Covid-19 tira a vida da vibrante Dona Idalha, aos 74 anos
Morreu ontem (23), vítima da Covid-19, Idalha Marinho dos Santos, aos 74 anos.
Dona Idalha, como era conhecida em Campos Belos (GO), nasceu em Ponte Alta (TO), quando ainda pertencia ao estado de Goiás.
Ainda criança, mudou com seus pais para Arraias (TO), também Goiás, e pouco tempo depois, aos 9 anos de idade, voltou a se mudar em 1955.
Desta vez, para a cidade vizinha de Campos Belos (GO), chamada na época de “Almas”.
Sua vida foi marcada por uma luta árdua e exemplar. Em Campos Belos, cresceu, viveu e casou-se.
Com o marido Domingos Marinho teve 9 filhos, que, ainda pequenos, sofreram com o abandono do próprio pai.
Mulher negra e abandonada pelo marido, caiu numa luta homérica para cuidar e zelar de sua família.
Por cerca de 35 anos trabalhou no Hospital Municipal de Campos Belos (GO), com ingresso na época da gestão de Domingos Cardoso, onde prestou seus briosos serviços por quase quatro décadas.
Bastante conhecida na cidade por sua bravura, solidariedade, bondade e profissionalismo, logo também foi prestar seus serviços na Casa de Saúde Nossa Senhora da Conceição, um hospital privado. Lá foi copeira e trabalho nas lavanderias.
Dignidade
Com um gigantesco coração, criou outros filhos, por adoção, principalmente sobrinhos e quatro dos sete netos.
“Guerreira e incansável” são os adjetivos que mais lhe apelidaram.
Para aumentar a renda da família, dava seus “pulos”. Lavava roupas para diversas família e alugava um quarto de sua residência para terceiros. Nunca desistiu, apesar das adversidades.
“Não se casou novamente, pois dizia que dedicou a vida aos filhos e aos netos”, conta uma de suas netas.
Dos sete netos, os acima de 18 anos estão todos formados e com curso superior. Ela tinha ainda três bisnetos.
Entre os 9 filhos, está o carismático “Carabina”, que há anos luta contra uma feroz dependência química do álcool. Mas ela, mãe incansável, sempre lutou para o seu bem-estar e nunca desistiu dele.
Covid
No dia 9 de março passado, Dona Idalha testou positivo para a Covid-19 e a família não tem a mínima noção de como ocorreu a contaminação.
Segundo a família, ela era extremamente cuidadosa com os procedimentos contra a Covid. Não abria portão para ninguém, borrifava álcool 70 e água sanitária em qualquer coisa. Mas a vacina não lhe chegou a tempo.
Num primeiro momento, foi internada na Casa de Saúde, hospital privado onde trabalhou por anos a fio. Estava bem e se queixava apenas de fraquezas.
Mas, de repente, seu quadrou piorou rapidamente e ela começou a sentir intensa falta de ar. Seus pulmões foram comprometidos em cerca de 80%, o que obrigou a sua transferência para a unidade sentinela, no aguardo de um leito mais apropriado para o quadro.
Como não há UTIs em Campos Belos, os médicos decidiram por transferi-la para um leito na capital. Conseguiu-se uma vaga no Hospital Ruy Azeredo, em Goiânia, onde ficou internada por mais de 20 dias na UTI, sem intubação.
Mas ela não respondia ao tratamento e seu quadro foi se agravando cada vez mais. Os médicos decidiram por entubá-la, quando ficou mais 12 dias em situação de coma induzido.
Após esse período, o protocolo médico requereu um um procedimento de trasqueotomia (abertura de um furo na garganta, por onde entra uma mangueira para levar oxigênio aos pulmões)
Mas ela não suportou nem sequer mais 12 horas. Morreu na manhã desta sexta-feira (23), para o desespero e desconsolo de todos.
O corpo dela chegou em Campos Belos (GO) na manhã de hoje, onde rapidamente foi sepultada no cemitério local.