Campos Belos (GO) volta a registrar mais um caso de suicídio
A cidade de Campos Belos (GO), nordeste do estado, voltou a registrar, nesta terça-feira (24), mais um caso de suicídio entre seu moradores.
A vítima foi um jovem adulto, que usou uma corda para tirar a própria vida.
Num áudio dramático, que o Blog teve acesso, mas não vai divulgar por questões ética, ele se despede da ex-mulher, do filho, dos pais e irmãos.
O rapaz perde perdão a todos pelo ato insano e que a família não vá vê-lo “daquela forma”.
A gravação, de pouco mais de 3 minutos, é muito baixa, quase um sussurro. Mas é o suficiente para demonstrar a dor psíquica apresentada por ele.
Como sempre escrevemos aqui no Blog, grande parte dos casos de suicídio advém de distúrbios mentais severos, como depressão, por mais que a vítima tente encontrar um gatilho, uma desculpa para o ato.
Este Blog compreende que casos de suicídio devem ser divulgados, sim, inclusive como forma de prevenção.
O país há muito vive uma pandemia de suicídios e é mais um flagelo, para além da Covid-19, que atinge de forma impactante a saúde pública.
Os casos de depressão, ansiedade e demais doenças que afetam a saúde mental não respeitam idade, sexo, condição social.
Se você, na sua casa, perceber algo diferente no comportamento entre seus entes queridos, não subestime. Dê atenção e procure ajuda imediatamente.
Ligue urgente no número188 ou acesse, a qualquer hora, https://www.cvv.org.br, conte o caso e peça orientação.
Setembro Amarelo
A campanha de conscientização e prevenção ao suicídio, Setembro Amarelo, começou em 2015 e continua marcando presença nas discussões sobre o tema.
Durante o mês, diferentes iniciativas abrem diálogo sobre os transtornos que podem levar ao suicídio, entre eles a depressão.
Segundo pesquisa divulgada pela Associação Brasileira de Familiares Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos (Abrata), 66% das pessoas conhecem alguém com depressão severa, e 41% afirmam terem conhecido alguém que cometeu suicídio.
É imprescindível que, ao tratar de um assunto delicado, as pessoas saibam a melhor forma de disseminar informações de maneira sensível e responsável.
Segundo Celso Lopes de Souza, psiquiatra, educador e fundador do Programa Semente – programa estruturado de aprendizagem socioemocional –, o primeiro erro com relação ao tema do suicídio é não falar sobre ele. O psiquiatra aponta alguns pontos que precisam ser reforçados quando se aborda o assunto. Confira cinco deles:
1. Suicídio é coisa séria
A Organização Mundial da Saúde aponta que o suicídio é a segunda causa de morte que mais atinge os jovens de 15 a 29 anos no mundo. Além disso, só no Brasil, uma pessoa comete suicídio a cada 45 minutos. “Pesquisas mostram que 9 a cada 10 pessoas que cometem suicídio tinham algum transtorno psiquiátrico”, afirma Celso. Segundo ele, o suicídio é uma realidade que não deve ser negada, e sim tratada como um problema de saúde pública.
2. Não é preciso medo para falar sobre suicídio
“Já está mais do que comprovado que falar sobre o assunto não agrava a situação, muito pelo contrário, pode ajudar a tratar as pessoas que tenham essa intenção”, diz.
De acordo com o especialista, existem alguns pontos que devem ser levados em consideração ao falar sobre o assunto. Para exemplificar, ele cita a série 13 Reasons Why, da Netflix.
“A série tem o lado bom que é a promoção da discussão sobre o assunto, mas há cuidados que precisam ser tomados na discussão sobre o tema que ela aborda. Por exemplo, ela mostra a continuidade da personagem após a morte por meio de um material que ela deixou.
Isso gera a ilusão de que a personagem continua interagindo com as pessoas que eram próximas, mas suicídio é morte. Isso não invalida a arte, pelo contrário, discutir isso ajuda a falar do tema por meio da reformulação das distorções que a série apresenta. ” (A série já está em sua terceira temporada, disponível na plataforma de stream.)
3. Pensamentos de morte é uma coisa, ideação suicida é outra.
Celso Lopes de Souza diferencia o pensamento de morte com a ideação de suicídio para que as pessoas possam entender melhor a questão:
“o pensamento de morte é mais comum, a pessoa pensa ‘eu poderia morrer’, ou ‘eu queria morrer’. Já a ideação do suicídio é mais grave, em que a pessoa pensa ‘eu quero me matar’”.
Segundo o levantamento do Ibope, o pensamento suicida não é levado a sério entre 28% dos homens e 32% das pessoas acima de 55 anos.
Celso explica que as pessoas que tem ideação suicida vivem os 3 “is”: “sentem que a dor é impossível, insuportável e interminável, o que leva ao desejo de querer tirar a própria vida.
Elas claramente não conseguem perceber sozinhas que esses “3i’s” são distorções de percepção da realidade, por isso precisam de ajuda”.
4. É possível prevenir o suicídio
De acordo com o especialista, falar sobre os sintomas que podem surgir antes e durante uma intenção de suicídio é fundamental para que a pessoa busque ajuda.
“Sinais com o isolamento, corte de planejamentos futuros, uso de substâncias psicoativas e mensagens de despedida são alguns pontos que devem ter atenção especializada”, diz.
E também há como prevenir os distúrbios psiquiátricos por meio da aprendizagem socioemocional, em que crianças e adolescentes aprendem na escola sobre empatia, resiliência, autoconhecimento e autocontrole, por exemplo.
“Há farta evidência científica de que a aprendizagem socioemocional é um fator de proteção para o surgimento de transtornos psiquiátricos.
No Programa Semente, nós oferecemos uma formação socioemocional do Ensino Infantil ao Ensino Médio, e quanto mais isso for exercitado, maiores as chances da diminuição de doenças como ansiedade e depressão”, explica Celso.
O levantamento do Ibope também mostra que 29% dos jovens entre 18 e 24 anos não acreditam no tratamento bem-sucedido da depressão, e segundo a OMS, pelo menos 30% da população mundial vai passar por algum momento de depressão ao longo da vida.
5. As campanhas de prevenção são fundamentais
O Setembro Amarelo é uma oportunidade de conscientizar as pessoas e promover a discussão sobre o tema do suicídio.
Para Celso Lopes de Souza, as campanhas “são muito importantes porque mostram que o suicídio e o pensamento suicida é algo humano. E nelas deve haver as mensagens de que, primeiro, sempre há uma saída e, segundo, tudo passa.”
Sobre o Programa Semente (www.programasemente.com.br) – Com uma abordagem moderna e inovadora, o Programa Semente é uma solução completa de formação socioemocional de alunos e educadores em diversas escolas brasileiras.
A partir de um material escrito por educadores, médicos e psicólogos, sua metodologia possibilita que sejam trabalhadas questões como sociabilidade, autoconhecimento, autocontrole, empatia e decisões responsáveis, entre outras habilidades, cada vez mais presentes no mundo do trabalho e nas principais avaliações internacionais de educação.
Desta forma, o Programa Semente contribui para a alfabetização emocional.