Agenda Setting: imprensa esquece problemas de infraestrutura da Copa do Mundo, pelando de medo da mobilização popular


Dinomar Miranda, 


Caros leitores, vocês não têm estranhado a falta de notícias e informações sobre os atrasos nas obras da Copa do Mundo, no superfaturamento de estádios de futebol, nas acusações de desvios de verbas públicas para a consecução do grande evento internacional? 


Notou que isso era quase um cotidiano nas coberturas dos grandes jornais e portais do país, até bem pouco, antes da Copa das Confederações, em junho passado? 


Pois é, desde então, sumiram, entraram no limbo, as notícias e reportagens referentes a estes assuntos.


O que está ocorrendo? 


Penso aqui, na minha incredulidade. Será que, num passe de mágica, resolveram-se todos os problemas de infraestrutura das cidades-sede?  


E os estádios- problemas, como a Arena Pantanal, em Cuiabá (MT)? Tudo foi resolvido? E as obras do metrô de Salvador? finalizaram? 


Nada, caro leitores. O silêncio eloquente é resultado das manifestações de junho passado, quando milhões de brasileiros foram às ruas protestarem contra a malversação do dinheiro público, contra a corrupção e a má prestação dos serviços públicos em todos os entes e cantos da federação. 


Ocorre, amigos, que a turba de gente que foi às ruas assustou muita gente. Políticos, principalmente, e aqueles que detêm o Poder, como os empresários da mídia, que controlam, à mão de ferro, a circulação das informações em nosso país. 


Quando estudamos  jornalismo, lá nos bancos da universidade, tomamos conhecimento de uma das teorias mais clássicas do controle da opinião pública: a teoria do agendamento. 


 A Teoria do Agendamento ou Agenda-setting theory, no original, em inglês, é uma teoria de Comunicação formulada por Maxwell McCombs e Donald Shaw na década de 1970. 


As ideias básicas da Hipotese do Agendamento podem ser atribuídas ao trabalho de Walter Lippmann, um proeminente jornalista estadunidense. 
Ainda em 1922, Lippmann propôs a tese de que as pessoas não respondiam diretamente aos fatos do mundo real, mas que viviam em um pseudo-ambiente composto pelas “imagens em nossas cabeças”. 


A mídia teria papel importante no fornecimento e geração destas imagens e na configuração deste pseudo-ambiente.


Ao estudarem a forma como os veículos de comunicação cobriam campanhas políticas e eleitorais, Shaw e McCombs constataram que o principal efeito da imprensa é pautar os assuntos da esfera pública, dizendo às pessoas não “como pensar”, mas “em que pensar”. 


Geralmente se refere ao agendamento como uma função da mídia e não como teoria (McCombs & Shaw, 1972).


Trocando em miúdos. A sociedade é agendada pelos assuntos colocados em pauta pela mídia (jornais, TV, rádio, Portais). As pessoas e as instituições públicas e privadas só discutem e põem em evidência aquilo que é destaque na mídia naquele momento.  


Por exemplo, alguém se lembra de como a sociedade discutiu o contexto e as consequências do buraco na camada de ozônio?  


O tema foi agendado pela imprensa e sociedade reagiu. As  escolas, inclusive, puseram-se a discutir e o tema chegou ao Congresso Nacional. 


No entanto, desde que a mídia silenciou-se a respeito, o tema raramente é discutido no âmbito da opinião pública. Até parece que o problema foi resolvido. Mas nada, como todos sabem, o perigo continua lá estratosfera. 


Voltando para as manifestações de ruas, boa parte das pessoas foram impulsionadas a saírem do comodismo pelas reiteradas noticias sobre a corrupção, o desvio de verbas públicas e má condução das obras de infraestrutura para a Copa do Mundo. 


Prometeram-nos um  verdadeiro canteiro de obras e, pouco menos de um ano para o vento, quase nada tinha mudado em nossas cidades (continua assim). E a sociedade reagiu. 


Ao perceberem que o agendamento tinha saído do controle, principalmente em virtude do uso massivo das redes sociais, os donos da informação resolveram mudar a estratégia. 


Afinal, até eles sofreram com as dezenas de episódios de depredação de veículos e de agressões aos jornais e meios de comunicação. 


Qual a saída, então, para quem tem medo da opinião pública e da mobilização das massas?


Simplesmente resolveram não mais falar a respeito de qualquer problema relacionado à Copa do Mundo. 


E se há o silêncio da mídia, não há um agendamento da opinião pública. E o tema deixa de ser importante e não é mais discutido. 


Bela saída. Pelo andar da carruagem, é bem pouco provável que a sociedade novamente se mobilize para voltar às ruas como fez  há cinco meses, na histórica mobilização popular. 


Não há clima, porque não há agendamento dos assuntos. 


Resta agora à sociedade perceber a jogada e usar o poder das mídias sociais para não cair na armadilha do esquecimento…

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