Análise: Moro enterra governo, dá senha para impeachment de Bolsonaro e vira candidato
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Se a demissão do ministro Luiz Henrique Mandetta da Saúde indicava a exaustão de meios políticos do governo Jair Bolsonaro em meio à pandemia do novo coronavírus, a saída de Sergio Moro da Justiça e Segurança Pública enterra de vez a gestão que assumiu o país há exatos 480 dias.
Moro saiu atirando, abrindo na prática o caminho para um pedido de impeachment do seu ex-chefe.
Moro apontou “interferência política na Polícia Federal”, rompendo a promessa de autonomia e “carta branca” que lhe havia sido dada ao aceitar o cargo no fim de 2018.
Não é apenas uma acusação que implode uma das fundações do edifício do bolsonarismo: é a insinuação de um crime de responsabilidade que pode embasar, de forma bastante objetiva, um pedido de impeachment contra o ex-chefe.
Uma estocada dura em Bolsonaro foi a citação de Moro ao fato de que, quando era o terror do PT e aliados como juiz da Lava Jato, a PF foi mantida sem interferência, por virtude republicana ou pressão da sociedade.
Em uma tacada, Moro subiu no caixote da Lava Jato como discurso para sua eventual candidatura a presidente em 2022 e deu munição para ser protagonista do processo de adiantar a mudança na titularidade do Planalto. De uma forma ou de outra, é candidato com discurso pronto.
“Sempre estarei à disposição do país”, foi a senha final, um clichê clássico. Moro sai do governo e entra na faixa de eleitorado de Bolsonaro e de presidenciáveis como o governador paulista, João Doria (PSDB).
Sobrou até para a indiferença aos aspectos humanos da pandemia demonstrados por Bolsonaro, com a referência de Moro aos 407 mortos pela Covid-19 registrados na quinta (23) no país. O ex-ministro já havia se declarado a favor do isolamento social combatido pelo então chefe.