De Campos Belos (GO), Gabriel Costa, que mora em Kiev, conta detalhes: “Senti muito medo, medo da morte. Caíram muitas bombas”

Gabriel e sua mãe, que mora em Campos Belos (GO)

“Moro ao lado do aeroporto (Aeroporto Internacional de Kiev-Boryspil). Caíram muitas bombas e quando elas caíram, vinham acompanhadas de muita luz, muito barulho, muitas sirenes tocando. Era muita coisa. Me deu muito medo, medo da morte”.

O relato ao é do goiano, de Campos Belos, Gabriel Costa, de 25 anos, administrador de empresas e marketing, que mora em Kiev, na Ucrânia, há três anos. A capital foi alvo de ataques na madrugada desta quinta-feira (24) pela Rússia.

Medo para o jovem goiano e para os familiares que moram em Goiás. “Meus familiares no Brasil estão desesperados. Nunca recebi tanta ligação, tantas mensagens, muitas mensagens pelo Whatsapp. Eles estão bastante preocupados”, detalha.

“Como brasileiro nunca imaginei passar por isso em minha vida, passar por uma situação dessas. Por mais que as notícias falassem de guerra, ninguém realmente sabe o que é passar por uma guerra. Ninguém sabe qual é a sensação. A primeira coisa que senti foi uma ansiedade muito grande e vontade de volta à vida normal”, lamenta Gabriel.

Ela também  que, inicialmente, parte da população não cogitava a possibilidade do início do conflito. 

“O que mais me chamou atenção é que a guerra veio como a Covid-19, 50% da população acreditava na eminência da guerra e os outros 50% não.

Há duas semanas se você falasse: estou deixando o país pois entrará em guerra, a outra metade iria dizer que você é um idiota, não vai ter guerra, e a outra falaria para sair na hora. O que também me chama atenção é que tudo estourou muito rápido.

Ontem à noite estava tudo ok, a gente estava bem, indo tudo bem, relativamente tudo funcionando. Do nada, hoje às 4 horas da manhã, tudo mudou”, diz Costa.

Ele mora há três anos na Ucrânia e trabalha com marketing digital. “Sou funcionário de uma empresa multinacional, ela gerencia ‘influencers’ e espaços em mídias sociais, em diferentes partes da América Latina. Trabalho on-line e agora a empresa está oferecendo ajuda financeira para deixarmos o país. Também deram dias de folgas do trabalho”, comenta.

Porém, os benefícios fornecidos não estão sendo funcionais no país. Segundo Gabriel, os serviços estão parcialmente ou totalmente suspensos.  

“Agora, é uma sensação muito mista: estou vivendo uma experiência única, mas você se pergunta: meu Deus como vou sair daqui? Avião não funciona, carro não funciona (gasolina), não é simples, as coisas básicas não funcionam, cartões não funcionam. Não estou conseguindo usar cartão. É uma sensação de prisão, você sabe que tem dinheiro, mas não pode sair. Tudo gera estresse, ansiedade.

O sistema bancário caiu, pois muita gente tentou sacar dinheiro. Eram filas de duas horas esperando. Então, o governo limitou o valor que pode ser sacado. Outro serviço que deixou de funcionar foi o de ônibus e metrôs. Eram gratuitos, mas agora não estão mais circulando. O trânsito não permite. Também acabou o gás, as pessoas não conseguem abastecer o carro, o gás de cozinha. Saiu uma notícia que estavam economizando para o serviço limitar. A gasolina também está em falta”, relata.

Os serviços públicos e de segurança pública também estão limitados. “Foi anunciado hoje que a polícia só irá atender ocorrências envolvendo morte.

Todos os policiais foram retirados das ruas. Eles foram enviados para o serviço da guerra. Ambulância e bombeiros apenas envolvendo mortes. São serviços públicos que estão sendo lançados à guerra. Estão convocando funcionários para a guerra. Água quente também será limitada, assim como a eletricidade.”

Questionando sobre o comportamento da população em Kiev, Gabriel afirma que as pessoas estão desesperadas, porém, não há caos ou histeria.

“Estou bastante impressionado como as pessoas estão se comportando. Todo mundo está desesperado, mas não é um desespero assim de ninguém sair saqueando lojas, ninguém está roubando ninguém. Por enquanto tudo muito calmo. As pessoas estão tentando aguardar nas filas, no supermercado. Todo mundo educado, respeitando o trânsito. Me chamou bastante atenção que, mesmo em um estado de emergência, estão tentando o máximo possível de calma.”

População de outros países estão se oferecendo para a guerra

“Outra coisa que me chamou atenção foi que existem pessoas vindo de outros países. Armênia, Turquemenistão e outros… pois querem participar, matar pessoas, participar de uma guerra. Existem caravanas de pessoas, de civis, vindos de outros países para participarem.

O governo dando arma para eles. Acabou de sair um comunicado que qualquer ucraniano que queira lutar, será suprimido com armas.

Apoio da Embaixada Brasileira

Sobre o apoio da embaixada brasileira, Gabriel comenta que não há muito o que o governo possa fazer, mas que estão enviando orientações aos brasileiros que estão no local. “A embaixada está fazendo um serviço maravilhoso, mas eles não estão conseguindo dar conta da demanda. Estão pedindo paciência, para esperar. Não tem muito o que fazer, pois não existe permissão da entrada de nenhum carro, nem avião, não podemos viajar ou passar pelo espaço aéreo ucraniano, mesmo de civis. O que eles estão tentando é orientar, conversar.

Mesmo assim está vindo um fluxo grande de brasileiros, que nem eu sabia que eram tantos vivendo na Ucrânia. Eu conheço brasileiros aqui, temos grupo de whatsapp com vários brasileiros que eu conheço. Brasileiro casados com locais, não é o meu caso. Estamos descobrindo vários brasileiros hoje também”.

Guerra na Ucrânia

Vladmir Putin iniciou ataques militares no leste da Ucrânia na madrugada desta quinta-feira (24). Explosões foram registradas em diversas cidades do país. Ainda nesta quinta, agências internacionais informam que a Rússia lançou uma invasão total, pelo mar, ar e terra. 

Autoridades informaram que pelo menos 50 soldados russos morreram e seis aviões também russos teriam sido destruídos. Ao menos 40 soldados ucranianos teriam morrido. Porém, não há confirmação oficial até o momento.

Jogadores brasileiros pedem ajuda
Trancados em um hotel em Kiev, jogadores brasileiros que atuam em clubes ucranianos gravaram vídeo na madrugada desta quinta-feira (horário de Brasília).

Fonte e texto: O Popular

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