Documentário celebra cineasta Vladimir Carvalho

Homenagem acontece no Cine Brasília, com entrada franca

São 88 anos de vida, sendo mais da metade deles dedicados à enigmática arte de contar histórias por meio da lente das câmeras, sempre ouvindo pessoas e projetando sonhos nas telas do cinema.

Para celebrar o aniversário do mestre Vladimir Carvalho e exaltar o homem e seus feitos, na arte e na vida, será exibido na próxima terça-feira (31), no Cine Brasília, às 18h30, o longa O Cinema Segundo Vladimir Carvalho. A entrada é gratuita.

O título do filme-homenagem, dirigido por Maria Maia, é um trocadilho afetuoso com O Evangelho Segundo Teotônio (1984), um dos trabalhos mais célebres do documentarista.

Com produção da TV Senado, o projeto conta com depoimentos de Gilberto Gil, dos cineastas Orlando Senna, Dácia Ibiapina, Sérgio Moriconi e Walter Carvalho – irmão de Vladimir -, entre outros.

“Ele é a unanimidade que a gente sempre almejou dentro da arte no DF. Todas as homenagens e vida longa ao Vladimir de Carvalho”, exalta o secretário de Cultura e Economia Criativa do DF, Bartolomeu Rodrigues, que é ex-aluno do mestre.

Com quase 20 obras no currículo, entre curtas, médias e longas-metragens, além de um vasto sentimento do mundo nas costas – como diria o poeta Drummond -, Vladimir Carvalho representa muito para o cinema documental e para a cultura do DF.

“O filme resgata a importância de Vladimir como maior cineasta documentarista vivo, juntando suas experiências de vida com sua obra, que é tão radical”, comenta a diretora Maria Maia.

Também ex-aluno de Vladimir Carvalho na Universidade de Brasília (UnB), o jornalista e crítico literário Sérgio Moriconi, atualmente responsável pela programação do Cine Brasília, destaca que o diretor paraibano de alma brasiliense é um dos precursores do Cinema Novo, uma das mais importantes correntes cinematográficas do país e do mundo.

“O Vladimir formou toda uma geração de cineastas criados na cidade, é o mestre da primeira geração de cineastas de Brasília”, lembra Moriconi. “Ele é o nosso cineasta de referência, é um pioneiro e uma das sementes da cinematografia documental do Brasil, do Centro-Oeste e do DF”, avalia.

DEVER CUMPRIDO

Paraibano de Itabaiana, Vladimir Carvalho aprendeu a gostar de cultura, cinema e artes em geral por influência do pai, Luiz Martins.

Como morava numa cidade que ficava em um entroncamento ferroviário, era aquele garoto que esperava ansioso a chegada do trem com os filmes que iriam ser exibidos no cinema da cidade.

Sua primeira experiência cinematográfica foi marcante, assinando o roteiro de um dos marcos do cinema regionalista brasileiro, o curta-metragem Aruanda (1960), de Linduarte Noronha, de quem foi assistente de direção. Na sequência, dirigiu os curtas Romeiros da Guia (1962) e A Bolandeira (1967), obra-referência para o movimento cinemanovista.

Em Brasília, o primeiro trabalho seria o contundente documentário Vestibular 70 obra que registra a rotina e angústia dos estudantes durante a realização das provas para ingressar na instituição.

Na direção do trabalho contou com a parceria de Fernando Duarte, falecido na última terça-feira (24).

Incansável, Vladimir é ainda diretor de grandes clássicos do gênero do cinema verdade, como O Homem de Areia (1982), Conterrâneos Velhos de Guerra (2001), Barra 68 (2000) e o marcante O País de São Saruê (1971), este último proibido de ser exibido na edição daquele ano do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.

O episódio, aliás, culminaria com a proibição da realização do evento pelos três anos seguintes, só retornando em 1975.

Ao projetar os olhos no retrovisor do tempo, Vladimir Carvalho faz um modesto balanço de sua trajetória singular marcada por um cinema social impactante e terno.

“Falar de si mesmo é mais condenável que falar dos outros”, brinca. “Mas gosto dos meus filmes, sinto-me com o dever cumprido”, resume.

SERVIÇO:

Exibição do filme O Cinema Segundo Vladimir Carvalho, de Maria Maia

Terça-feira (31/01), às 18h30

Local: Cine Brasília

Entrada Franca

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