De Campos Belos (GO), atleta de vôlei vence vida difícil na roça e vira aposta do Evs Engelholms, da Suécia
A jornalista Alexandre Achcar, do site Globo Esporte Tocantins, fez uma bela e longa matéria sobre uma atleta campos-belense das mais admiradas.
o texto a seguir é de Achcar.
O hobby que virou profissão! Nascida em Campos Belos (GO), Domingas Soares, 26 anos, teve que viver parte da infância em um sítio, em Paranã, no interior do Tocantins.
Domingas cresceu, e era hora de sair para trabalhar. Até o caminho dela se cruzar com o vôlei, a jovem viveu de tudo um pouco. O esporte foi apresentado pela irmã Silvania Soares Araújo, incialmente apenas um hobby com práticas frequentes. Anos mais tarde, a diversão virou profissão e a jovem chegou ao Engelholm VS, da Suécia. A atleta vem se destacando na posição de ponta.
Mas antes da glória, Domingas conta que teve que trabalhar na casa de outra família em troca de comida e de um lugar para viver.
– A gente tinha que sair para estudar, só que acabava que tinha pessoas que usavam disso para praticamente fazer trabalhos escravos e exploração infantil, até porque na época, os mais ricos mandavam e os pobres obedeciam –desabafa.
E foi nesta época que a irmã, Silvania Soares Araújo, apresentou o vôlei para Domingas. Silvana já era atleta do vôlei de praia.
– Como eu cresci rápido, e comecei a ter aquela fase do “estirão [do crescimento]” e tudo, ela olhou para mim e disse que eu tinha o biótipo bom, era alta e que podia ser uma grande jogadora.
Mas o início não foi nada fácil. Ela frustrou porque não tinha tanta facilidade com a bola, porém, continuou tentando por pura diversão e por incentivo da irmã.
– Nos treinos de areia e era um desastre, era muito difícil. Eu não sabia dar um toque. Mas isso é questão de paciência, quando errava eu já falava que não tinha nascido para isso e eu era muito ruim.
Com o passar dos anos, a jovem foi se adaptando ao esporte na areia. Já com afinidade, Silvana levou Domingas para conhecer o treinador Zico, que trabalha com vôlei de quadra em Palmas.
– Ela disse que eu tinha muito potencial, mas que precisava ser trabalhado. E então, me ofereceu para o time do Zico, referência no Tocantins. A princípio ele disse não, porque eu tinha muitos vícios de areia e tudo, mas depois Zico me viu jogar e me deu uma chance – lembra.
Com a oportunidade, Domingas encarou várias competições com a equipe de Zico.
– Comecei a viajar para os jogos escolares, os Brasileiros e fui defendendo a seleção. Foi muito rápido. Com um mês eu já estava defendendo a seleção do Tocantins. E foi em um destes brasileiros que eu tive a oportunidade de ir para o Rio Grande do Sul. Por lá joguei na base e no adulto.
E foi no Rio Grande do Sul, que a jovem Domingas deu outro passo à frente na carreira de atleta profissional do vôlei. As propostas começaram a surgir. Em pouco tempo, a jovem já era contratada do São Caetano, onde adquiriu mais experiência.
Mas o percurso até o profissional não foi fácil. Ela explica que durante o tempo que atuava na base de algumas equipes, o dinheiro era pouco, e foi a irmã Silvania que a ajudou.
– Quando eu estava na base eu recebia R$ 100, e por muito tempo foi assim. Depois passei a receber R$ 150, depois R$ 200. Isso já fazendo parte da seleção, tendo títulos, sendo campeã na seleção, mundial e tudo. A minha irmã trabalhava para me mandar dinheiro, para me mandar pelo menos o dinheiro do almoço, uma bolacha. Foi muito difícil.
Já com experiência na bagagem, Domingas resolveu buscar o mercado internacional, e foi então que recebeu a proposta para defender a cores do Engelholm VS, da Suécia.
– A Suécia foi uma surpresa, porque foi um time de última hora que mandou uma proposta. Eu falei: “Uau, vamos começar! ”. É um clube que tem uma trajetória muito boa no esporte, que tem uma bagagem, é campeão, referência no país deles. Então, foi uma opção muito boa para começar minha carreira internacional – conta.
Ela segue no clube sueco, e lembra que vencer vai muito além de apenas ter dinheiro.
– Meu pensamento desde quando comecei a minha carreira no vôlei foi não só motivar pessoas, mas motivar através da minha vida. Elas [pessoas] sabem tudo o que eu passo, todas as lutas, todas as trajetórias e eu tenho orgulho de levar o nome do Tocantins, e do Brasil – finaliza.
Fonte e texto: GE Tocantins