Cobra raríssima é encontrada por pesquisadores em expedição na Serra do Tombador, em Cavalcante (GO)

Conhecer mais sobre a distribuição e a presença de diferentes espécies em determinada região é fundamental para traçar ações de proteção de áreas estratégicas.

É por isso que a realização de expedições em campo é tão importante.

Exemplo disso foi o trabalho feito por pesquisadores durante 40 dias na Reserva Natural Serra do Tombador, na cidade de Cavalcante, em Goiás, uma unidade de conservação de 9 mil hectares no bioma Cerrado.

Nesse período, os pesquisadores registraram 755 animais, entre eles, 34 espécies de anfíbios e 40 espécies de répteis.

O foco deles era justamente em répteis (lagartos, serpentes, jacarés e tartarugas) e anfíbios (sapos, rãs e pererecas).

E muitas das espécies observadas são consideradas bastante raras. Apenas um ou dois indivíduos foram avistados durante todo o trabalho.

Uma dessas raridades é a Apostolepis sanctaeritae, uma cobra vermelha com a cabeça branca e preta, popularmente conhecida como “falsa coral“. A cobra não é venenosa.

“É uma espécie muito rara, muito pouco comum em todos os estudos. É difícil ser encontrada no campo e há pouco material conhecido em coleções científicas, então certamente é um animal raríssimo”, diz o biólogo Reuber Brandão, integrante da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN), professor de manejo da fauna e áreas silvestres da Universidade de Brasília (UnB) e responsável pela expedição.

Essa serpente é endêmica do Brasil, ou seja, só existe em nosso país e em nenhum outro lugar do mundo. Já foi observada nos estados de Goiás, Minas Gerais e Mato Grosso.

Ela possui dentes inoculadores de peçonha na parte posterior da boca.

Mas apresenta um temperamento tranquilo, não oferecendo risco aos humanos. Como se conhece pouco sobre seus hábitos, acredita-se que se alimente de pequenos vertebrados, incluindo répteis e até, outras cobras.

Outro animal que chamou a atenção dos pesquisadores durante a expedição foi o sapo Rhaebo guttatus. Originário do bioma amazônico, quando ele se sente ameaçado, lança um veneno amarelado por glândulas localizadas em suas costas, bem próximo dos olhos.

Segundo estudos anteriores realizados com a espécie, o veneno não chega a matar o seu predador, mas apenas cegá-lo por alguns dias.

“Foi uma grande surpresa encontrá-lo na reserva. Isso mostra que a região da reserva é importante do ponto de vista biogeográfico porque abriga elementos da fauna do Cerrado e da Amazônia”, ressalta Brandão.

Ele explica que ao norte o Cerrado faz divisa com uma vasta área da Amazônia, onde há grandes extensões dos rios Araguaia e Tocantins. Isso acabou criando condições climáticas apropriadas para que esses animais de influência amazônica encontrassem um habitat mais ao sul.

“Não esperávamos ver esse sapo numa área tão no meio do Cerrado, mas ele pode ocorrer ali com frequência”, afirma.

A Reserva Natural Serra do Tombador é uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) administrada e mantida pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza. Ela não é aberta à visitação pública, mas apenas a profissionais que realizam trabalhos científicos.

“Os resultados mostram que áreas protegidas conseguem cumprir sua missão de conservar uma fauna tão importante e rara do bioma”, reforça André Zecchin, biólogo e coordenador da Serra do Tombador.

Segundo maior bioma do Brasil, o Cerrado é reconhecido como a savana com a maior biodiversidade do mundo. Ocupando quase 25% do território brasileiro, é chamado de berço das águas, já que nele estão localizadas a bacia hidrográfica do rio São Francisco e três aquíferos – Guarani, Bambuí e Urucaia.

Infelizmente, assim como a Amazônia, o Cerrado sofre com o desmatamento.

Segundo levantamento divulgado no começo de fevereiro pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), em 2022, 16,3 milhões de hectares foram queimados no Brasil e 95% dessa área estava nesses dois biomas (leia mais aqui).

Mais sobre os resultados da expedição que contou com a participação de cerca de 20 profissionais do Instituto Boitatá de Etnobiologia e Conservação da Fauna estão detalhados nesse artigo científico na revista científica Arquivos de Zoologia, do Museu de Zoologia da USP.

Com texto do Conexão Planeta

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