemia. “Assim, a atividade física ajuda muito no controle dessas condições e é a principal indicação a pacientes com comorbidades como essas.
Na verdade, os resultados de pessoas que se exercitam têm resultados melhores do que aqueles que seguem a medicação, mas permanecem sedentários. Porém, jamais devem começar sem passarem primeiro por uma avaliação cardiológica”, finaliza.