Teresina de Goiás, o outro lado da Chapada dos Veadeiros
Por Fernando Lana,
O Nordeste Goiano, em especial a região da Chapada dos Veadeiros viveu séculos de isolamento até o seu renascimento, iniciado nas décadas de 80 e 90, com a chegada do asfalto nas rodovias de acesso, telefone e mais recentemente, da telefonia celular e internet.
Esse isolamento, juntamente com terras pouco produtivas barrou o desenvolvimento assim como a chegada da modernidade e dos recursos e facilidades encontrados em regiões mais desenvolvidas do estado.
Porém, esse mesmo isolamento preservou uma beleza natural paisagística sem igual no estado, preservação essa reforçada com a criação do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros em 1961 e sua implementação e abertura à visitação no início dos anos 90.
Desde então, as primeiras localidades a se beneficiarem com a chegada do ecoturismo foram o Povoado de São Jorge, por ser o portal principal de entrada ao parque e Alto Paraíso de Goiás, que atraiu pessoas de todo o mundo em busca de um local com águas a ares puros e uma vida pacata, além das relações místicas com a região.
Por ter sido o local onde tudo começou e por ter sido pioneiro nas capacitações necessárias para o desenvolvimento das atividades turísticas, Alto Paraíso se tornou mais conhecido e referência para o ecoturismo no Brasil e no mundo.
A partir de 1995, jovens empreendedores deram início ao processo de capacitação e adequação do município de Cavalcante às atividades turísticas, devido à sua grande beleza natural à cultura e tradição dos Kalunga cujas comunidades abrangem um imenso território deste extenso município, chamado município-mãe, do qual se originaram Colinas do Sul, Alto Paraíso e Teresina de Goiás.
Colinas do Sul, por sua vez, se destacou com o turismo náutico e pesca no Lago de Serra da Mesa, mas também tem outros atrativos bastante interessantes que devem der trabalhados, como cachoeiras e fontes termais, além da rica cultura local, especialmente a tradicional Caçada da Rainha.
Em 2001, foi criada a Reserva da Biosfera de Cerrado GOYAZ, pelo Governador Marconi Perillo e a UNESCO, tendo como metas que o desenvolvimento de atividades sustentáveis, entre elas o ecoturismo, a valorização da cultura local e a criação de áreas protegidas particulares, as RPPN´s – Reservas Particulares do Patrimônio Natural. Foi também criado o primeiro roteiro integrado da Chapada dos Veadeiros, os Caminhos da Biosfera.
Com o programa de Roteirização do Ministério do Turismo e SEBRAE/GO, foi elaborado o roteiro “De Brasília à Chapada dos Veadeiros” de 2005 a 2006, com produtos turísticos eco-culturais “das curvas de Neimeyer ao adobe Kalunga”, tendo o município ficado fora desse processo.
A antiga Vila de Santa Tereza se emancipou de Cavalcante em 1988, sendo então denominada Teresina de Goiás.
Sua pequena sede está situada ao longo da GO – 118, entre as cidades de Alto Paraíso – o coração da Chapada, e a histórica Cavalcante – o sol da Chapada. Teresina é discreta, pouco notada, apenas uma pequena e bucólica cidade.
Não é antiga como Cavalcante nem cosmopolita, como Alto Paraíso de Goiás. Teresina é uma cidade pacata de 2.900 habitantes, onde todos se conhecem e se cumprimentam.
O movimento começa logo cedo, por volta das 6 da manhã, com as crianças e jovens indo à pé para a escola e as portas do comércio local já se abrindo. Em suas ruas planas, pessoas andam sem pressa, com a calma peculiar da região e todo o tempo do mundo.
Os esparsos pedestres dividem a rua com bicicletas e cavalos e seus condutores. O trajeto demora sempre mais que o previsto, já que os diversos encontros são recheados de uma boa prosa e muito bom humor.
Por esses motivos, tem-se a impressão que, em Teresina de Goiás, todo dia é sábado! Nunca está corrido, nem parado demais.
Considerada a cidade mais segura do estado, não se tem notícias de crimes, roubos nem assaltos. Nas suas ruas se caminha despreocupado e distraído com os jardins, quintais repletos de pés de manga, caju, acerola, goiabas e coqueiros, galos a cantar e galinhas com pintinhos.
Nesses quintais, ruas e praças arborizadas, pássaros diversos como canários, sabiás, pássaros-pretos, tucanos e araras fazem a algazarra diária.
São poucas as cidades onde um cachorro pode dormir no meio da rua e não ser importunado.
Bem próximas, cachoeiras e rios cristalinos ainda desconhecidos dos visitantes da Chapada se escondem entre as serras, em locais de nomes interessantes, como Custa-me-ver, Tapa Ôlho, Ponte de Terra, Engenho, Ema e Diadema, Abobreira, Ourominas, dentre outros. A cachoeira mais famosa é o Poço Encantado, mas muitas outras como a Três Degraus, o Cachoeirão e algumas ainda sem nome podem ser visitadas e outras serão ainda descobertas, pois são milhares as quedas d´água da Chapada.
Há também inscrições rupestres de baixo relevo em diversos pontos do município.
Situada entre as Serras das Araras, Boqueirão e Boa Vista, seu belo horizonte e suas veredas de Buritis molduram um céu azul e noites estreladas.
Vida tranquila, bancos à sombra das árvores das ruas, pessoas proseando e observando quem passa.
Seu povo pacato herdou muito da cultura Kalunga que ainda permanece forte na zona rural, principalmente dentro do Sítio Histórico e Patrimônio Cultural Kalunga, que ocupa quase metade do município.
O caju, fruta símbolo da cultura local, está presente por todos os lados, seja nos quintais ou nos campos cerrados, onde predomina o Cajuí, o cajuzinho-do-cerrado tão abundantes nos pés de serra!
Nos cerrados, árvores repletas de frutas nativas como a mangaba, a cagaita, o murici, o jatobá, o baru e palmeiras diversas, como o buriti, a macaúba, a pindoba e a guariroba, complementam a dieta dos moradores e trazem novidades para a gastronomia goiana.
Seu povo religioso mantém as tradições das Romarias, Folias do Divino, de São João, de Reis e rezas em louvor a diversos santos com lindos cânticos. Algumas ainda são rezadas em latim e todas comemoradas no final com farta refeição de confraternização de todos presentes.
Na Reza de São Lázaro no povoado do Engenho, após as orações e os cânticos, a refeição é servida aos cachorros e só depois os convidados se servem, por ser São Lázaro o santo protetor dos cachorros.
Na Ema, Diadema e Ribeirão, comunidades Kalunga dentro do Sítio Histórico e Patrimônio Cultural Kalunga, 300 anos de história de africanos escravizados refugiados e isolados nos grotões e vãos das serras é repassada aos seus descendentes, influenciando toda a cultura e o modo de vida local.
Chamada carinhosamente de Tereza por seus moradores, Teresina de Goiás hoje sendo incluída no processo turístico, desponta como o nova estrela nas entre serras da Chapada dos Veadeiros, mostrando seu lado sertanejo, kalunga, belezas intocadas e a alegria de um povo guerreiro que sobreviveu às diversidades por longos anos.
Um novo horizonte para os visitantes e ecoturistas sempre em busca de novidades, Teresina de Goiás é o outro lado da Chapada dos Veadeiros.
Fonte: Fernando Lana
Consultoria Cultura, Turismo e Meio Ambiente