Por causa da “quarentena”, muita gente já não tem dinheiro para comprar alimentos
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Quer sorvete, meu filho?”, pergunta José Maria, de 65 anos, a todos os pacientes que entram e saem da Unidade de Pronto Atendimento da Lapa, na zona oeste de São Paulo.
Parte do grupo de risco do covid-19, o vendedor afirma não ter medo de contrair a doença e que não lhe sobram muitas opções senão trabalhar todos os dias.
“Pelo menos, por causa desse vírus aí que eu nem sei falar o nome, os ônibus estão vazios.
A rotina de Perus até a Lapa acontece de segunda-feira a sábado. Aos domingos, ele conta, José vende tempero baiano no bairro em que mora. “O senhor é baiano, José?”, pergunta o UOL.
O motivo da falta de visita à cidade natal é claro: José perdeu a mãe aos sete anos e, desde então, tudo perdeu a graça. “Se minha mãe fosse viva, ela estaria aqui comigo.
Por causa disso, o vendedor alterna o local das vendas todos os dias. Fica no hospital até as 14h e, a partir das 15h, faz suas vendas na Rua Cerro Corá, também na Lapa. “Fico andando para lá e para cá na Cerro Corá até a noitinha. Aí tento ganhar mais dinheiro”.
Poucos meses atrás, o cearense intercalava a venda de sorvetes —hoje, os sabores que se aninhavam no carrinho eram açaí e graviola—, com o trabalho de pedreiro. No entanto, além de duas lesões no joelho, José descobriu esporão nos dois calcanhares.
Para caminhar, ele investiu R$ 65 reais em um chinelo de borracha, ao qual ele acoplou um saltinho de plástico, na tentativa de amenizar a dor. “A gente vai dando um jeito, né, só não pode parar”.
Texto e fonte: Agência Folha