Valorização e reconhecimento: professora Andréa e o exército silencioso da inovação



Por Cléssio Bastos,
Toda escola pública abriga ótimas iniciativas, essa foi a premissa que me guiou desde as primeiras experiências conhecendo escolas dentro e fora do país.
Na verdade, várias escolas públicas abrigam muita inovação e profissionais buscando trabalhar fora da caixa alcançando bons e ótimos resultados com esse caminho.
A grande questão é que nem sempre a própria escola e seus profissionais se dão conta do caráter inovador do que realizam.
Com exceção da Riverside School, na Índia, visitei apenas escolas públicas “tradicionais” e em todas elas a premissa se confirmou.
Apesar dos pesares, as escolas públicas abrigam ótimas iniciativas, individuais ou coletivas. Mais uma vez pude conferir isso de perto em uma visita despretensiosa à Escola Municipal Professora Niedja de Souza Machado em Campos Belos, interior de Goiás.
Já havia ouvido muitos elogios sobre essa escola, seus resultados são conhecidos na cidade, talvez pelo fato de sua projeção no IDEB para 2021 ser 6,1 mas já em 2015 ela ter alcançado um 6,9.
Eu não acredito que tenhamos que colocar nosso trabalho em função do IDEB, tenho ressalvas a essas avaliações, porém estamos diante de um dado que merece ser analisado.
Eu não acredito que tenhamos que colocar nosso trabalho em função do IDEB, tenho ressalvas a essas avaliações, porém estamos diante de um dado que merece ser analisado.
Tudo começou quando fui a uma apresentação sobre o Dia Nacional do Livro Infantil na escola onde meu sobrinho estuda. Gostei da apresentação, da forma como tudo foi conduzido e do envolvimento dos alunos.
Também me chamou a atenção a estrutura da escola, muito limpa, bem decorada, espaços amplos e bem conservados. Ao final resolvi visitar a sala em que o Thiago estuda e confesso que me surpreendi ainda mais com o espaço e a dinâmica que a professora estabeleceu ali dentro.
O ambiente climatizado, as paredes branquinhas, os móveis de ótima qualidade e uma série de outros aspectos estruturais davam indício de uma escola que, aparentemente, recebia um tratamento especial, mas a série de recursos visuais pelas paredes e principalmente a disposição dos móveis me deram indício de que tinha algo para além de uma estrutura diferenciada, meu faro apontava para uma professora que inovava e, de fato, ao puxar assunto foi isso que constatei.
Andréa Soraia Ferreira, professora do 1º Ano, Pedagoga e Psicopedagoga, 22 anos alfabetizando.
Fiz algumas perguntas e ela prontamente tomou as rédeas da situação e foi me apresentar seu local de trabalho.
Nas paredes havia livros – no plural mesmo, produzidos por seus pupilos e alguns dos cartazes que enfeitavam a sala meio que conversavam com os alunos e interagiam com eles, eram mais que enfeites ou lembretes, tinham uma função de condução pelos processos e para os alunos funcionavam como jogos.
No entanto, o ponto que mais me chamou a atenção foi a disposição das cadeiras, quando vejo uma sala fora do padrão de filas já soa pra mim o alarme “tem professor inquieto aqui”, e a professora Andreia sabia direitinho o que ela queria com as carteiras organizadas daquele jeito – dê uma conferida na galeria de fotos.
Além da disposição que pude ver nos minutos que passei ali, ela ainda explicou outras organizações que usa de acordo com o que pretende, ou seja, ela desenvolveu um repertório de possibilidades e tem fluência nos usos, não é só desfazer as filas, há uma busca consciente por resultados.
Cruzei o planeta e fui até a Índia para aprender sobre inovação e em uma breve volta à cidade do interior onde nasci e me criei tive uma aula de inovação igualmente reveladora, qual a lição disso?
Temos profissionais e espaços com um potencial de inovação que desconhecemos, ou não reconhecemos.
A sala de aula da professora Andreia Soraia me pareceu tão pulsante e relevante para seus alunos quanto as salas de aula da Riverside e é incrível constatar isso em cada escola que eu tenho o prazer de conhecer.
Eu só entrei em uma das salas de aula da Escola Municipal Professora Niedja, certamente me admiraria também com o trabalho de outros membros da equipe, certamente em outras escolas da cidade descobriria tantos outros professores inovando em suas práticas e oferecendo uma experiência escolar mais relevante para seus alunos, mesmo em instiuições onde o IDEB não consegue fazer uma leitura eficiente de outros resultados.
Aos moradores da pequena Campos Belos, cidade na região da famosa e deslumbrante Chapada dos Veadeiros, corram e descubram seus professores inovadores que estão, talvez não necessariamente saindo da caixa, mas dando às suas caixas as formas mais variadas e oferecendo uma educação que certamente irá impactar positivamente a vida dos seus filhos.
O texto é de autoria do pesquisador Cléssio Bastos, nas fotos abaixo
O texto é de autoria do pesquisador Cléssio Bastos, nas fotos abaixo

