Desmotivação: professora de Campos Belos relata drama da classe



Prezado Dinomar Miranda, 


Sempre me perguntam por qual motivo estudo tanto, e eu sempre respondo: estudo para evoluir. 


Ser uma profissional melhor. Muitos colegas argumentavam que não adiantaria eu fazer uma segunda graduação e três pós-graduações. 


Que o município jamais reconheceria o meu esforço e o conhecimento construído. 
Mas contra tudo e contra todos, não obstante as inúmeras dificuldades, eu sempre acreditei que estava fazendo a coisa certa. Qualquer pessoa que me conhece sabe que além estudar, eu incentivo às pessoas estudarem.

Mas hoje estou decepcionada. Com vergonha dos colegas. Imaginado que estão dizendo: “Não falei”. E os meus alunos da UEG? Com quais argumentos vou incentivá-los a estudarem e ingressarem na profissão docente?

Concluí o Mestrado em Educação da Universidade de Brasília em Março/2017 e no semestre passado protocolei um requerimento de mudança do nível de especialização para o mestrado, no entanto na última semana, recebi a notícia que me foi negado a Progressão Vertical.

O Plano de Carreira garante que dois tipos de progressão, a saber: a Progressão Vertical e a Progressão Horizontal.

A Progressão Horizontal é aquela alcançada por meios de cursos. Mas mesmo com duas graduações, três pós-graduações e vários cursos, publicações e participações em eventos pelo país, eu jamais consegui evoluir nas letras. 


Em busca de resposta junto ao Sindibelo (Sindicato dos servidores públicos municipais de Campos Belos) sobre a estagnação da Progressão Horizontal e Vertical, obtive a seguinte resposta por meio de um ofício nº 076/2017 assinado pelo Senhor Prefeito Carlos Eduardo Pereira Terra.

Esclarecemos que somente se encontram atrasadas mudanças de referência após os servidores ter cumprido os requisitos do artigo 7º, e seus parágrafos da Lei 1.048/10, de 06 de dezembro de 2010 e até a presente data, não tem nenhum professor com a avaliação e pontuação obtida, conforme o §5º do artigo 7º citado para a concessão. (Ofício nº 076/2017)


          
Conforme esclarecido no parágrafo anterior, não há valor em atraso, pois uma vez que não há nenhum professor com pontuação obtida para mudança de referência, acima citado. (Ofício nº 076/2017)


O responsável pela elaboração do texto do ofício só esqueceu-se de destacar que a avaliação deve se realizada pela Comissão de Avaliação do Plano de Carreira cuja formação é responsabilidade do poder Executivo. Art. 22, §3º “A comissão de Gestão será nomeada pelo Executivo Municipal após indicação dos membros titulares, com mandato de 2 (dois) anos, renováveis por igual período.” 


Apesar dos componentes da referida comissão serem integrantes de diversas secretarias, a responsabilidade da implantação é do poder Executivo, de modo que os Professores não podem ser penalizados por uma obrigação que não lhes cabem. 


Os Professores não podem pagar pelo descuido da gestão.

Sou Coordenadora pedagógica em uma creche no município e acabo de sofrer uma alteração em meu salário de Novembro. Aumento: Não! Corte de 129,31, ou seja, uma redução de 50% da minha gratificação conforme Decreto municipal 190/2017.
         
Há tempos venho sendo desvalorizada no que diz respeito à progressão vertical. Eu tenho duas graduações. Sou licenciada em Letras e em Pedagogia (ambas realizadas presencialmente). 


Fiz três Pós-graduações, sendo que uma delas foi realizada na Universidade Federal do Goiás – UFG, e as aulas aconteciam em Formosa. Por dois anos eu tinha que pegar um ônibus para Brasília e de lá ir a Formosa.


Já fiz o cálculo e quando o prefeito resolver respeitar o meu direito de acesso às progressões vou passar mais de 4 anos para repor o gasto financeiro que fiz. Mas deixa-me informar sobre um gasto que jamais terá reposição: 


O tempo que fiquei fora da minha família, as vezes que deixei meus filhos doentes para viajar. O sofrimento, frio e fome que passei quando perdi o ônibus e tive que dormir na da rodoviária de Brasília. 


O cansaço extremo que me fez por inúmeras vezes dormir cansada no ônibus e passar da cidade. Quantas vezes fui parar no Tocantins. As noites de sono perdida, os anos envelhecidos. Não há reposição.


É difícil concluir um mestrado na Universidade Brasília – UnB. É necessário viajar toda semana durante dois anos. Isso requer muito sacrifício, que só se justifica por que acreditamos que de alguma forma seremos recompensados.


O gestor municipal anterior (ADM 2013/2016), não respeitava a legislação que regulamenta o Piso Salarial docente, desconsiderando a Constituição Federal (Art. 206, inciso V), a Lei nº 11.738/2008, e o Plano de Carreira aprovado pela Lei 1048 de 06 de Dezembro de 2010 que dispõe sobre o Plano de Carreira e Remuneração do Magistério Público Municipal de Campos Belos.


O gestor atual (ADM 2017/2020) cumpre a lei do piso, mas não garante as progressões, corta as gratificações de função e ainda modificou a organização estrutural da carga horária do professor de modo a comprometer ainda mais o salário docente.


Vários professores estão na mesma situação que a minha. Não importa a gestão, nós professores estamos sempre no prejuízo.


Fazer mestrado e doutorado no município, como diz um velho ditado, “é jogar pérolas a porcos.” 


Eles não sabem o que significa, não utilizam o seu conhecimento e não te reconhece financeiramente. Então, compensa estudar? É claro que sim, mas não para evoluir, e sim para sair. Para migrar da rede municipal para outros sistemas que pagam melhor e que reconhece a importância da qualificação profissional.


Tentei falar com o prefeito 8 (oito) vezes, mas ele nunca me recebeu. Enviei um parecer para o e-mail e entreguei impresso para a secretária dele, mas não obtive nenhuma resposta.  


Não vou desistir!! Antes de abandonar a rede municipal de educação lutarei para ter os meus direitos respeitados.



Profa. Luciana Nogueira

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