Entrevista: Raquel Lima, um dos principais nomes dos “Sem Terras” em Goiás, diz que a união entre o Agronegócio e o pequeno produtor será uma exigência
Por Elias Alves,
Faltam exatos treze dias para o fim do prazo estipulado pelo Juiz Federal Eduardo Cubas, que determinou a saída, pacifica, do “povo sem terra” das fazendas Cerrado, Fazendinha, São Pedro, Isabel e Cachorro Morto.
Repórter: Raquel, no limiar do prazo de vencimento de uma ordem judicial, qual a expectativa hoje dos acampados, afetados pela decisão da justiça, na região de São d’Aliança?
Raquel Lima: O processo de aquisição das terras no Estado do Paraná está bem avançado, a questão da posse da terra nada interferi em sua aquisição.
Para o Incra, isso acaba por favorecê-los, pois antes tinha o compromisso da compra de 5 fazendas no valor de mais de 49 milhões, agora ficou mais fácil. São apenas duas e se torna mais viável diante da realidade política e social.
Repórter: Você entende realmente que o INCRA cumpre sua função social ou é um mero “vendedor de sonhos”?
Raquel Lima: Sim o Incra cumpre. Atender às diferentes demandas sociais e aos grupos de interesse envolvidos no espaço rural exige um grande empenho e tempo.
Mesmo com o esforço de muitos Diretores do Incra e também da Ouvidoria Agrária, a política transforma tudo isso em massa de manobra. Precisamos de governantes que estejam compromissados com o povo durante seus quatro anos de liderança e não somente em seu ano eleitoral.
Necessitamos da verdadeira reforma agrária no campo! Hoje o povo brasileiro sonha com seu pedaço de chão e muitos necessitam da terra para sobreviver, mas a realidade vivida em acampamentos é que ainda existe uma grande quantidade que mancha esta visão. O fato de não se organizarem para plantar e comprovar que é do campo dar-se a conotação de estão ali para fazer chácaras de lazer. Se você não vai exercer a função de agricultor
Repórter: No inicio das ocupações em São João d’Aliança, a maioria da população apoiou o movimento, hoje já existe certa aversão, a que você atribui essa mudança de comportamento?
Raquel Lima: Uma pergunta bem capciosa. Talvez tudo tenha se dado através da falta de caráter e ostentação por parte da liderança de Hugo Zaidan.
A partir do momento que foi escandalizado e exposto seu envolvimento com várias mulheres acampadas, que chegou a culminar em um filho com E.N., isso trouxe o início do descredito para aqueles que respeitam sua família e a moralidade.
Outro ponto foi o pensamento de rivalidade com o agronegócio, afinal, em 2050 serão 9,1 bilhões de pessoas no mundo, 34% a mais do que hoje, sendo 70% será urbanas.
Repórter:– O que você pode relatar de aprendizado ao longo de sua vida de luta?
Raquel Lima: Respeito, coragem e dor. Devemos promover a coragem onde há medo, promover o acordo onde existe conflito, e inspirar esperança onde há desespero. “Nelson Mandela” Respeito para com o povo.
Repórter:– Em relação à população de São João d’Aliança, o que você tem a dizer?
Raquel Lima: Somos nós os atores para a transformação, acreditem no potencial da agricultura familiar da região, lutem por estas terras que já pertencem à vocês e aprendam a cobrar com União por seus direitos.
Repórter: Nas eleições passadas, você chegou a ensaiar uma entrada na política, ainda existe futuramente essa possibilidade?
Raquel Lima: A eleição passada trouxe o novo para São João D´aliança, acredito muito nas novas expectativas e propostas de boa parte vereadores.
Repórter: Qual o momento mais tenso, já vivido por você na sua história de luta, sobretudo em São João d’aliança?
Raquel Lima: A desocupação do acampamento Cerrado com a queima dos barracos e a perseguição por parte do Major Belelli.
Repórter: Uma grande alegria e uma grande decepção que você tem a registrar como mulher?
Raquel Lima: Alegria: Saber que estou no caminho certo, que posso contribuir para luta e o sonho de muitos. Hoje sou reconhecida a nível nacional na luta da mulher do campo e pretendo fazer muito mais ainda. É melhor morrer na luta do que morrer de fome! Decepção: Meu companheiro.
Repórter: – Qual o compromisso de Raquel Lima com os acampados hoje?
Raquel Lima: Estou com o projeto da mulher do campo com a cooperativa CATITU e com a ANU– Ação Nacional Unificada.