Com Gabo o almoço fica mais caro!



O casarão do século XVII com pé direito superior a cinco metros estava cheio, sinal de que já era hora do almoço. 


Somente uma hora de fuso horário já é o suficiente para confundir nosso organismo quanto ao momento certo de alimentar-se. Logo na entrada ao conferir o cardápio fui identificado pelo garçom:          
                                  
– brasileño perguntou ele? 


– Sim, respondi até com um ar de timidez, dada a altivez e a alegria expressada na face daquele ex boxeador de quase dois metros de altura. 


Virando para a banda que interpretava uma caliente música local solicitou que executasse “Aquarela do Brasil” em minha homenagem. Me senti o cliente mais importante do restaurante.


Mesmo com a casa cheia o garçom fez questão de me levar até uma mesa no canto do salão, que, diferente das demais existia apenas uma cadeira. 


Nada de estranho, haja vista que me encontrava sem companhia pro almoço pois havia desgarrado do grupo para dar uma conferida na saúde. 


Estava saindo de uma forte intoxicação alimentar. Assim, era prudente que consumisse uma comida bem leve, algo que não colocasse em risco meu fragilizado intestino. 


O garçom elogiou minha escolha: buena escolha, mui bom o pescado gralhado disse ele, falando um portunhol de Cuba Oriental.


Enquanto esperava o almoço viajava pela história de Havana, um dos maiores patrimônios arquitetônicos do mundo. A beleza da capital cubana encanta mesmo aqueles acostumados com as formas arquitetônicas do velho mundo. 


Há um diferencial em cada detalhe de seus monumentos históricos. Igrejas, teatros, museus, bibliotecas, livrarias, enfim, Havana é um convite irrecusável para o que de melhor existe na cultura latina. Em cada esquina ela nos reserva uma surpresa!!


Sorridente o garçom preparava a mesa, ao passo que a banda homenageava outro brasileiro que acabara de entrar no recinto, desta feita com “Garota de Ipanema”. 


Primeiro o vinho (não sei se combina com o prato), peixe grelhado adornado com alguns saborosos camarões. 


Para acompanhar o prato salada e banana frita, essa última uma característica da cozinha cubana, seja nos simples ou sofisticados restaurantes.


O sorvete de sobremesa foi por conta da casa, uma coisa rara na ilha em função da reduzida produção leiteira. Ao consultar o velho relógio de parede percebi o avançar da hora. 


Os compromissos do “XV Encontro de Geógrafos da América Latina” não poderiam esperar, teria que deixar o saboroso ambiente havanês.


 Ao conferir a conta percebi que os valores estavam superiores aos anunciados no cardápio, fato que questionei imediatamente ao garçom. Gentilmente ele solicitou que eu pudesse ler a mensagem fixada na parede ao lado da mesa. 


Na placa muito bem talhada em mármore estava escrito: por um longo período essa foi a mesa onde sentou o escritor Gabriel Garcia Marques. Nesse local Gabo escreveu parte de sua vasta obra literária.


Paguei a conta e ofereci uma boa gorjeta ao atencioso garçom, que me disse sorridente:   – almorzar con Gabo custar más caro!!! 


VALMIR CRISPIM SANTOS
Geógrafo e Agente de Defesa Agropecuária
Campos Belos – GO 

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