Tupi-Guarani: o que há de comum entre Campos Belos (GO) e Nuporanga (SP)?
O que tem em comum entre as cidades de Nuporanga (SP), norte de São Paulo, e Campos Belos (GO), nordeste de Goiás? Os índios e o tronco linguístico tupi-guarani.
Nuporanga faz parte da Região Metropolitana de Ribeirão Preto (RMRP), uma das regiões mais ricas do país e possui 7.500 habitantes.
Já Campos Belos está no nordeste de Goiás, a região mais pobre do estado.
Apesar da distância e do contraste econômico, ambas são irmãs, possuem o mesmo nome, porque Nuporanga, em tupi-guarani, significa Campos Belos.
A cidade de Nuporanga (SP), fundada em 1837 recebeu vários nomes como Arraial da Desidéria, Vila do Espírito Santo de Batatais, Freguesia do Espírito Santo, Município de Espírito Santo.
Até que em 9 de setembro de 1861 passou a ser chamada de Nuporanga (Campos Belos em Tupi-Guarani).
A economia do município é baseada na agricultura, como o cultivo de café, soja, cana-de-açúcar, dentre outros produtos.
Já Campos Belos (GO) é município desde 1954, no entanto, a primeira povoação é de 1883, quando Ciríaco e Guilhermino doaram uma gleba de terra para a formação de um patrimônio, além de construírem uma capela no local. Sua economia é baseada na criação de gado e do comércio e serviços.
A língua e os índios
A cultura tupi-guarani é formada pelas contribuições dos povos indígenas que falam essa língua. Isso se deve ao fato de que o termo tupi-guarani não designa uma nação específica.
Pelo contrário, trata-se de uma expressão genérica que contempla um variado grupo de línguas indígenas encontradas na América do Sul.
O tupi diz respeito à língua Tupinambá, que era falada pelas comunidades indígenas existentes no Brasil quando o território foi colonizado pelos portugueses. Guarani, por sua vez, é a língua falada pelas nações que são encontradas na Argentina, Paraguai, Bolívia e Brasil.
Desse modo, para se falar em cultura tupi-guarani é preciso recorrer a diversas fontes históricas e documentais que possam dar conta dos modos de vida, crenças e costumes desses povos.
Nesse sentido, é importante ressaltar que os guaranis que vivem no território nacional se dividem em guarani-kaiowá, guarani-ñhandeva e guarani-m’byá.
E apesar de possuírem mesma origem histórica, linguística e cultural, esses povos possuem especificidades no uso da língua, práticas religiosas e uso de tecnologias para se relacionar com o meio ambiente.
A relação com a natureza na cultura tupi-guarani
De modo geral, é possível dizer que os valores presentes na cultura tupi-guarani não são totalmente distintos daqueles que são encontrados em outras populações indígenas.
Nesse sentido, é importante ressaltar a forte relação que essas comunidades possuem com o ambiente em que vivem. Antes da colonização do território nacional, era unicamente da natureza que as comunidades indígenas retiravam sustento, proteção e cura física e espiritual.
Era na natureza que esses povos encontravam alimentos, fosse através da caça, pesca ou coleta dos frutos das plantas conhecidas; artefatos para produção de armas, vestuário, ornamentações e habitações; e também as plantas medicinais que eram usadas no tratamento de lesões e nos processos de adoecimento físico e mental.
Na cultura tupi-guarani, a relação com o meio ambiente também estava intrínseca ao âmbito religioso. Isso porque um traço da cultura indígena no Brasil é o xamanismo.
Esses povos realizam práticas de cunho etnomédicos, religiosos, mágicos e filosóficos que têm como central a conexão entre os animais, as plantas e o próprio homem. Nessa perspectiva, são realizados processos de cura, transe, transmutação e contato entre corpos e espíritos. E a figura do pajé é central para condução desses processos.
Inclusive, é principalmente por conta dessa intrínseca relação com a terra que, desde o período colonial até os dias de hoje, os indígenas enfrentam uma série de violências cometidas pelos não-índios.
Na história do povo Guarani, a exploração da erva-mate, a criação de gado, o cultivo de soja e da cana-de-açúcar aparecem como os principais elementos que colocam sua cultura e modo de vida em conflito com os interesses econômicos adotados pelo país.
A mitologia
A cultura tupi-guarani também é permeada por um conjunto de mitos a partir dos quais podemos observar como se dão as relações espirituais das comunidades indígenas com as forças da natureza. Essas crenças foram subalternizadas pelos povos europeus durante o processo de colonização e usadas pelos jesuítas para estabelecer conexões com a fé cristã e, assim, impulsionar o processo de catequização. Entre os personagens que integram a mitologia tupi-guarani estão:
Nhanvecuruçu – é considerada a entidade mais antiga do universo, cuja existência precede a própria criação;
Tupã – este teria sido o criador do universo. É considerado o deus do clima e se manifesta através dos trovões;
Jaci – em algumas culturas ela é apontada como esposa de Tupã e teria auxiliado na criação do universo e dos homens, sendo responsável por ter dotado o universo de beleza;
Iara – na cultura tupi-guarani é ela quem protege as formas de vida aquática. Ela é descrita pelos mitos como uma sereia de cabelos verdes que vive no Rio Amazonas;
Caaporã – em muitas narrativas é representado como Caipora ou Curupira. Ele é o responsável pela proteção dos seres que vivem na terra, por isso livra os animais dos caçadores.
A preservação da cultura
Com o processo de aculturação vivenciado pela maior parte das nações indígenas vivendo no Brasil, a preservação da identidade cultural se apresenta como um dos grandes desafios. No processo de tentar garantir que os elementos da tradição sejam perpassados às novas gerações, as escolas indígenas emergem como espaços de fundamental importância.
De acordo com dados do Censo Escolar realizado em 2015, naquele ano o país contava com 3.085 escolas indígenas. Nessas instituições, além de estudarem o currículo nacional comum a todos os brasileiros, os alunos também adquirem conhecimentos específicos acerca da cultura indígena à qual pertence, como a língua, músicas e danças.
Com informações do Educamais Brasil