Um grito de socorro da Escola Agrícola de Arraias


“É
impressionante como certas coisas acontecem tão de repente em nossa vida e ameaçam
levar embora sonhos e perspectivas de toda uma trajetória alicerçada com lutas,
conquistas, garra e muita coragem, minando a capacidade de visão e atravancando
os passos de forma a comprometer a história de toda uma história construída com
os esforços de uns, a contribuição rica e sincera de outros.

Mais
lamentável ainda  é imaginar como algo
tão imprescindível em nosso sistema de governo, como a política, pode se mostrar
tão insensível diante de realidades tão sublimes como a da Escola Agrícola David
Aires França, de Arraias do Tocantins. 

Lugar onde residem vidas  que não almejam tão somente um cantinho seguro
 que os permitam ser e viver, se  descobrirem como pessoas,   dotados
de capacidades especiais para construir um novo jeito de caminhar num contexto tão
adverso do qual vieram.

Apresentamos
com isso, o nosso pequeno mundo. 

É assim que gostamos de chamá-lo. Tal qual o
mundo recontado no Ateneu de Raul Pompéia, com o diferencial de que não é
composto por personagens, mas com gente de verdade

Um laboratório
humano, vivo, com um caráter formador e polidor do menino-homem, com gente que
trabalha, que estuda, que luta, que vence que suporta, que inventa, reinventa,
recria, que aprende de um jeito diferente, aprende a fazer, fazendo!      
     
Onde se
aprende muito mais do que regras gramaticais, conceitos matemáticos, signos ou
convenções linguísticas, máximas filosóficas ou coisa e tal.  

Lugar onde o filho chora e a mãe não o vê. Onde
chora o choro dá dor, da separação, do crescimento, do descontentamento, da
maturidade, do despertar pra vida… 

O choro que lava a condição do velho homem
e faz brotar o sorriso da construção de um novo ser, com novas perspectivas,
descobridor de capacidades tais que, de outra sorte, talvez  nunca seriam descobertas.


Isso porque no
interior dessa pequena representação de mundo interagem crianças, adolescentes,
jovens e adultos de vários lugares, com diferentes costumes e culturas,
realidades das mais diversas e adversas, construindo de tal forma, uma grande
família, a super FAMÍLIA AGRÍCOLA!
Personalidades que se fundem, favorecendo um cenário multicor belíssimo bem propício
à aprendizagem. 

Gente pequena que ao transpor os portais da escola trazem como
despojo apenas a esperança de algo que lhes devolva a fé na vida e restitua a
vontade de ser e viver, que com o acolhimento necessário, se transformam em
verdadeiros gigantes.

Infelizmente,
esse nosso universo, ora se encontra ameaçado pela doação de toda área escolar
e patrimônio da Escola Estadual Agrícola David Aires França para o Campus da
Universidade Estadual do Tocantins da – UFT, sem uma prévia consulta aos
interesses da comunidade local.  E o
motivo? Contenção de gastos. 

E quem paga por tal contenção? Adolescentes e
jovens de toda região sudeste do Tocantins, alunos da Escola Agrícola, que na
maioria dos casos tem nesta instituição a única oportunidade para conclusão da
Educação Básica, o aprendizado de uma profissão e perspectiva de um futuro
digno.  

Em pensar que tanto dinheiro
público escorrendo pelo ralo da corrupção, dos grandes paraísos fiscais, nos
salários ostentosos dos nossos governantes, da criminalidade… e a
solução  encontrada  para tanto é justamente essa? 

É importante
salientar que a permanência de instituições educacionais com este foco, nada
mais é do que a correção de uma dívida social que o Brasil tem há  mais de cinco séculos para com os seus filhos.

Os alunos e
servidores da Escola Agrícola vivem hoje um momento de consternação total com a
possibilidade do fim de seu funcionamento. 

Ao longo dos seus 25 anos  de história, a escola funciona em regime de
internato e semi-internato atendendo aproximadamente 200 alunos da comunidade e
regiões circunvizinhas, ofertando a segunda fase do Ensino Fundamental e o
Curso Técnico Agropecuário Integrado ao Ensino Médio. 

Realidade essa que além
de proporcionar melhor envolvimento com as práticas de ensino aprendizagem,
representa também maior distanciamento desses jovens do mundo das drogas e da
criminalidade. Inúmeros são os depoimentos de jovens que passaram pela escola e
tiveram o seu futuro transformado.

 Diante de tal situação, fica visível a
demagogia dos discursos eleitoreiros em prol da educação. 

Os resultados das
avaliações externas dizem que a educação vai mal. 

Mas algo tratado com tanto
descaso pode vir a ter algum resultado satisfatório? Não seria necessário maior
investimento, a princípio, na educação básica ao invés de minar as práticas bem
sucedidas que  já existem?

Nesse sentido nós,
equipe da Escola Estadual Agrícola David Aires França, manifestamos aqui o
nosso posicionamento e indignação contra essa decisão de nossos governantes. 

Insensíveis
seríamos se não nos mobilizássemos diante desse disparate, pois  trabalhamos diretamente com as vidas que serão prejudicadas com esse
interdito e sabemos o valor que representa o resgate de cada uma delas, são
pelas  nossas  mãos que elas recebem todo apoio que precisam
para se reafirmarem na vida e temos a certeza e a convicção de que a nossa escola
funcionando tal como ela é, representa o ideal de educação que queremos para
nossos alunos.

Por isso,  somos mais ESCOLA AGRÍCOLA, sempre!!!”
Assina: Equipe Escola Agrícola
  

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