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Caros internautas,

O Brasil é um pais complicado, de difícil compreensão.

Há pouco mais de seis meses, o céu caiu em Santa Catarina. Foi uma das piores tragédias vividas por aquele estado.

O país ficou chocado com tanta tristeza, lama, lamentos. Famílias inteiras tiveram as vidas ceifadas.

A fúria das águas também foi cruel com o destino de muita gente, às vezes deixando um sobrevivente em cada família, talvez para narrar o horror.

O Brasil inteiro foi solidário. Surgiu uma enorme corrente de “SOS Santa Catarina”, como nunca visto. Aqui em Brasília, em muitos órgãos públicos, escolas, associações, paradas de ônibus, voluntários se juntavam, numa corrente de ajuda, em busca de doações de roupas, colchões, comida, água.

E foi assim de norte a sul do país. Uma mobilização gigantesca em todo o Brasil, que foi preciso a Defesa Civil pedir para não mandar mais doações.

Então, pensei comigo. “Cara, não tem povo no mundo mais solidário que nós. Só uma tragédia dessa é capaz de medir o tamanho do coração brasileiro”.

E continuo pensando assim.

Porém, algo está me cutucando.

Estamos diante de outra tragédia. Agora quem pede socorro são os irmãos do norte.

E o que é pior. Lá o estrago é vasto e gigantesco. Mais de um milhão de pessoas atingidas!

Porém estamos de costas para os nossos irmãos do Norte e do Nordeste…

Vou explicar e explicarei com números:

População atingida em Santa Catarina: 50 mil pessoas
População atingida no Norte: 1.150.900 pessoas

População desabrigada em Santa Catarina: 25 mil pessoas
População desabrigada no Norte: 196.365 pessoas

Vítimas fatais em Santa Catarina: 24
Vítimas Fatais no Norte: 37

Estados atingidos: 01 (Santa Catarina)

Estados atingidos: 12 (Alagoas,Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco,Puauí, Rio Grande do Norte, Sergipe, Acre, Amazonas, Pará)

A diferença em números é incomparável.

Agora, troque os números pela quantidade de pessoas que estão angustiadas, sem casa, sem comida, sem água, sem roupas… e isso há quase um mês…

Pois bem, quantas campanhas foram feitas pelas redes de televisão? Por Ana Maria Braga, por Datena, por Luciana Gimenez?

Quantas vezes o Jornal Nacional já foi apresentado de Manaus, de Belém, de Imperatriz, palco das maiores tragédias?

Quantos órgãos públicos ou escolas você tem visto em campanha “SOS Nordeste”, “SOS Norte”, “SOS brasileiros do norte”? algumas, poucas, nenhuma?!. Comparando-se ao “SOS Santa Catarina”, muito pífia. Nada de mobilização.

Quantas vezes o presidente Lula sobrevoo a região? Para ser sincero, não li notícia alguma. E as verbas de emergências? Você viu quanta burocracia? Precisou o Governador do Piauí vir a Brasília estender o pires.

A pergunta é obvia. E a mídia tem culpa nisso? claro que tem. A mídia é por si mobilizadora; ela é formadora de opinião.

Ela faz as pessoas pensarem no problema. Ela faz o assunto ser discutido. Ela é quem diz em que você deve ou não falar no seu dia a dia; em que você deve ou não pensar.

É, mas a nossa mídia é sulista. Os grandes veículos estão no sudeste ou no sul do país. E preferem assistir os seus problemas.

Veicular as notícias de seus umbigos ou das agências de notícias, que são mais fáceis de serem compradas, como as pautas da gripe do porco ou suína (como queiram) e, que afinal, se revelou mais uma gripe comum e talvez menos mortal do que as que nós estamos acostumados.

Mandar equipes jornalísticas para a Amazônia custa caro. Fazer notícia lá é mais oneroso do que em Santa Catarina. Seria apenas isso ou lá no fundo se teria um quê de discriminação contra os nortistas??

Tem uma teoria jornalística/européia, que fala de valor-notícia, que diz que um operário inglês vale mais do que 40 trabalhadores chineses. Que 300 mortos em Mogadíscio valem menos do que 10 mortos nos arredores de Lisboa para poder virar notícia.

Estou começando a pensar que isso também vale para nossa mídia. Desculpe a sinceridade e parafraseando o Lula, quantos brasileiros “cara de índio” vale um de olhos azuis do sul do país?? Quantos nordestinos e nortista têm de morrer para que essa tragédia possa virar notícia de fato e mobilizar para ajudar???

Mas nós também somos culpados. Não é só a mídia. Falta-nos iniciativas, ações individuais que gerem ajuda. Preferimos ler as notícias pela pelos jornais, vê-las na televisão, acomodados em sofás. É mais fácil.

Claro que quando vemos as imagens, nos incomodamos, nos lamentamos, sentimos pena e piedade.

Mas minutos depois, aquilo foi apenas uma notícia de um lugar distante.

Somos um país complicado. Será mesmo que somos tão solidários como dizemos?

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