Saúde aos cacos: ‘Foram três horas tirando bichos de dentro do meu pai’, diz filha de paciente que morreu em Brasília
A presença de moscas na unidade semi-intensiva do Hospital Regional de Ceilândia (HRC) pode ser a causa de larvas encontradas dentro do nariz de Adenor José Viana, 86 anos.
O paciente morreu após mais de um mês de internação por fratura no fêmur causada por uma queda.
Foram os familiares que identificaram a situação do idoso e retiraram os bichos de seu corpo durante três horas. A Secretaria de Saúde nega que a morte tenha sido causada por isso e diz que a mosca é doméstica.
O paciente era agricultor e morava em Santo Antônio do Descoberto, na região Metropolitana do DF.
No fim de setembro, ele sofreu uma queda e fraturou o fêmur. Foi levado ao Hospital Regional de Brazlândia e, depois, transferido para o HRC. Sua filha mais velha, Arlete Lopes Cristiane, 64 anos, contou ao Jornal de Brasília ele ficou um mês “jogado” no pronto-socorro por falta de leito.
“Ficou na ortopedia, aquele corredor da morte, depois foi para a clínica médica e ortopédica, onde feria cirurgia”, contou a filha.
Porém, não havia prótese, roupa para os médicos ou agulha para anestesia. Internado, o paciente desenvolveu sintomas de pneumonia e falha nos rins semanas depois. “Ele estava entubado e eu implorei que fizessem traqueostomia, mas não atenderam aos pedidos”, lamentou.
Arlete contou que na quinta-feira (3), quando a família foi visitar o paciente, identificaram as moscas e larvas. “Meu filho tirou uma por uma com uma pinça de sobrancelha e fui colocando em uma seringa. Foram três horas tirando bicho de dentro do meu pai.
Depois, uma funcionária me informou que desde a manhã a equipe removia as larvas”, relatou. De acordo com ela, havia, há pelo menos três dias, moscas voando pela área que deveria ser assepsiada.
“Quando entubado, o paciente fica com a boca aberta. As moscas devem ter colocado ovos lá dentro”, continuou.A família de Adenor José Viana diz que o cenário de ontem no HRC era de caos. Após o fechamento da emergência do Hospital de Brazlândia, os pacientes foram realocados para ali.
“Tinha uma médica com seis pacientes. Depois, descarregaram 16 pacientes que vinham de Brazlândia. A médica chorou junto comigo pela situação. É desumano, estou revoltada”, definiu Arlete Lopes Cristiane.
Agora, eles prometem não descansar até a Justiça tomar providências. Já registraram boletim de ocorrência e procuraram o Ministério Público. “Estamos mobilizando o Brasil inteiro. Não vamos parar.
Quero saber de tudo o que aconteceu com meu pai aqui, quero que façam autópsia para saber o caminho feito pelas moscas, pois certamente há mais”, lamentou a filha mais velha do agricultor, que morreu no fim da manhã desta sexta-feira.
Em coletiva de imprensa realizada na tarde desta sexta (4), a diretora do HRC, Andrea Noguera Araújo, pontou como frequente a presença de moscas domésticas nas demais alas do hospital por se tratar de ambientes comuns em áreas com ventilação natural.
A diretora do hospital disse que as larvas encontradas no paciente, provavelmente ocorreu na enfermaria onde a fiscalização é menor do que na sala amarela.
Segundo ela, uma reunião foi feita com funcionários responsáveis pela área, afim de identificar possíveis problemas de vedação nas portas e controle ambiental na enfermaria e também na unidade semi-intensiva do Hospital.
O velório será na Cidade Eclética, uma comunidade religiosa da Fraternidade Eclética Espiritualista Universal situada em Santo Antônio do Descoberto.
Fonte: Jornal de Brasília