Campos Belos: chegou a hora de se discutir o futuro das águas no município

Um leitor atento nos mandou essas imagens, que mostram um desmate de uma fazenda, na região nordeste do município de Campos Belos, próximo à Serra Geral e nas imediações da nascente do Rio Mosquito. 


O intuito aqui não é criminalizar o fazendeiro, que, aliás, nem sabemos o nome. 


Até porque o local não é área de preservação ambiental (APA) ou uma reserva ecológica. 


O fazendeiro deve estar dentro da lei e querendo fazer renda com o seu bem. 


Não somos contra o agronegócio, pelo contrário, queremos que ele cresça, obviamente em paralelo à preservação ambiental. 


Mas publicamos as imagens para alertar a comunidade da delicadeza do tema. 


Campos Belos, assim como toda a região passa por uma severa estiagem e a tendência é  a piora com o passar dos anos; com o recrudescimento do aquecimento global e com o aumento da população, da poluição e do uso da água. 


Ocorre que o município é carente de água. 


Recentemente este Blog mostrou como anda o Rio Montes Claros, única fonte de 20 mil habitantes, quase seco.  


O rio bezerra também está numa situação delicada.   


O que sobra são a fontes de água nascidas próximas à Serra Geral, como o rio Mosquito, pivô da grande enrolação política, que há 40 anos tenta trazer a água doce para os lares da cidade. 


Mas o  que o ocorre quando se começa a desmatar as áreas berços das fontes de rio como o Mosquito?


A pergunta só tem uma resposta. Aridez e escassez. 


Chegou a hora de os vereadores da cidade tomarem uma iniciativa mais pragmática em defesa das nascentes do município e também dos cursos d´água.  


Há que se chamar a comunidade para o debate e encontrar saídas, soluções. 


O futuro é sombrio e não espera. 


O que está em jogo nem é mais a qualidade de vida das futuras gerações (netos e bisnetos), mas a qualidade de vida desta geração, que começa a sentir os dissabores da seca.


Há anos temos falado isso aqui. 


Mas a comunidade, as autoridades, as pessoas em geral têm dado de “ouvido ao mercador”. 


Parecem que não querem ouvir ou o “problema é dos outros”. Não minha gente, o problema nosso.

Por muitos anos morei no nordeste do país e vi de perto o que a seca é capaz de fazer. 


Bastar ler o livro “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos, para se ter a noção do que é viver sem água. 


O romance, publicado em 1938, retrata a vida miserável de uma família de retirantes sertanejos obrigada a se deslocar de tempos em tempos para áreas menos castigadas pela seca. 


O livro possui 13 capítulos que, por não terem uma linearidade temporal, podem ser lidos em qualquer ordem. 


Porém, o primeiro, “Mudança”, e o último, “Fuga”, devem ser lidos nessa sequência, pois apresentam uma ligação que fecha um ciclo de mudança” narra as agruras da família sertaneja na caminhada impiedosa pela aridez da caatinga, enquanto que em “Fuga” os retirantes partem da fazenda para uma nova busca por condições mais favoráveis de vida. 


Assim, pode-se dizer que a miséria em que as personagens vivem em Vidas Secas representa um ciclo. Quando menos se espera, a situação se agrava e a família é obrigada a se mudar novamente.


Fabiano é um homem rude, típico vaqueiro do sertão nordestino. Sem ter frequentado a escola, não é um homem com o dom das palavras, e chega a ver a si próprio como um animal às vezes.


Então meu povo, é hora de levar a coisa a sério. Ou queremos nos tornar animais? 

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