Encontro em Alto Paraíso (GO). Um alerta foi feito: é preciso conservar as sementes tradicionais



Por Magali Colonetti,


Na mitologia Krahô a estrela mulher Catxêkwyj é a responsável pelas sementes da terra. 


Com o tempo muitas dessas sementes se perderam por alguns motivos, entre eles a falta de terra produtiva. O costume nômade dos indígenas foi podado ao terem que ficar em terras demarcadas, impedindo migrar para terras boas depois de usufruir de uma outra. 


Para completar, em algumas aldeias os jovens deixaram de plantar. E com a necessidade de ter as sementes da Deusa novamente, o povo Krahô pediu ajuda a Terezinha Dias na Embrapa iniciando assim um resgate importante na plantação dos alimentos tradicionais de muitos povos. 


História essa contada na roda de prosa da tarde deste domingo. 


Terezinha foi quem iniciou o papo sobre a conservação de sementes tradicionais e crioulas, extrativismo sustentável e segurança alimentar de povos indígenas. Segundo ela, a busca pela preservação de sementes tradicionais é uma questão de política pública. 


Atualmente são 200 mil tipos de sementes espalhados pelas sedes da Embrapa e disponíveis para que o plantio das mesmas seja feito. “A gente só muda os costumes a partir de uma demanda popular. Procurar a Embrapa quando uma semente acabou é um serviço e divulgação do uso da instituição que precisa ser mais divulgado”, comentou. 


E foi nessa busca do povo Krahô que surgiu a troca de sementes em 2007 e desde então eles realizam uma feira em suas terras todo mês de setembro do ano. 


Outras etnias aderiram a ideia na sequencia e houve o retorno da troca de sementes entre os povos. Um costume que se perdeu ao longo dos anos devido à distância territorial entre as aldeias. 


“Quando eu era criança minha avó contou sobre as sementes antigas que minha aldeia perdeu. Eu pensava onde encontrar essas sementes. A Terezinha que contou tudo pra mim e falou sobre a feira dos Krahô”, contou o Cacique José Guimarães Sumené Xavante. 


Atualmente eles também realizam sua feira de trocas e estão em constante busca das sementes tradicionais. “Eu fiz reunir a comunidade porque não posso olhar comida no mercado. 


Não tenho grana pra isso e são comidas de branco. Não faz bem, não me da a força que preciso. Eu vou trabalhar junto com a comunidade, não posso ficar quieto”, completou. 


“A semente que nós pegamos não é de hoje, nem de ontem… é da mulher estrela. Não dá para adubar alimento sagrado. Nós não plantamos para revender no mercado, nós plantamos para ter o alimento suficiente até a próxima safra”, contou o cacique Getúlio Krahô.


 Ele terminou sua fala afirmando que todos nós formamos o povo da terra sagrada e que nós fizemos esse intercâmbio de sementes. 


Toda ajuda é bem-vinda


Enquanto a prosa acontecia, uma feira de troca acontecia. Tudo arquitetado pelo projeto Raízes das Imagens que surgiu ao trabalhar com oficinas de vídeo nas aldeias. 


Durante as conversas viram o problemas que aconteciam pela falta de sementes tradicionais nas aldeias que passavam. Também observaram a falta de conhecimento em técnicas de plantio. 


Dessa necessidade surgiu o projeto Multiplica para buscar conscientizar no auto-reflexo do valor da tradição que essas sementes carregam. 


Assim o grupo começou a passar por comunidades agrícolas, principalmente os novos rurais que hoje investem no plantio consciente, passando as sementes para quem quer ajudar a criar um banco de sementes na terra. 


Para reforçar a importância da semente na cultura dos povos, a etnia Krahô demonstrou uma das danças feitas na Festa da Batata. Essa é a festa da semente e é uma festa sagrada. 


Realmente a questão de plantio e regaste de sementes tradicionais é uma das principais questões do povo indigina atualmente. 


Fonte, texto e fotos: Encontro de Cultura de Povos Tradicionais 

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