Os banguelas de Campos Belos (GO)

Há uma máxima em nosso país: os ricos vão ao dentista e os pobres sentem dor.

Dezenas de pessoas de Campos Belos (GO), nordeste do estado, têm procurado o Blog para reclamar de uma falha terrível da prefeitura local.

No fim do ano passado, o Executivo lançou um projeto de recuperação bucal para pessoas da comunidade.

Assim, centenas de pessoas procuraram os postos de saúde para tratamentos dentários, extrações e implantação de próteses dentárias.

Tudo caminhava bem, os postos de saúde ficaram lotados e a procura foi grande. Um dos mais procurados foi o “postinho” do ABCB, lotado numa região periférica da cidade.

Mas os dentistas logo se depararam com uma grande dificuldade.

A maioria dos pacientes, para seguir os protocolos de implantação de próteses, tiveram que iniciar uma série de procedimentos, principalmente de obturações, execução de canais e extrações.

E assim, diversas pessoas iniciaram, por exemplo, os procedimentos extrações, em virtude de os dentes estarem moles ou totalmente destruídos.

Muitos deles tiveram que arrancar todos os dentes da boca. Mas, por protocolo de segurança do pacientes, a extrações foram feitas de forma gradual até a totalidade, ao longo de semanas.

Depois, se esperava dias até a cura das extrações e a chegada dos profissionais protéticos, outra equipe vinda de Brasília, para dar prosseguimento na parte estética.

Mas o pior aconteceu.

A prefeitura de Campos Belos, do nada, e sem um explicação plausível, encerrou o projeto e muitos das pessoas ainda não tinham terminado os procedimentos.

Resultado, até hoje dezenas de pessoas estão banguelas, sem os dentes, e sem a tão desejada prótese.

Por sua vez, a prefeitura encerrou também os atendimentos odontológicos em todos os postos de saúde, atendendo somente aqueles casos emergenciais e com profissionais de saúde demitidos, por conta de restrições orçamentárias.

Já estamos em janeiro de 2024, e diversos pacientes que acreditaram no tratamento do Estado, do Poder Público, estão extremamente constrangidos com a situação, sem sorriso no rosto, sem poder se alimentar corretamente e pior, com sequelas emocionais.

O Blog procurou o prefeito Pablo Geovanne e buscou saber quais providências estão sendo tomadas, para ao menos retornar os tratamentos daqueles pacientes que iniciaram os procedimentos.

Ontem (17) o prefeito disse que se reuniria com sua equipe para encontrar uma solução e que mais tarde entraria com contato para trazer boas notícias.

O Blog e os pacientes aguardam as boas notícias.

Passou da época de o Brasil ser reconhecido internacionalmente como o país dos banguelas. Isso é inadmissível. Nosso Estado é rico, há dinheiro público suficiente. Basta gestão e boa vontade política.

País tem 16 milhões de sem-dentes

O país tem 16 milhões de sem-dentes. Levando-se em conta as pessoas que sofrem com a perda parcial dos dentes, esse contingente salta para 39 milhões, segundo o levantamento “Percepções Latino-americanas sobre Perda de Dentes e Autoconfiança”, feito pela Edelman Insights.

Além de usar dados do IBGE, a empresa ouviu 600 latino-americanos, entre eles brasileiros, e concluiu que, para 32%dos entrevistados, esse é um fator que os impede de ter um estilo de vida saudável e ativo.

Segundo o levantamento, 52% dos pesquisados disseram que a perda de dentes deixou a aparência do seu rosto pior; 43% afirmaram que isso os atrapalha namorar ou paquerar; e 21% disseram que a condição os impediu de fazer novos amigos. 

Sobre autoestima e fala, 38% das pessoas ouvidas disseram se sentir mais inseguras para ir a festas e eventos sociais; e 41% relataram mais dificuldade na pronúncia das palavras após a perda de dentes.

“Quando perde os dentes, a pessoa perde a autoestima. Você pode colocar um curativo no olho, pode andar de muleta, enfaixar o rosto, mas, se perder um dente, te tira o equilíbrio”, afirma a dentista mineira Maria Goretti Soares Pimenta.

“Quando você devolve a ela o sorriso e restaura esse equilíbrio facial, você vê a volta da felicidade e da dignidade”, diz ela, que trabalha com prótese.

A odontogeriatra Tânia Lacerda, integrante da Câmara Técnica de Odontogeriatria do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo, defende que é preciso compreender as dificuldades enfrentadas pelas pessoas que perderam os dentes e ajudá-las a encontrar um bom especialista que as auxilie na escolha de uma prótese adequada, de boa qualidade.

“O objetivo é que os pacientes tenham acesso à informação e conheçam os melhores produtos disponíveis no mercado para confecção, fixação e limpeza da prótese”, destacou.

Custo alto

Para a vendedora Aparecida Lima, 35, o que mais dificulta o cuidado com os dentes é a questão financeira. “O custo de um tratamento dentário não é barato e falta acesso pela rede pública de saúde. As pessoas vão postergando o tratamento e chegam a um momento em que têm que tirar tudo”, afirma ela, que também sofre com a perda da dentição.