Perdemos seu Rafael, o nosso velho PT



Perdemos nesta semana, na cidade de Posse (GO), um amigo de muitos anos. 


Por batismo, o chamavam de Rafael, mas na minha casa, nós o batizamos de “PT”.


PT foi um apelido colocado em seu Rafael ainda pelo meu pai, Orlandido Santos, há mais de 30 anos. De lá prá cá seu Rafael virou ente da família. 


Natural da Canabrava, município de Arraias (TO), PT contava com mais de 80 anos, muitos deles vividos e sofridos nos sertões, como costumava dizer. 


Lavrador de mão cheia, cuidava como ninguém de uma roça de milho, de arroz de feijão. Conhecia como ninguém as manhas das coivaras e das vigias.  


Lembro-me  de quando completou seus 70 anos, ainda era ativíssimo em suas labutas agrárias e de roçado. 


Pai atencioso e carinhoso, criou e cuidou sozinho dos filhos desde pequenininhos, após uma separação dolorosa com a ex-esposa. 


“Olha Dinomar, “caboco” aqui nesse sertão de Arraias passou fome. A gente da Canabrava, no período da seca, as vezes não tinha o que comer e quantas vezes me alimentava de apenas bagem de coco. Era um período difícil e sofremos muito aqui neste sertão. Hoje só tem fartura”, dizia. 


PT tinha um enorme carinho por mim e em todas as minhas visitas a Campos Belos, ela era a primeira a pessoa a aparecer para prosear e tomar um café. Isso por mais de 25 anos.


Não era alfabetizado, mas era extremamente inteligente e crítico. Eu dizia que se PT tivesse tido a oportunidade dos estudos, ele seria francamente um grande e bom político.


Acompanhava pela TV todos os escândalos de Brasília e nas visitas em minha casa contava e opinava sobre todos eles. 


Já velhinho, deixou Campos Belos e foi morar com um dos filhos em Posse (GO), com o Petezinho. 


Mas a saúde não era mais a mesma.  Há dois meses, uma das filhas de Seu Rafael me mandou um recado. “Dinomar, meu pai está tão contrariado com o governo da presidente Dilma que agora não quer mais ser chamado de PT, viu”, brincou. 


E a triste notícia chegou na última quinta-feira (9). adoentado e sendo cuidado por seus filhos, foi internado,  mas não resistiu e morreu em Posse. 


Seu corpo foi transladado para Campos Belos, onde foi velado e sepultado no Cemitério São João Batista, no Setor Bem Bom, onde morava e pelo qual também tinha enorme carinho. 


Fiquei triste e pesaroso pela morte de PT, assim como toda a minha família. Escrevo este texto com lágrimas nos olhos e muito sentido em não poder ter saído de Brasília para despedir-me do meu velho amigo.  


Mas a minha família em Campos Belos, minha mãe e irmãos, nos representou bem, velho amigo.  


Aos filhos e netos do meu amigo PT, meus sinceros sentimentos. 


O pai de vocês cumpriu, de forma excepcional, o papel dele entre nós. Que Deus o tenha em bom lugar. Que fique em nossas lembranças, o seu sorriso e a sua imensa bondade. 


Hoje, uma das filhas publicou, numa rede social, uma mensagem de carinho ao nosso Velho PT. 


“Meu pai tão amado, nunca tive dúvidas do imenso amor que sentia e ainda sinto, mas nunca imaginei que um ser humano pudesse sentir uma dor tao grande na alma. 


É uma saudade jamais sentida por ninguém. Nunca tive um pai jovem, então cresci com medo de perder. Mas Deus foi tão generoso comigo e meus irmãos que permitiu que criasse a todos. Viu netos ficarem adultos e até alguns bisnetos.


Hoje faz três dias que Deus levou meu pai e seis dias que me deu a minha pequena Gabriela.


Estou chorando a perda do meu pai e celebrando a vida da minha filha. Dois sentimentos tão opostos de duas pessoas tão importantes quanto a outra”, escreveu Maria Badia Vieira. 


Ao comentar  as nossas  condolências,  Maria Badia Vieira respondeu: “Eu sei Dinomar. Sou testemunha da amizade que ele tinha a vc, já ouvi varias vezes ele falando de vc com tanto orgulho como se fosse um pai.”

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