Leitura e cultura: Arraias (TO) ganha uma obra para a eternidade


No último Carnaval fui a Arraias (TO) e tive a felicidade de ser recepcionado pela minha professora de ensino médio (início da década de 90) e de sempre.
E como era exigente, principalmente na leitura.
Magda Sueli, que é pós-doutora pela Universidade Federal de Sergipe/ Universidade de Paris 8, na França, e professora titular da Universidade Federal do Tocantins, desenvolve um belíssimo trabalho de resgate cultural e de cidadania junto à comunidade quilombola de Mimoso, situado no município de Arraias.
A minha visita à professora também foi para tentar pagar uma dívida impagável: a ausência no lançamento de seu livro, ocorrido no último dia 10 de fevereiro, num grande e prestigiado evento cultural, organizado na Câmara de Vereadores.
Entre uns goles de suco de mangaba e umas colheradas da autêntica paçoca arraiana, pude também degustar de um saboroso e prazeroso bate-papo com Magda.
De presente, trouxe para Brasília obras e autógrafos. “Ao querido Dinomar Miranda, ofereço este livro como um mosaico da história de Arraias”, diz uma das dedicações.
Neste fim de semana finalizei a leitura. E que saborosa foi a viagem por entre as páginas de “Educação e Cultura: o olhar e o sentir no chão do Mimoso”.
A obra reúne trabalhos realizados no período de 2012 a 2015, prosa e verso, da coordenadora do projeto e dos estudantes do Curso de Pedagogia, nas ações do projeto vinculadas às disciplinas de Didática e Planejamento e Gestão da Educação, ministradas por Magda Suely.
Os trabalhos escritos referem-se às oficinas e ao convívio com a Comunidade Quilombola do Mimoso, município de Arraias/TO, como memória do que viram e sentiram.
Magda Suely vem desenvolvendo, desde o ano de 2009, um trabalho de extensão como consequência da seguinte indagação: quais os porquês da desigualdade social no entorno da cidade? E de uma percepção: há falta de conscientização política.
Ela diz que a proposta junto ao Kalunga do Mimoso visa incentivar a Comunidade a tomar consciência da necessidade de maior participação na esfera pública, bem como, a consciência do seu próprio destino dentro da sociedade em que vivem.
“Essa tomada de consciência implica, portanto, numa ação que move o indivíduo a inserir-se e participar em sua comunidade, requer vivência e prática de cidadania”, afirma.
A página 27 é dedicada a Mylena Barreto, com o poema “Mimoso Sol do Sertão”.
“No sol quente do sertão brilha o sol da esperança
O Sol da esperança do sertanejo
Sertanejo este que por mais difícil que esteja
está e estará sempre com o brilho no olhar
No sol quente do sertão brilha a esperança
Esperança da chuva, esperança da água e de amor.
No sol quente do sertão, brilha o sol da confiança
Confiança no próximo, confiança em si
Confiança em dias melhores que estão por vir.
No sol quente do sertão brilha o povo sertanejo.
Brilha homens, brilha mulheres e crianças
Que sofrem, sonham ao brilhar
O brilho do olhar, a alegria no olhar
Olhar e a União, união que nos faz repensar pensar
Pensar a alegria no olhar
A compaixão, companheirismo
No sol quente do sertão.
Uma festa cultural
Prestigiado, o lançamento do livro na Câmara de Vereadores reuniu autoridades, artistas, gente do povo, amigos, universitários, professores.
A Casa do Povo se enfeitou toda para receber a homenageada. Os adereços eram os típicos do sertão: quibano, tapiti de mandioca, a velha lamparina, o ferro à brasa, a colher de pau.
Mas o que marcou mesmo foi a dança da sussa, típica dos quilombolas e preservada a centenas de anos. O som grave do batuque tomou conta e chamou para a dança o sertanejo do Tocantins, para lembrá-lo mais uma vez que preservar e rememorar é sempre necessário.
Os estudantes que integram o trabalho do livro também marcaram presença e fizeram questão de expressar a sua estima.
“Todo o trabalho desenvolvido na Comunidade do Mimoso resultou não apenas nos escritos que produzimos,mas também num abrangente processo de interação e reflexão política, social e cultural.
Ter um texto hoje, sendo lançado no livro que é fruto desse trabalho, engrandece-me não apenas em currículo, mas sobretudo na oportunidade que tive de comunicar aos leitores um pouco da minha vivência no período que fiz parte desse projeto de extensão.
Os aprendizados foram muitos, mas destaco o amadurecimento social, a criticidade política e a sensibilidade cultural ao interagir e vivenciar momentos no Mimoso.
É importante também frisar que a marca desse projeto envolve ainda a oportuna troca de saberes dos acadêmicos, professores e moradores da comunidade do Mimoso.
Os sentimentos, os anseios, a cultura e as formas de subsistências compartilhados conosco por parte da comunidade, tornaram- nos sensíveis e atentos às questões daquela comunidade.
Agradeço à prof Magda Costa pela tão bela e bem realizada maestria à frente desse projeto e também aos colegas de faculdade que dividiram comigo momentos incríveis na UFT.
Ainda colhendo frutos da minha passagem por essa Universidade e o sentimento de gratidão é enorme”, escreveu Breno Duarte.




