Wikileaks: Cyberguerra, em gotas
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Por Sérgio Malbergier
Não é o conteúdo, mas a forma a grande novidade do WikiLeaks, a notória e obscura organização que vazou na rede mundial toneladas virtuais de documentos da diplomacia americana.
O episódio vai entrar para a história mais como um marco da emergente, opaca e assimétrica cyberguerra global do que pela rica coleção de obviedades e fofocas ultraqualificadas reveladas até agora.
Quem é o inimigo dos EUA neste caso? O esquisito Julian Assange, fundador do Wikileaks? Ou seus apoiadores? Quais apoiadores? Seria ele um testa de ferro? De quem?
Uma coisa sabemos: o ataque do Wikileaks contra os EUA mostra como mesmo o país mais poderoso do mundo pode sangrar diante de um inimigo minúsculo, mas incontrolável.
A prisão de Assange no Reino Unido por acusação de estupro na Suécia e o cerco aos sites que publicam suas gotas de informação não parecem capazes de estancar o vazamento.
E há promessas/ameaças de que chumbo mais grosso vem por aí.
Rumores sobre a divulgação iminente de documentos comprometedores de um dos maiores bancos do mundo derrubaram suas ações na Bolsa de Nova York.
É uma guerra que de virtual não tem nada e que pode ser travada entre pessoas, empresas, organizações, países ou qualquer combinação desses atores.
Sites de pessoas e organizações que de alguma forma ajudaram no cerco ao WikiLeaks e na prisão de seu chefe sofrem agora cyberataques furiosos do que dizem ser hackers solidários.
E hackers podem ser de solitários cavaleiros da web a militares armados de super computadores.
Todos somos hackers.
Pense na sua capacidade de acessar, armazenar e divulgar dados sobre terceiros.
Ela é imensa. E não pára de crescer.
O mundo real está cada vez mais convergente com o mundo digital.
Nossa dependência total da internet mostra como a rede mundial é o fenômeno mais importante no mundo hoje.
Não pode haver nada mais poderoso do que conectar todas as pessoas do mundo ao mesmo tempo e sempre.
Mal começamos a sentir os efeitos desse novo “big bang”. Para o bem e para o mal.
O WikiLeaks é só um aperitivo do que vem por aí. Prepare-se se puder.
Sérgio Malbergier é jornalista. Foi editor dos cadernos Dinheiro (2004-2010) e Mundo (2000-2004), correspondente em Londres (1994) e enviado especial da Folha a países como Iraque, Israel e Venezuela, entre outros. Dirigiu dois curta-metragens, “A Árvore” (1986) e “Carô no Inferno” (1987). Escreve para a Folha.com às quintas.