Rodeio: diversão ou maus tratos aos animais?



Por Jéssica Ferrari* 


“Alô
meu povo! Na batida da mão, no gingado do pé. Grita as crianças, gritas os
homens e também grita as muié.” (Marco Brasil)



Os
versos entre uma montaria e outra são rotinas para os locutores de rodeio. 



A
voz forte e as palavras rápidas, misturadas a músicas com batidas animadas,
arrancam gritos de milhares de pessoas, que todos os anos vêem as festas de
rodeio como opção de lazer e diversão, no Brasil ou no exterior.

Animação, luzes, bebidas, disputas e efeitos especiais compõem a mistura
explosiva das festas de peão. 


As atrações também incluem lindas mulheres, que
concorrem a vagas de rainha e princesa do rodeio, shows com artistas
consagrados e competições de várias modalidades, que parecem deixar o público
em êxtase!



A cidade brasileira mais famosa quando se fala nesse assunto é com
certeza Barretos. 



Ela faz parte da história das festas, como a sede da primeira edição do evento,
e serve como referência para todos os eventos do país, como o rodeio de Itu (SP). 



O nervosismo é grande e o público ansioso. Os olhos atentos parecem ajudar a mão a segurar firme no laço. 


De repente os ferros se abrem e a emoção pula na pele, deixando nítida a sensação de adrenalina que misturada aos gritos do público, faz do rodeio um esporte, um modo de vida.


Por outro ângulo


Por
outro ângulo, a corda aperta. A visão, por entre barras e pernas, faz o coração
disparar e os nervos aflorarem. 



O espaço é pequeno e às vezes parece faltar ar.
A arena à frente representa liberdade, mas não explica o que há de se pagar,
nem quantos pulos terá que dar.



Todo
o espetáculo das festas de peão, organizado para atrair e vislumbrar os quatro
sentidos humanos, não são atraentes e nem prazerosos para os principais
“atores” do evento, os animais!



 “Ainda que, em alguns rodeios não se usem
instrumentos que provoquem dor, como as esporas, só o fato de se colocar
animais de hábitos diurnos em ambientes barulhentos, cheios de luzes, em
corredores apertados e, depois, um ser humano sobre eles, é uma agressão
evidente”, afirma o ambientalista e coordenador do movimento que virou lei,
“Sorocaba sem Rodeio”, Gabriel Bitencourt.



A
polêmica dos maus tratos a bois, touros e outros bichos utilizados em festas
consideradas culturais, retrata outro ângulo, talvez não conhecido ou refletido
por quem frequenta esses eventos. 



Materiais como o conhecido sedém, são apontados como causadores de dor e sofrimento aos
animais. 



Já pesquisas feitas pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) garantem que ele não machuca os bichos


Mas não ficam só nos
objetos os diversos maus tratos expostos pelos defensores dos animais. 



O
transporte estressante e doloroso dos mesmos, o abate sem piedade e as
competições de laçadas são atitudes que demonstram que algo está muito errado
nesse tipo de “lazer” humano.



“O
rodeio é uma forma antiga e cruel dos seres humanos se relacionarem com os
animais. 



Uma forma de quem os vê como meros seres objetos, feitos apenas para
suprir as necessidades (comida, vestuário, entretenimento….) dos humanos.”,
explica Bitencourt.



Outras
festas parecem ser ainda mais cruéis, como no caso das “touradas” na Espanha. 



A
disputa sangrenta normalmente acaba com o touro caído, cheio de lanças,
enquanto o heróico toureiro recebe aplausos da platéia. 



Mas será que para se
divertir as pessoas precisam mesmo usar os animais? 



Para Bitencourt, por mais
que se diga que as touradas representam algo importante para o turismo, para a
economia e que é expressão da cultura espanhola, ela é uma das formas mais
cruéis e covardes de “diversão”.



Sua covardia é tanta que há cada vez mais
pessoas que “torcem pelo touro”.



No
meio de tanta tecnologia e opções de diversão, talvez seja preciso olhar por um
outro ângulo para os bichos. 



Eles são seres que podem beneficiar e muito os
humanos, tanto que a relação homem – animal avançou e os transformou em “membros” da
família. 



Também não podemos esquecer que foram as pessoas que invadiram o
território deles e transformaram seu modo de vida. 



Utilizá-los apenas para
arrancar gritos de um público faminto por lazer, não deve ser uma maneira certa
de recompensá-los, não que isso seja preciso. 



Afinal, o ser humano é capaz de
se divertir sozinho, sem sofrimento, sem polêmica, nem aplausos.





* Publicado originalmente no site Itu.com.br



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