De gari analfabeto a delegado de polícia do estado de Goiás. Conheça a nova autoridade policial de Campos Belos (GO)

Todos nós temos nossas histórias pessoais de vida e ela diz muito do que somos e de como nos comportamos como profissional, como cidadão, como ente de uma família.

Há, entretanto, histórias lindas, principalmente de superação que nos faz entender porque o ser humano, apesar de muito vacilo, é um ser incrível, capaz de superar obstáculos até então ditos impossíveis.

E quem tem uma história linda de vida, digna de exemplo, é o novo delegado de Campos Belos (GO), Jiovane Policena de Freitas.

Ele chegou há pouco tempo na cidade para chefiar a delegacia, no lugar do delegado Carlos Eduardo.

Mas a história de vida dele é fantástica, merece o nosso respeito, consideração e tem que ser divulgada para que todos na cidade saiba sua história de superação e de seu profissionalismo.

De origem muito pobre, praticamente analfabeto até aos 23 anos, venceu todos os obstáculos e se tornou delegado de polícia do estado de Goiás no ano passado.

Jiovane Policena nasceu numa fazenda de Pirenópolis (GO) e, aos três anos, se mudou para Redenção, no Pará, onde tudo começou.

Na vida dura do Pará, ajudava seu pai na lide com uma carroça e, criança, capinava lotes para particulares em troca de um pouco de dinheiro.

Na labuta diária, por anos a fio, o pequeno Jiovane Policena  passou a maior parte de sua adolescência ajudando os pais e seus irmãos com o sustento da família.

O jovem precisava trabalhar para colocar comida na mesa. Essa era a realidade. Aos 17 anos, passou a ocupar a função de coletor de lixo da cidade onde morava.

Sim, gari. O Dr. Jiovane foi gari.

“Minha realidade era trabalhar para ajudar com as despesas de casa. Isso ocupava todo o meu tempo e disposição. Faltavam recursos às vezes e não tínhamos o que comer em casa. Mas vivíamos acobertados pela boa estrutura familiar”, relembra.

O delegado conta que sempre teve vontade de estudar e se destacar prossionalmente, mas o trabalho era até mais importante do que os estudos, devido às condições financeiras da família.

Mas quando completou 23 anos de idade, tomou uma decisão. Era hora de quebrar aquele ciclo de pobreza e de ilimitadas necessidades básicas. Era hora de trilhar seu futuro.

Praticamente analfabeto, sem contar nem mesmo com o ensino fundamental, teve a iniciativa de começar os estudos de forma independente, em sua própria casa, durante o pouco tempo de descanso que lhe sobrava.

“Fiz a prova de supletivo do MEC;  fui aprovado e recebi meu diploma do ensino fundamental.

Continuei os estudos em casa e também fui aprovado para o ensino médio. Às vezes virava noites estudando, mesmo sabendo que precisaria acordar cedo para o trabalho”, conta.

Após receber o diploma do ensino médio, Policena foi aprovado no vestibular da Universidade Federal de Tocantins (UFT), para o curso de engenharia de alimentos.

O curso exigia presença em período integral, o que acabou acarretando em sua desistência, já que precisava continuar trabalhando para prover seu próprio sustento.

Após desistir da engenharia de alimentos, Jiovane prestou vestibular para o curso de direito, também na UFT, onde concluiu com êxito a faculdade enquanto morava com seu irmão, em Palmas (TO).

O delegado relembra que sempre teve vontade de estudar e se destacar prossionalmente, mas o trabalho era até mais importante do que os estudos, devido às péssimas condições financeiras da família.

“Com cerca de três meses após o início do curso de direito, passei em um concurso de nível médio e, então, as finanças começaram a melhorar. Quase me acomodei com a situação de estabilidade, mas logo retomei meus objetivos e continuei a estudar”, lembra o delegado.

Ao longo de quase dez anos, Jiovane continuou trabalhando e estudando com o objetivo de se tornar delegado de polícia. Fixou essa ideia na cabeça e correu atrás do seu sonho. Em 2018, foi aprovado e começou a atuar em 2021.

Hoje é a autoridade máxima da Polícia Civil de Campos Belos (GO).

Para Policena, a família foi sempre o principal incentivo para seu desenvolvimento, por ter crescido em um ambiente amoroso, com cuidados e responsabilidades.

“Apesar de pobre, minha família sempre foi bem estruturada. Eu e meus irmãos tivemos um amparo familiar muito importante. Meu pai e minha mãe nunca tiveram vícios, eram receptivos, responsáveis e cuidadosos, sempre fomos uma família saudável. O apoio da família foi indispensável para o meu crescimento”, reconhece.

Com todas as dificuldades e contratempos, o delegado não desistiu.

Ele lembra que as dificuldades existem e que precisam de soluções. Na visão de Jiovane, o concurso público é a principal ferramenta de democratização.

“Por esse meio, o pobre também pode alcançar os melhores cargos públicos , crescer prossionalmente e ter sucesso. Independente da condição financeira, raça, cultura ou gênero, o que manda é o esforço. Venho de origem humilde, sou negro de família pobre, não teria chegado até aqui se não fosse por meio do concurso público”, destaca.

O delegado, que traz uma história de vida de superação, faz questão de evidenciar que qualquer pessoa pode conseguir o que quiser, desde que se esforce para isso e corra atrás de seus objetivos.

Editado por Dinomar Miranda, via Revista do Sindpol-GO

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