Reportagem da Agência Pública diz que criação de bois faz município de Aurora (TO) ter poluição de grande metrópole

Nas margens do rio Sobrado, a chácara Curva do Rio Presente de Deus Família Feliz, no município de Aurora do Tocantins (TO), é cercada por terras de grandes fazendeiros produtores de gado que chegaram principalmente a partir da década de 1980.

A família de nove pessoas que vive ali, numa pequena propriedade, se sustenta trabalhando nos abates. Os miúdos ganhos no corte da carne bovina das grandes fazendas são, muitas vezes, o alimento disponível para eles. 

“Estão querendo ir lá no rio agora? É que tô indo lavar o bucho, e o cheiro não é muito agradável”, disse Aloisia Amorim, 54 anos, conhecida como dona Ló, enquanto equilibrava um tacho com cerca de 40 metros de tripa de boi em cima da cabeça. A sobrinha-neta, Lávia, de 12 anos, a acompanhava com uma peça de 7 quilos do abdome do animal pela ribanceira. 

As partes da cabeça do boi são aproveitadas no preparo da carne de panela. Dos pés escaldados, tiram-se os cascos e o couro para fazer caldo de mocotó.

O bucho, depois de um longo processo de lavagem, escaldações e raspagem, é cozido com caldo e servido com arroz.

Os intestinos bem limpos são recheados com carne de porco, galinha ou boi para produção de linguiças. Depois de pelo menos um dia de trabalho, as entranhas e extremidades do animal são totalmente aproveitadas para alimentar a família.

Dona Ló, com metade das canelas molhada, lavou as tripas cuidadosamente para não furá-las. Lávia entrou de corpo inteiro no rio, mexendo o rúmen de um lado para outro. A peça de bucho flutuava e a água levava parte dos odores e impurezas das vísceras rio abaixo.

O mesmo fogão a lenha que cozinha o feijão para o almoço é o que ferve a água para escaldar o bucho e os pés. “Gás tá caro”, diz dona Ló. Criada na roça, dona Ló aprendeu o ofício com a mãe, que fazia a limpeza das vísceras ganhas pelo pai, trabalhando nos abates das grandes fazendas da região. Aos 17 anos, ela precisou cuidar dos irmãos sozinha quando perdeu os pais.

Muitas vezes deixou de comer o que seus patrões ofereciam para alimentar os irmãos. Lávia, agora destímida, conta que gosta de comer galinha, arroz, bala, fruta. Não é muito chegada em vegetais.

A menina lembra, com um sorriso que antecede a fala, que ama churrasco. É sua comida preferida, apesar de não ser um prato frequente para eles.

A reportagem é da jornalista Giullia Vênus, com fotos de Juliana Uepa.

Leia a íntegra da reportagem na Agência Pública

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