Promotor de Arraias (TO) classifica de grande retrocesso social decisão do governo tocantinense de fechar escola agrícola




Por Dinomar Miranda, 

O promotor de Justiça da
Comarca de Arraias (TO), João Neumann Marinho da Nóbrega, definiu como “g
rande  retrocesso  social” o fechamento da Escola Estadual 
David  Aires  França, conhecida carinhosamente na
comunidade como “Escola Agrícola de Arraias”.
  
O representante do Ministério Público entrou com uma Ação Civil Pública no Tribunal de Justiça do Estado Tocantins, no último dia 22 de outubro,
contra a Secretaria Estadual de Educação, que a todo custo deseja cerrar as portas
do estabelecimento educacional.
Segundo João Neumann, a
escola desenvolve processos formativos e de ensinos de alta relevância para alunos  pobres e excluídos  da  comunidade 
de  Arraias  e 
região  sudeste  do Tocantins, de sorte que o fechamento sem
fundamentos razoáveis da unidade  escolar  implicará 
grande  retrocesso  social 
e  violação  ao 
direito  social  à educação e ao princípio da proteção
integral.
O promotor deixou claro na
ação que o argumento apresentado  pelo Secretário  Estadual 
da  Educação, Danilo Melo,
baseia-se nos  custos elevados para
manutenção da  “Escola Agrícola”, mas que
não é convincente. 

“A autoridade busca justificar o fechamento da escola com  base 
em  questões  orçamentário-financeiras  (custo/aluno).  

Acreditamos  ser um equívoco comparar os gastos de uma
escola de educação profissional, em  tempo
integral e com funcionamento em regime de internato e semi-internato, com uma
escola regular, geralmente em  tempo
parcial. 

Uma escola com  essas
especificidades demanda maiores gastos com alimentação,  transporte,  higiene, segurança e acomodações”, afirma na Ação. 
Além disso, diz o
promotor,  ao calcular a média de gastos por aluno, a
SEDUC incluiu os investimentos em  manutenção,  construção 
ou  reforma  e 
formação  de  profissionais,  o  que  caracteriza investimento e não despesa direta
com o aluno. 

“Percebe-se,
portanto, que os  dados não suportam uma
análise crítica mais detalhada, ficando claro que os  valores 
informados  decorrem  de 
interpretação  equivocada,  posto 
que  se  reuniu 
numa  mesma  planilha 
investimentos  e  despesas, 
sem  considerar,  ademais, 
a  peculiaridade  de 
que  a  Escola 
Agrícola  trabalha  em 
tempo  integral, em  regime de 
internato e  semi  internato, além de oferecer o Curso  Técnico profissionalizante integrado ao Ensino
Médio.”
  
Argumentos do diretor da escola também foram usados
da defesa

O promotor de Justiça João
Neumann Marinho da Nóbrega também usou em sua peça os argumentos do diretor da
escola Agrícola, José Marcos  Dinalo. 
“Esta  unidade 
escolar  atende  alunos  do 
Estado  do  Tocantins 
e  do  Estado de Goiás, por estar localizada em
região fronteiriça.
Com seu  funcionamento 
e  a  implantação 
do  regime  de 
alternância  em  uma  escola
ainda a ser construída, esses alunos perdem o amparo  legal  de  continuar 
seus  estudos  uma 
vez  que  a 
SEDUC  não  oferecerá  transporte a alunos de outro estado.
Entendemos que o cidadão
tem  direito  ir 
e  vir  ficando 
cada  um  responsável 
por  escolher  a melhor  escola que atende aos seus interesses. Reafirmamos
a necessidade  da permanência da Escola
Estadual Agrícola David Aires França em  funcionamento
no município de Arraias,  inclusive com o
sistema de  internato e  com oferta de alojamentos,  conforme demanda. 
Isso  se  justifica
devido a sua relevância e importância social na comunidade  local 
e  região  circunvizinha,  tendo 
em  vista  a 
sua  trajetória,  sua  história
e suas conquistas (…) Com a transferência da rede municipal para  estadual 
em  2004,  cresceu 
significativamente,  sendo  que  um
 dos marcos dessa  trajetória 
foi a  implantação do Curso
Técnico em Agropecuário  integrado ao
Ensino Médio.
Devido a  isso, houve uma crescente  procura 
por  vagas  e 
consequentemente  a  ampliação 
do  número de profissionais.
Atualmente oferta, na modalidade 
integral,  as  séries 
finais  do  Ensino 
Fundamental  e  o 
Curso  Técnico  em Agropecuária  Integrado  ao 
Ensino  Médio. 
O  grande 
diferencial  da escola  é 
atender  os  alunos 
em  regime  de 
internato  e  de 
semi-internato.  Ao  longo 
desses  anos  tem 
assumido  papel  de 
grande importância na comunidade que é o de fazer brotar a prosperidade
e a  produtividade  num 
cenário  adverso. 
O  Público 
atendido  pela instituição  é 
formado  majoritariamente  por 
filhos  de  pequenos agricultores  da 
região  sudeste  do 
Tocantins  e  nordeste 
de  Goiás, com características
socioculturais marcantes.
O trabalho da escola é voltado  para 
a  valorização  dessas 
características  e  ampliação 
de horizontes. Cerca de 90% dos alunos 
tem históricos de  reprovação, defasagem  no 
processo  de  alfabetização 
e  elevado  índice 
de  distorção idade série.
Esses alunos muitas vezes
são marginalizados  socialmente, marcados  pelo 
desinteresse,  desmotivação  e 
falta  de perspectiva  de 
futuro.
Com  o 
trabalho  pedagógico  contextualizado, restituem  a 
disposição  e  o 
prazer  de  permanecer 
na  escola,  pois encontram nela condições de desenvolver
conhecimentos adquiridos, voltar 
para  suas  origens, 
trabalhar  de  forma 
consciente  e competente,  para 
assim  contribuir  na 
transformação  da  realidade social. 
A  partir 
das  características  mencionadas 
e  das  demandas locais,  a 
escola  desenvolve  nas 
disciplinas  de  formação 
técnica projetos  que  fomentam 
o  preparo  dos 
seus  profissionais  para  a
  redução
de alimentos como o cultivo de hortaliças, culturas anuais, sistemas  agro-florestais,  avicultura, 
fruticultura,  suinocultura, bovinocultura  e 
ovinocultura. 

Tais  projetos 
levam  em  conta, 
a  amplitude do conhecimento que
é  transformado em experiências de  aprendizagem 
e  preparação  para 
a  formação  técnica 
com capacidade para se desenvolverem na região considerando as suas peculiaridades.”

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