Espiral do silêncio: O contraditório silêncio verde e amarelo



A espiral do Silêncio existe e é um fenômeno forte e atuante na sociedade. 


Recentemente fiz uma abordagem muita lida sobre essa teoria de Elisabeth Noelle-Neumann aqui no Blog. 


Leia – Complexo do Alemão: Tropa de Elite influencia, espiral do silêncio é quebrado, mídia muda de lado

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Publicado Originalmente em O Globo 


Ser publicamente a favor da Copa cria dificuldades. Você passa, então, a pegar carona nas opiniões contrárias, porque socialmente esse é um posicionamento mais aceitável


A informação de que uma parte considerável de cariocas aprova a Copa do Mundo e, mais do que isso, que pretende torcer pela seleção revela algo curioso. Muitos poderiam dizer contraditório. 


Como pode a aprovação de 45,4% em meio a protestos contra o evento na cidade? E por que o alto desejo de torcer ainda não se traduziu num retumbante clima festivo nas ruas, praças e bares como vimos nos preparativos de outras Copas?


Proposta por Elisabeth Noelle-Neumann nos anos 70, a teoria da espiral do silêncio, muito usada em análises de comportamento da opinião pública em períodos eleitorais, oferece pistas sobre o que se passa no Rio. 


A espiral do silêncio inicia-se quando grupos organizados conseguem dominar o debate no espaço público, contribuindo para a proliferação de que determinada percepção é predominante e socialmente mais aceita do que outra. Não vem ao caso discutir se são ou não legítimas as manifestações, ou mesmo se têm ou não representatividade, mas sim tentar entender os números da pesquisa.


A ideia do predomínio de uma determinada percepção, ainda mais de algo com forte apelo moral como críticas à corrupção e a cobrança por melhores serviços públicos, amplia-se por contágio. 


Imagine que você adore futebol, Copa e seleção brasileira, mas, no bar que você costuma frequentar, há um sujeito, muito bem articulado, disposto a falar, em alto e bom som, somente das críticas à preparação do evento. Ele usa argumentos que lembram as nossas péssimas condições na educação, saúde, entre outros. Você muda de bar e, nesse segundo, mais críticas. 


Pela televisão, vê o início de manifestações pelo país e até atos de violência. Conclusão a que você e muitos outros chegam: se posicionar publicamente a favor da Copa é algo que me coloca em dificuldades. Você, e até aqueles que não tinham uma ideia muito clara sobre o assunto, passa então a pegar carona nas opiniões contrárias, porque socialmente esse é um posicionamento mais aceitável. 


Entre futebol e melhores escolas, socialmente é mais admirável quem aposta na segunda ideia. Mas por que isso? Porque poucas são as pessoas que se dispõem a encarar o custo de um debate ou de uma exposição nessas condições. 


É muito mais caro sustentar publicamente uma ideia quando do outro lado, segundo a sua percepção, há não apenas maior volume de argumentos, mas argumentos moralmente aprovados por todos. Ninguém quer ter uma opinião isolada. Desse modo, a melhor estratégia é mesmo silenciar o que você pensa e sente verdadeiramente em relação à Copa.


Isso não significa dizer que você é mais favorável ao Mundial do que a melhorias na educação. Significa simplesmente que você, privadamente, não trata essas ideias como excludentes. Mas, publicamente, é melhor tratar assim. Diante desse quadro, como o silenciamento da opinião pró-futebol, pró-Copa, é identificado? 


Esse fenômeno é identificado quando você, anonimamente, precisa revelar a um pesquisador de um instituto se aprova ou não a Copa ou se deseja muito torcer pela seleção. Não há risco de ser moralmente reprovado por seu grupo de amigos e familiares. 


Desse modo, o comportamento tende a ser: na rua, todos os gritos contra, inclusive, com pouca decoração verde e amarela; na vida privada, no entanto, uma torcida para que tudo corra bem, e que a Copa traga algum átimo de felicidade.


Fábio Vasconcellos é jornalista e cientista político

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